Proença-a-Nova: Memórias do Carnaval na Aldeia de Atalaias

 Proença-a-Nova: Memórias do Carnaval na Aldeia de Atalaias

Nas décadas de 50, 60 e 70 na nossa aldeia de Atalaias, festejava-se o Entrudo, mais tarde designado por Carnaval. A maneira de festejar era completamente diferente do que acontece nos nossos dias. Ainda não tínhamos sido contagiados sobretudo pelos trajes brasileiros.

Na semana que antecedia o Entrudo, rapazes e raparigas escreviam cartas anônimas, cartas essas que poderiam ser uma bonita declaração de amor ou vingança de um amor mal resolvido. Eram normalmente escritas em verso e com rimas deliciosas. Depois o destinatário(a) ficava a congeminar, na tentativa de descobrir quem seria o autor ou autora da poesia.

Também era costume os rapazes da aldeia, durante a noite, fazerem algumas diabruras aos conterrâneos, entre as quais soltar os animais, trocar os animais e bloquear caminhos.

Nem as mulheres mais descuidadas, que não faziam o despejo do cântaro dos dejetos, e os guardavam no quintal para fins de estrumar as terras escapavam. A malandrice dos rapazes consistia em atar uma corda à porta da pessoa visada,de forma que ao abri-la puxava o cântaro de barro que se partia deixando um cheiro horrível à volta da casa.

Chegado o dia de Entrudo, este era dividido em duas partes: o período da manhã era de trabalho no campo e o da tarde preenchido com brincadeira e divertimento.

Os rapazes solteiros encurtavam a manhã e entre as onze e as dezasseis/dezassete horas pegavam num saco de farinha de centeio e percorriam as ruas da aldeia para enfarinhar as raparigas. Tentavam encontrá-las na rua, mas se essa tentativa fracassasse entravam nas casas para as surpreender. As raparigas tratavam de se esconder nos sítios mais improváveis, uma vez que esta brincadeira tinha dois objetivos: enquanto os rapazes pretendiam chegar ao maior número de raparigas, estas procuravam escapar aos seus perseguidores, pois serem enfarinhada era muito desagradável.

No final da tarde rapazes e raparigas encontravam-se na Eira Nova, local onde se realizava o bailarico. De referir que no baile não era permitido enfarinhar ninguém. À vencedora e/ou vencedoras (aquelas que escapavam ao enfarinhamento) era prometido que no ano seguinte levariam com o dobro da farinha, embora isso nem sempre acontecesse.

Era igualmente habitual fazerem desfiles com mascarados (na nossa aldeia dizia-se entrudos). Para tal usavam roupas antigas que retiravam dos baús. Por sua vez, os rapazes vestiam-se de mulher e elas de homem, as caras eram sempre tapadas com máscaras feitas de lenços ou meias… até os burros eram vestidos com calças, casacos e gravata ao pescoço para puxarem as carroças (uma espécie de carro alegórico) que transportava a figura mais importante do desfile (muitas vezes os noivos).

Os entrudos/ mascarados não permitiam que os reconhecessem. De registar que este desfile também terminava no bailarico, mas era normalmente feito no domingo gordo. Dizia-se então, que qualquer rapaz que pedisse namoro a uma rapariga o fazia com a intenção de não cumprir a promessa, razão porque a rapariga mesmo que estivesse apaixonada não deveria aceitar. Nesta época, as raparigas não pediam namoro aos rapazes.

O Luís Fernandes organizou vezes sem conta as celebrações do entrudo, as quais eram feitas com muita arte e imaginação. Com a criação da Associação, o Carnaval é agora organizado pelos dirigentes e sócios, com o Rally Adegas com Matança do Porco que termina sempre com baile de Carnaval.

Os naturais da terra visitam a aldeia, onde se juntam e confraternizam ao som da música das concertinas e à volta de petiscos tradicionais.

Infelizmente a pandemia veio interromper esta e outras festas. Mas voltaremos a encontrar-nos para nos divertirmos e partilharmos as iguarias da nossa aldeia, Atalaias.

*Partilha de memórias escrita pela Filha da terra, Maria Fernanda Antunes, 65 anos.

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