A morte da geração esquecida

 A morte da geração esquecida

João Paulo Marrocano

*João Paulo Marrocano

À medida que a idade da democracia avança na sua maturidade, reduz-se a esperança de vida terrena para aquela franja da população que é simultaneamente a mais, ou única, prejudicada, do 25 de Abril de 1974.

Falo naturalmente daqueles a quem ainda hoje chamamos de retornados.

Está a desaparecer fisicamente aquela geração de meninos, adolescentes ou de homens feitos que cruzou os mares revoltos da vida, e partiu em busca de um porto seguro nos territórios ultramarinos.

Foi uma geração que se fez ao trabalho, procurando longe, o que a pequenez, nem sempre física, do território continental não oferecia.

Saídos de Portugal levando na bagagem apenas esperança e determinação, a Portugal tiveram que regressar, à pressa, obrigados a deixar para traz todos os seus pertences, todos os sonhos de uma vida, agarrados apenas a uma determinação e esperança férrea.

Vítimas de um processo de descolonização, que os tratou como cúmplices da ditadura Salazarista, chegaram a um país que já não era a sua pátria.

Tratados pelo poder político como um “activo toxico” indesejado, foram sempre esquecidos pelos sucessivos governos, num país envergonhado do seu legado histórico.

Todavia, Portugal deve muito do seu desenvolvimento a esta gente de mãos calejadas pelo trabalho e espírito impregnado de empreendedorismo, numa dinâmica jamais sonhada pelo poder político ou pelos catedráticos de economia.

50 anos depois da tentativa de implantação de um regime socialista, com a destruição, por via da nacionalização, de todo o aparelho produtivo do nosso país, estes homens e mulheres remaram em sentido contrário, criando milhares de empresas de pequena e média dimensão que transformaram em definitivo o tecido empresarial português.

50 anos depois do início deste ciclo, basta estarmos atentos para percebermos as dezenas de empresas existentes ainda aos dias de hoje, fruto da vontade férrea desta geração esquecida.

Com determinação em sobra ao que faltava em capital, construíram todo o tipo de empresas e negócios. Fabricas de matérias de construção civil, fabricas de produtos alimentares, metalomecânicas, comércios, ópticas, funerárias, explorações agrícolas de nível superior, etc, etc, constituindo-se indiscutivelmente no maior motor de desenvolvimento económico do Portugal contemporâneo.

Num tempo de discussão ideológica, em que se debate se o mais importante na história foi o 25 de Abril ou 25 de Novembro, continuamos a esquecer aqueles a quem devemos a liberdade económica, e que sem ela, de pouco nos serve a liberdade politica.

Fizeram mais por Portugal os milhares de retornados do ultramar que os milhões da comunidade europeia.

Os primeiros fazem tremer de vergonha uma grande parte da nossa classe política por terem existido. Os segundos fazem tremer de medo, com medo que se acabem, todos aqueles que deles alimentam.

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