Portugal, Regresso ao Futuro

 Portugal, Regresso ao Futuro

O João Silva há muitos anos que não vinha a Portugal.

Radicado no Brasil desde o inicio da década de noventa do século passado, cedo revelou forte pendor para empreender, começou por adquirir uma fazenda no sertão e investir no negócio do gado bovino, sendo hoje considerado um dos principais fornecedores de carne bovina do mercado interno brasileiro, exportando além disso mais de 50% da sua produção.

Empresário de sucesso, totalmente integrado na sociedade brasileira, onde constituiu familia, nem por isso deixou de acompanhar o que se ia passando na sua terra natal no concelho de Proença-a-Nova, distrito de Castelo Branco.

Ao contrário do que aconteceu na primeira década deste século, cujo grau de desertificação e pobreza se acentuaram dramaticamente, o que o entristecia bastante, agora as notícias que lhe chegavam de Portugal e da sua região natal eram animadoras, o interior do país tinha vindo a beneficiar nos últimos anos de uma nova visão dos poderes públicos, que em aliança estreita com o sector privado e cooperativo, investiram em novas áreas de grande potencial de desenvolvimento económico e social cujos resultados são já visíveis, no aumento do emprego, repovoamento e melhoria da qualidade de vida das populações.

De tal forma as notícias o animaram, que facilmente aceitou o convite do seu primo André Silva, para voltar em Setembro a Portugal e à sua terra.

De facto, a primeira impressão que colhe ao chegar à região de Proença-a-Nova é de grande admiração e espanto, por todo o lado via floresta verdejante e ordenada, de pinheiros, eucaliptos, e de outras especies que nunca tinha visto, entre clareiras bem definidas, ao contrário do que ainda guardava na memória, de floresta queimada e abandonada.

Ao chegar à Sobreira Formosa, logo questiona o seu primo André do porquê de tal alteração e das razões para tanta juventude e animação na sua terra natal.

Ora primo, diz-lhe o André, não é difícil de explicar, mas amanhã quando formos almoçar ao restaurante miradouro da serra dos Alvéolos, que tem uma entrada de bogas de escabeche óptimas e um cabrito estonado divinal, explico-te melhor as razões do nosso desenvolvimento e animação.

No dia seguinte lá foram almoçar ao novo restaurante panorâmico no cume da serra. Confesso-te que estou emocionado, adianta o João para o primo André, logo que chegaram ao terraço e este observa o horizonte e a paisagem deslumbrante que dali se avistava. Não sei se te recordas, adiantou ainda para o primo André, mas no ano que fui para o Brasil, em 1993, passou por aqui um grande fogo, que queimou tudo, até as oliveiras junto às ribeiras não escaparam, foi desolador, e agora é uma maravilha!

Pois é, diz-lhe o André, nessa altura parece que estavamos condenados à miséria e a deixar crescer a floresta para que todos os anos ardesse e os dinheiros públicos fossem gastos em bombeiros e equipamentos de combate a incêndios.

Felizmente que em 2011, o governo saído das eleições, decidiu inverter a situação, tal era a situação crítica do país e aproveitar a maior potencialidade de toda a região centro – a floresta. Agora o resultado é este! e olha, há três anos que não há fogos, adianta-lhe o André.

Então mas como fizeram, para isto estar assim? Pergunta o João Silva.

Infelizmente, por vezes as crises também são boas, responde o André, fazem-nos despertar e encontrar as verdadeiras soluções para os nossos problemas. Afinal, a oportunidade estava ali à mão, e houve coragem politica e visão para conjugar esforços, onde todos os intervenientes, e foram muitos, entenderam que valia a pena alterar o estatus quo, em beneficio duma floresta bem gerida e com boas produções, com grande impacto no ambiente, no emprego e no desenvolvimento económico e social da região centro e do próprio país.

Está bem, mas ainda não disseste afinal qual foi a solução encontrada, onde o minifundio predomina, questiona o João.

É verdade, mas isso não foi problema, remata o André, as pessoas entenderam que o desenvolvimento da floresta, uma das maiores riquezas do país, traz beneficios para todos. O que estava em causa era o interesse público e a qualidade de vida de cada um, para aceitarem a solução proposta pelo governo, e apoiada pelas autarquias envolvidas, empresas privadas e universidades da região.

A solução encontrada para a floresta, caro João, foi a criação de três sociedades de capital de risco, constituidas em 2011, e que dividiram e gerem o parque florestal de toda a área que vai de Abrantes a Castro D’Aire e de Coimbra à Guarda. Aqui, pertencemos à Sociedade “Onda Verde”, constituida pelas entidades que já te referi e pela grande maioria dos proprietários das terras, que participam na sociedade em regra de acordo com a proporção dos terrenos florestais que detêm.

Mas então os proprietários das terras foram obrigados a aderir às sociedades constituidas ? pergunta o João.

Não, não, só participa quem quer, de acordo com a Lei Quadro de 2011. No entanto, se não aderiram foram obrigados a ceder o uso da sua terra de aptidão florestal por sessenta anos à sociedade, a preços relativamente baixos e pagos ao longo dos últimos anos ( há um periodo de carência de pelo menos dez anos).

A verdade é que os proprietários que aderiram manifestam satisfação com o que está a acontecer, já começaram a ter rendimentos do pinhal, e envolvem-se cada vez mais nos negócios das sociedades, que têm vindo progressivamente a criar emprego. Concorrendo também para esse clima favorável, tem sido o aparecimento de novas empresas que de uma maneira ou de outra estão ligadas ao sector das madeiras, das energias renováveis e até da investigação florestal.

Entretanto já só faltava a tigelada para a sobremesa,- as bogas e o cabrito estavam divinais, o João abre os braços como que em concordância com o que tinha ouvido do primo, e exclama o quanto lhe ia na alma, a satisfação por ver as gentes da sua terra a vencer na vida e a serem mais felizes.

Queres acreditar primo, dizia o João para o André, esta visita apesar de curta, representa para mim um ganho de anos de vida. Vou ficar-te eternamente grato. Obrigado por me teres convidado!

Será que podemos todos acreditar que é possível?

Que é possível aproveitar as potencialidades e fazer um país mais desenvolvido e equitativo?

Julgamos que sim, basta lançar mãos á obra!


*Gonçalves André, Administrador Hospitalar, Loures

Para si... Sugerimos também...

Deixe o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscreva a nossa newsletter