Jubileu de pessoas doentes e em luto. Consagrados?


No Ano do Jubileu 2025 e do jubileu dos doentes, no dia 11 de fevereiro, em que sentido se fala de esperança?
Quando se fala de doentes e doentes graves não faltam os que pensam que a esperança é só de não morrer. E quando se trata de pessoas em pré-luto e luto, e em cuidados paliativos, já não há esperança.
As definições científicas das condições próximas da morte não mudam o desfecho fundamental do morrer de cada pessoa.
Uma questão frequente acerca do Evangelho é sobre o porquê Jesus curou alguns doentes e não curou a todos. Não faltam razões e respostas personalizadas, como os cuidados a doentes, a consagração à vontade de Deus e a unção sacramental. Porquê eu peço a cura a Jesus e não me cura? Sim, deve haver alguma razão no meu caso.
O Evangelho apresenta a necessidade de fazer luto e dar sentido às perdas de saúde angustiantes. Há uns anos pediram-me para escrever um livro sobre a viuvez que teve traduções em espanhol e italiano, e ocasionou encontros na Austrália, Filipinas e Índia. À base de questionário os viúvas trata do projeto de vida, pré-luto, luto, o processo de morrer com doenças graves e os estudos da médica Kubler-Ross.
Dar sentido à vida quando se vai morrer e se vão perder entes queridos com quem se viveu em comunhão de vida, afetiva, sexual ou não, é um grande dom. A esperança do Jubileu precisa de acompanhamento nestas aflições da vida, como o Papa Francisco diz na mensagem para o Dia dos doentes.
Algumas comunidades religiosas, famílias e irmandades paroquiais em situação de maior número de idosos e de mortes frequentes, vivem em grandes fragilidades e sofrimento. Talvez seja mais angustiante para alguns por não se cair na conta de se estarem a viver processos de luto e pré-luto, tanto em relação aos que morrem, como em relação aos idosos doentes e aos que estão às portas da morte.
Os acompanhantes, em número reduzido, vivem, também, experiências de perda, dor e solidão. Os sentimentos de perda não se limitam a pessoas com quem se viveu em comunhão. Os sentimentos e dor estendem-se às perdas do património comum das comunidades, famílias, irmandades e instituições. As perdas de alguns bens de estimação são mais dolorosas que as de valor monetário.
Abraão é um dos maiores exemplos de fé e esperança jubilar, como nos mostra a Carta ao Hebreus (Heb. 11). Chamado para terra desconhecida, teve de abandonar tantas coisas, algumas delas a que estaria afeiçoado. Contudo, abraçou a fé e a esperança mesmo quando acreditou que Deus lhe pedia a dura separação e perda do seu filho único da promessa, mas não o abandonava.
Nesta mudança de época, na cultura e na Igreja, há promessas insistentes de Deus a doentes, idosos, consagrados e batizados que dão mais esperança que as bagagens pesadas. Estas não são essenciais e até podem estorvar o seguimento de Cristo. Nem fazem falta para se ser feliz, com Jesus e todos os seus irmãos, na outra margem do tempo, na vida eterna.
As mudanças de época, com promessas de nova terra e novo céu, que ninguém sabe como serão, a todos é prometido outro melhor viver a quem aceita deixar tudo por Jesus.
Deixar exige fazer luto pelo que se deixa: coleções maravilhosas de arte, espólios ligados à afetividade, bibliotecas de narrativas de milénios, livros que cada um escreveu.
Com um olhar diferente de mente, coração e espírito que atravessa todas as épocas da História, estes bens continuarão a ter valor, talvez mais, para novas gerações, se os pais jovens derem mais filhos ao mundo e os adultos não se destruam nem as suas obras.
Ninguém, porém, sabe até quando esses tesouros vão valer e estar disponíveis de modo a serem gozados nas terras dos homens, se estes respeitarem a criação que Deus quer e se Ele precisa desses tesouros, e de que modo, para tornar os seus filhos felizes até lhes dar a sua herança de adoção.
Estas questões estão muito presentes no Evangelho e ficam cada vez mais presentes aos idosos e doentes como na recente festa de 2 de fevereiro em que Lucas diz de dois idosos no templo, o profeta Simeão e a profetiza Ana que no encontro como Menino Jesus viveram o seu deixar este mundo com alegria e esperança: “Agora, deixareis partir o vosso servo”, já vi a luz e a salvação, dizia Simeão; e Ana servia a Deus e falava do Menino, a única esperança de todos.
É importante associar as palavras de Jesus a esta festa e Jubileu: Que aproveita ao homem ganhar o mundo todo se perder a sua vida? E outra bem clara: guardai os vossos tesouros no Céu onde nem os ladrões os roubam, nem a traça os corrompe. E então as aflições dos doentes podem ser mitigadas com o convite consolador: vinde a Mim todos os que estão sobrecarregados e Eu vos aliviarei; o meu jugo é suave e a carga é leve.