Um exemplo de vida: ainda há Esperança

 Um exemplo de vida: ainda há Esperança

José Ambrosoli

Maria Susana Mexia, Professora de Filosofia e Antropologia Filosófica

José Ambrosoli nasceu a 25 de Julho de 1923 no Norte da Itália. Formou-se em Medicina e Cirurgia durante os anos conturbados da Segunda Guerra Mundial.

Em Londres, especializou-se em doenças tropicais, porém o seu sonho levou-o para outros horizontes, sentido o chamamento à vocação missionária, entrou no Instituto dos Missionários Combonianos.

Foi ordenado em Dezembro de 1955 e partiu para África um mês e meio depois. Foi enviado para Gulu, no Norte do Uganda, entre o povo Acholi.

Em 1961, foi transferido para a missão de Kalongo, uma vila perdida na savana, no norte de Uganda, para ali administrar um pequeno dispensário médico, que logo transformou num hospital onde serviu como médico-cirurgião por mais de trinta anos.

Aqui também criou uma escola para formar enfermeiras e parteiras, convicto de que aquelas pessoas, com a formação necessária, podiam ser actores do seu desenvolvimento e crescimento.

Em 1984, foi-lhe detectado uma insuficiência renal e aconselharam-no a não voltar a África ou, no máximo, a dedicar-se apenas a tarefas administrativas e a abster-se de fazer um trabalho que ocasionasse um grande desgaste físico, nomeadamente realizar operações.

No entanto, como missionário, tinha claro que fora para África para dar a vida pelos mais necessitados.

Quando a guerra começou, em Janeiro de 1986, no hospital da missão tiveram uma grande afluência diária de doentes, tendo chegado a passar vinte horas na sala de operações e a realizar  ininterruptamente cirurgias.

O ambiente social era muito tenso. Os soldados do Norte, enfurecidos pela derrota, procuravam pessoas do Sul para se vingarem. O hospital estava cheio de ugandeses do Sul que ali tinham procurado refúgio.

Mais de uma vez, Ambrosoli teve de confrontar soldados armados no portão do hospital que queriam entrar à procura de “inimigos escondidos”, mas graças ao seu modo diplomático de agir e o prestígio que tinha junto da população conseguiu impedir uma chacina.

Acusados de colaborarem com as forças rebeldes, os missionários passaram vários meses em prisão domiciliária em Kalongo.

Em Janeiro de 1987, o exército, incapaz de resistir à situação de assédio constante por parte dos guerrilheiros, obrigou todo o pessoal de Kalongo a abandonar a missão.

Depois de percorrer 120 quilómetros numa comitiva vigiada pelos militares, os missionários chegaram à cidade de Lira. Desde então, a única preocupação de Ambrosoli foi encontrar um novo lugar para a escola de parteiras, também para que as alunas não perdessem o ano lectivo.

Depois de um mês de esforços e dificuldades intermináveis, a escola estabeleceu-se na missão de Angal, na região ugandesa do Nilo Ocidental. Quando regressou a Lira, no início de Março de 1987, para organizar a transferência das alunas e das religiosas responsáveis pela escola, a sua insuficiência renal agudizou-se.

Naqueles dias, as irmãs da missão realizaram as terapias que ele mesmo indicava, mas a situação não melhorava. Não havia ali outro médico e o plano era levá-lo até Gulu e depois o transferirem para Itália, porém o seu desejo era ficar entre a “sua gente”.

Ambrosoli serviu os outros sem se servir a si próprio, um homem que deu o que tinha e o que sabia sem esperar qualquer reconhecimento pelo seu trabalho, dedicando a sua vida a servir os mais pobres e abandonados, impressionando pela sua dedicação, mansidão, paciência e bom humor.

O Papa Francisco aprovou o milagre que abriu caminho à sua beatificação no dia 20 de Novembro de 2022, na cidade de Kalongo e o seu processo de canonização está em curso.

De África chega-nos um exemplo de vida, contrastando a “cultura de morte” que vem assolando uma Europa descristianizada, mergulhada num vazio existencial, numa vida sem sentido, cuja ambição é desconstruir e danificar.

Este exemplo de vida aliado a tantos outros que germinam em todo o mundo, mas “não são notícia”, transformam-se em motivos de Esperança.

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