X Encontro Mundial das Famílias: Violência Doméstica

 X Encontro Mundial das Famílias: Violência Doméstica

No X Encontro da Família, Christauria Welland, psicóloga, apresentou o tema da violência doméstica. Transcrevemos a sua entrevista.

Surpreendeu-a que a violência doméstica seja igual em casais católicos que no resto da sociedade?

Infelizmente, não tem havido muita investigação sobre o tema, mas a pesquisa que li e que é muito citada é que as pessoas que praticam religião não têm menos violência doméstica nas suas famílias que as famílias que não praticam nenhuma religião. É miut surpreendente, porque esperaríamos o contrário. É, aliás, uma das razões pelas quais comecei a trabalhar nesta área. Porque é que os cristãos, que deveriam viver no amor, se comportam assim uns contra os outros? Essa foi a minha pergunta inicial, e tenho estado a trabalhar nisso.

E porque é que a percentagem não muda?

Bom, porque as pessoas são educadas na sociedade onde vivem. Cada cultura tem muita violência, a média em todos os países é de 30%, mas há países em que chega aos 50%, por isso depende de onde estamos a falar.

Parte do problema é que não falamos disso o suficiente. Começámos a falar no pontificado do Papa Francisco, e agora é algo que está nos documentos, as pessoas falam, eu estou aqui a dar esta entrevista, e isto é algo que não se via antes. Acho que muitas pessoas ficariam surpreendidas com esse número, porque não se especializam nessa área, e não sabem que há muito tempo que é assim. Ainda não conseguimos baixá-lo a nível mundial, e a pandemia fez os números subir.

Há muitas coisas que afetam isto, e se crescemos numa cultura em que há muita violência de qualquer espécie, então haverá muita violência doméstica. Se cresceu numa zona de guerra, ou onde a polícia não entra, ou onde não há leis contra violência doméstica, ou respeito pelas mulheres, se não estamos sempre a falar nisto, as pessoas não reebem a mensagem.

Há também a influência do alcoolismo, que é um fator de correlação. Se há uma família que sabemos estar a sofrer com problemas de alcoolismo, há uma possibilidade muito forte de haver violência doméstica nessa família.

Temos de estar atentos a isso. É importante a relação da mãe e do pai com a criança, para criar uma relação de confiança.

Mas a Bíblia sempre falou de paz e de amor na família… o que é que falta fazer?

Essa é uma excelente questão. Acho que não precisamos de mudar nada, precisamos é de aplicar o que já lá está. Mas não falamos disso, não sabemos disso…

A importância de falar sobre a dignidade humana, sobre a violência, de ensinar as crianças desde mais novas estratégias para evitar a violência é muito grande. Se a única coisa a que eles estão expostos é violência, não vão saber agir de outra forma, acalmar-se, respeitar a dignidade de todos…

Se não somos capazes de nos relacionar com a forma como Jesus tratou as outras pessoas, incluindo mulheres, como podemos ser respeitosos uns com os outros?

Temos muitas razões para nos amarmos e para nos tratarmos com dignidade, mas não o fazemos. Porque será? Porque não estamos a ouvir a mensagem.

Quando comecei a fazer esta pesquisa, há 25 anos, nunca tinha ouvido um padre falar sobre violência doméstica no púlpito. Apesar de haver muitas oportunidades de o fazer durante o ano, pelas leituras da missa, que podem ser uma oportunidade de falar de dignidade humana, da igualdade entre homem e mulher, e já desde João Paulo II é um ensinamento muito forte que muitos católicos ainda não ouviram, não sabem o que a Igreja ensina.

Muitos católicos não sabem que é pecado magoar outro ser humano, em particular a sua esposa ou os seus filhos, não associam que precisam de se confessar por causa disso. Temos muito que ensinar às pessoas sobre dignidade, autocontrole, respeito e a igualdade de homens e mulheres, para que as pessoas percebam que não é correto magoar assim as pessoas.


* Ricardo

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