“Parece insano, mas resulta!”: A visualização mental ao serviço do desporto e do nosso dia-a-dia

 “Parece insano, mas resulta!”: A visualização mental ao serviço do desporto e do nosso dia-a-dia

imagem retirada de https://blog.ihavethepower.net

Joana Ribeiro

A visualização mental (VM), ou imagética como lhe chamam os investigadores, é uma experiência mental que implica a utilização de vários (ou todos) os sentidos sensoriais para (re)criar uma imagem na mente através de informação que temos e fomos armazenando na nossa memória. Normalmente, esta experiência ocorre sem que haja um estímulo externo e sem que tenhamos de realizar qualquer movimento físico, e por isso muitos psicólogos, treinadores e professores chamam-lhe o “treino invisível”: é possível melhorar a nossa prestação desportiva e/ou pessoal se a treinarmos conscientemente, sem que os outros se apercebam que o estamos a fazer.

O treino desta competência caracteriza-se pela sua facilidade de aprendizagem, de utilização e eficácia e, embora nem todas as pessoas tenham a mesma facilidade, todas têm a capacidade de (re)criar mentalmente situações, gestos, emoções, sensações, e todos conseguirão desenvolvê-la através do treino.

A investigação tem sugerido que, qualquer que seja o objetivo e conteúdo das imagens mentais (re)criadas e independentemente do contexto, o recurso à VM pode ser feito por todas as pessoas, em diversas situações e acarreta várias vantagens: desde a medicina e reabilitação clínica, ao desporto, à docência, às forças armadas e de combate, à música e à arte, à condução, ao seio familiar e social. Esses benefícios poder-se-ão traduzir em melhorias da prestação física (como gestos técnicos de modalidades, gestos cirúrgicos, etc.), no refinamento de estratégias (táticas e sistemas de jogo, estratégias de intervenção com clientes ou em situações de risco, estratégias e planos de condução de veículos, etc.), no controlo dos níveis de ativação, ansiedade e concentração (em momentos de avaliação, por exemplo), e no aprimoramento das capacidades autorregulatórias e de autocontrolo em situações de confrontação e discussão.

Para isso cada um de nós, no ambiente que considerar mais confortável ou mesmo no próprio contexto em que ocorreu(rá) a situação em questão (isolado, ar livre, pavilhão, sala de aula, gabinete, quarto, carro, etc.), deve começar por relaxar (deitado/sentado, olhos fechados/abertos, música, controlo da respiração, meditação, etc.), e limpar a mente abstraindo-se do que não interessa. Subsequentemente, através de guiões escritos, em áudio, em vídeo ou outros, poderá iniciar a (re)criação de imagens mentais daquilo que pretende exercitar e melhorar, atendendo aos detalhes. Importante será que, sempre que não estiver a conseguir visualizar algum aspeto corretamente, volte ao início e retome a (re)criação dessa imagem mental.

É importante sublinhar que esta exercitação mental, tal como todos os tipos de treino, deve ser acompanhada por alguém especializado que possa promover alterações que levem ao aumento gradual da dificuldade e complexidade das imagens mentais de forma a que haja evolução. Assim sendo, a VM será uma técnica que os atletas/pessoas podem utilizar como complemento da sua prestação desportiva e/ou pessoal, tornando-se parte da rotina de treino e/ou diária.

A utilização da VM nos diversos contextos parece, portanto, traduzir-se em melhores resultados do que nenhum tipo de prática, mas por si só não é tão benéfica quanto a própria prática física e real. A (re)criação de imagens mentais não pode, por isso, substituir a prática/experiência efetiva das situações, gestos, emoções, sensações, mas a combinação entre estes dois tipos de prática poderá levar a um desempenho superior.

*Joana Ribeiro é Professora Adjunta e Co-coordenadora da Licenciatura em Desporto do ISCE Douro. Doutorada em Ciências do Desporto – Especialidade de Desporto, Excelência, Bem-Estar e Desenvolvimento Humano, Mestre em Desporto para Crianças e Jovens e Licenciada em Desporto e Educação Física – opção Desporto de Rendimento, pela Faculdade de Desporto da Universidade da Porto. Foi durante muitos anos Professora de Atividade Física e Desportiva de alunos do 1º ciclo do Ensino Básico. É também treinadora de escalões de formação de voleibol.

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