Dia Europeu da Memória das Vítimas do Estalinismo e do Nazismo

 Dia Europeu da Memória das Vítimas do Estalinismo e do Nazismo
Maria Susana Mexia
Maria Susana Mexia, Professora

Este dia, também denominado de Dia da Fita Preta, originalmente Black Ribbon Day, é um tributo a todas as vítimas dos regimes autoritários e totalitários e é celebrado desde 2008. Foi escolhido o dia 23 de agosto em virtude de ter sido nesta data que em 1939 foi assinado o Pacto Molotov-Ribbentrop, no qual foi acordado a não-agressão entre a Alemanha e a União Soviética.

Massacre de homens feito pelos homens

O século XX foi palco de grandes guerras, violências e extermínios em nome de ideologias que provocaram profundas destruições no plano físico, moral, intelectual e espiritual.

Se são diferentes os motivos e os meios que conduziram o comunismo e o nazismo a um flagelo de mortandade sem memória na Europa, a realidade é que ambos os sistemas e os seus ditadores foram duma crueldade patológica sem limites, submetendo a realidade às suas visões distorcidas de raças, de povos e de poderes.

Ambas assentes numa pedagogia de mentira, distorcendo a consciência do bem e do mal, invocando uma falsa autoridade, propondo-se reeducar a humanidade – comunismo, ou purificar uma nação exterminando todos os que consideravam alheios à sua pura raça ariana (judeus, ciganos, doentes ou deficientes) – nazismo, em ambos os casos invocando o direito e o dever de matar.

O nazismo ficou circunscrito no tempo, após a II Guerra Mundial, os aliados tornaram públicas todas as atrocidades cometidas nos campos de extermínio e foram muitas as estratégias levadas a cabo para mostrar ao mundo os horrores que foram praticados. Porém, o comunismo desde o seu início, 1917, dizimou de forma mais ampla, incisiva e prolongada não só na URSS, como também na China, na Coreia e na Etiópia, entre outros. O genocídio na Ucrânia de 1932 a 1933, premeditado para matar pela fome um povo totalmente indefeso, também não deve ser esquecido.

Foi necessário passarem algumas décadas para que o mundo tomasse consciência destes sistemas políticos que recorreram a métodos e técnicas diabólicas para matar, subjugar ou fazer desaparecer todos os seres humanos que consideravam perigosos, inúteis ou desnecessários aos seus imperativos totalitários de perseguição humana, com consequente extermínio sob forma de terror.

Se podemos considerar que houve uma hipermnésia no nazismo, em que muitos dados foram procurados e muitas provas foram encontradas, a amnésia em relação ao comunismo é consequência do facto de, em muitos países, não ser possível investigar ou procurar provas concretas, pois este regime ainda vigora nos seus territórios.

Para que a memória não nos seja destruída é bom reflectir sobre estes totalitarismos, sobre as vítimas que provocaram e sobre os reflexos das suas ideologias já implementadas de forma quase global e sub-repticiamente, sem que demos conta de como a nossa liberdade está cada vez mais restrita face aos poderes alargados e totalitários de algumas potências.

As consequências das ideias levadas à prática revolucionaram o mundo do século XX. A ideologia racista de Hitler conduziu à morte milhões de judeus e foi a causa principal dos milhões de vítimas militares e civis da II Guerra Mundial, por seu lado o ideal do paraíso sem classes da sociedade comunista apresentou-se na prática, ligado ao terror, à violência e nos casos mais extremos, ao genocídio. Recentes estudos demonstram que o comunismo provocou entre 1917 e 1989 aproximadamente cem milhões de vítimas. O universo fechado desta utopia ideológica no poder ainda hoje, bloqueia ou dificulta uma séria investigação in loco.

A leitura de algumas obras literárias como O Arquipélago Gulag, de Alexander Soljenítsin; Cisnes Selvagens, de J. Chang; O Eco das Cidades Vazias, de  Madeleine Thien; A Quinta dos Animais e 1984, de George Orwell propiciará a compreensão deste fenómeno, ainda hoje, pouco explorado e divulgado.

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