OLEIROS PÁTRIA DE BISPOS DE ANGRA

 OLEIROS PÁTRIA DE BISPOS DE ANGRA
António-Manuel Silva
António Manuel Silva

A notícia “Novo Bispo de Angra é natural de Oleiros” publicada na edição do passado dia 09 de Novembro (p.4) informando que D. Armando Esteves Domingos, natural de Oleiros, havia sido nomeado como 40.º bispo da Diocese de Angra, fez-me lembrar que a mesma diocese já teve por titular um outro oleirense que foi o 28.º Bispo da mesma Diocese desde 1872 a 1889, ano da sua morte.

Trata-se de D. João Maria Pereira d’Amaral e Pimentel que nasceu em Oleiros em 1815, estudou nos Seminário de Cernache do Bonjardim, tirou o bacharelato em Direito na Universidade de Coimbra, desempenhou vários cargos civis como jurista e advogado, regressou aos seminário, foi ordenado sacerdote, trabalhou nas dioceses de Leiria e Bragança e foi superior do Seminário de Cernache antes de ser nomeado Bispo de Angra. Antesainda, havia sido nomeado Bispo de Macau mas não chegou a tomar posse por desentendimentos entre o Governo português e a Santa Sé.

Era uma pessoa sensível, humilde e muito culto. Em 1881, escreveu uma obra que ainda hoje é uma referência no estudo da História Local, as “Memórias da Villa de Oleiros e do Seu Concelho”. Dois motivos o empurravam, dizia: o primeiro, “registar o que disseram a história e a tradição, os templos, as pedras, as árvores, os montes, os regatos, as fontes, a ribeira e todos os objectos animados e inanimados, esperando que, quando no presente se lhe não dê apreço, no futuro a alguém será agradável saber o que disseram aquelas vozes, que a muito custo se fazem agora ouvir, e que provavelmente tornarão a emudecer”; o segundo, era o de “glorificar a sua terra, a sua “amada Pátria” que segundo ele estaria a ser ingrata ao amor que por ela sentia”. Apenas desejava prestar um serviço, tornando a sua terra “conhecida aos estranhos e lembrar suas glórias aos dela naturais, para que, tomando conhecimento das virtudes e altos feitos de seus antepassados, procurem imitá-los.”

As “Memórias” de D. João Maria constituem um precioso reportório informativo sobre o concelho de Oleiros durante o século XIX. Rudimentos de História, dados biográficos sobre ilustres oleirenses de antanho, informações sobre a indústria, sobre a agricultura, sobre a fauna e flora, sobre tradições e costumes, sobre saúde e higiene, sobre o clima e a geografia, sobre o carácter e a índole das pessoas e sobre cada uma das freguesias em particular. Tudo isto ali se encontra.

Enquanto Bispo de Angra do Heroísmo, e para apenas reportarmos a dimensão literária e cultural, foi também o fundador do “Boletim Eclesiástico dos Açores”, órgão oficial diocesano e primeiro do género no país, publicado pela primeira vez em Setembro de 1872, hoje o mais antigo periódico com publicação ininterrupta nos Açores, comemorando precisamente este ano o seu 150º aniversário.

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