Corta o que não serve
Hoje convido-te, caro leitor, a parares um pouco, para contemplares na estrada da vida, os diversos milagres, descobrires sinais e apreciares a presença amiga de Deus no mistério de cada irmão e de cada gesto de bem.
Não te aflijas se descobrires ramos secos, inúteis, que não têm Vida. Possivelmente também recordarás cenas vazias de amor e de paz, que não falam de Deus e do acolhimento devido ao outro.
Pode vir ao de cima ocasiões de escândalo que te afastam da Verdade.
Corta, deita fora, arranca os excessos e busca o Essencial.
Só Deus é o necessário!
Ao acompanhar a vida dos Apóstolos de Jesus, parece-nos que João levava uma brilhante “folha de serviço”, guarnecida com uma demonstração de zelo aos “direitos de autor” de Jesus e, diante das palavras do Mestre, fica com o entusiasmo cristalizado na garganta.
João disse a Jesus: “Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procuramos impedir-lho, porque ele não anda connosco”.
Jesus respondeu: “Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim…”
Jesus não se compadece dos nossos preconceitos, que muitas vezes redundam numa escandalosa falta de acolhimento. Faz-nos ver quão livre e libertador é o bem!
Cuidado, “apontar é feio” diz a sabedoria popular. Quão fácil é apontar um dedo sujo de preconceitos. É bem real a tentação de instrumentalizar Deus, de usá-lO e geri-lO com os nossos cálculos tacanhos, de transformar a nossa fé num sectarismo intolerante, pejado de restrições e manuais de procedimentos.
Admira-nos este Jesus que diz “quem não é contra nós é por nós”! Ficamos perplexos com este, aparentemente frágil, ligeiro e fácil, critério de ingresso no seu amor!
Que libertador é o Mestre que tem sempre um caminho estendido para quem O procure! Para Ele basta uma fenda aberta, por onde possa infiltrar-se a força renovadora do seu Amor porque, essa sim, é a moção mais forte e decisiva para o bem…
Nestas palavras de Jesus está presente a questão de acolhimento. Como é grave a falta de acolhimento para com o outro, a loucura de querermos domar o Espírito que “sopra onde quer” e como quer…
Procuremos também fazer um diagnóstico muito sério e tenhamos presente um critério infalível: uma ocasião de escândalo é sintoma certo de doença! O perigo da nossa vida está no ser tomado pela gangrena do egoísmo. Jesus não quer que continuemos a iludir-nos com uma vida preservada, mas podre, inútil, a fluir para o vazio…
Não tenhamos medo de cortar o que é inútil e pernicioso para viver a vida de Deus. Precisamos de fazer uma revisão constante ao nosso coração para que ele deixe passar, sem o contaminar, o salutar caudal do Evangelho, o Sangue Precioso de Jesus Cristo.