X Encontro das Famílias em Roma: Igreja Doméstica e Sinodalidade
O Jornal continua a dar eco do X Encontro das Famílias em Roma a partir da AIC. Seguem-se declarações do casal Gregory e Lisa Popcak, que falaram sobre igreja doméstica e sinodalidade.
Como podemos explicar o conceito de Igreja Doméstica em simples palavras?
GP
A Igreja Doméstica está fundada na Graça, envolve a ligação das famílias com Deus e entre elas na Igreja, ao partilharem os sacramentos juntos e viverem a visão trinitária e cristã das nossas relações em casa. O que isto significa é como que um poço com três baldes, que nunca seca, porque quando um acaba os outros estão sempre a enchê-lo.
LP
Na vida familiar, quando servimos uns aos outros de forma generosa, trazemos parte desse amor trinitário para as nossas vidas, e estamos sempre a tomar conta uns dos outros, nunca nos cansando de nos amar uns aos outros no processo.
Portanto, o conceito de Igreja Doméstica não é algo externo à família, sobrenatural?
LP
Não é, e acho que tantas vezes as famílias tentam fazer precisamente isso, decorar a casa para uma determinada altura, marcar tempo para isso com a família, e depois cansam-se de o fazer, porque isso não é prático no quotidiano familiar. Isto é sobre tornar os momentos da vida quotidiana cheios do amor de Deus. Isto acontece quando as famílias procuram tempo para trabalharem juntos, para brincarem juntos, rezarem juntos, ao longo do dia. Podem estar juntos a dobrar a roupa e a ter conversas mais profundas com eles do que o habitual, por exemplo
GP
Podem riscar essas coisas e dizer que não são espiritualidade, ou não são teologia, porque isso são as nossas tarefas normais, ou somos nós a disciplinar os nossos filhos. Mas é precisamente quando aproveitamos essas ocasiões para nos ligarmos como família, em vez de apenas nos limitarmos a dividir tarefas individuais para todos. Depois do jantar, lavem a loiça em família, ponham uma música e continuem a conversar o que estavam a conversar. Depois, agradeçam a Deus serem uma família que trabalhar tão bem em conjunto. São as pequenas formas de colocarmos Deus na nossa vida do dia do dia. Estas interações do quotidiano com Deus são pequenas interações santas. Sermos generosos, servirmos o outro de forma mais generosa, e amarmo-nos todos mais profundamente: este é o caminho para a santidade.
Falaram da Liturgia da Família, do Sacerdócio leigo, no contexto da família… podem explicar um pouco melhor?
GP
No Batismo, acreditamos que todos os batizados são sacerdotes. O que isto significa é que, como o sacerdote consagra o Pão e o Vinho no Corpo e Sangue de Cristo, cabe-nos a nós consagrar o resto do mundo a Cristo, e pegar nas pequenas coisas que fazemos e torna-las santas, ao enchê-las com o amor sacrificial de Deus. Por isso, a Liturgia da Igreja da vida doméstica anima o nosso sacerdócio leigo, porque um sacerdote não pode existir sem a sua liturgia. Os sacerdotes têm a liturgia da Santa Missa, é um dom que Deus lhes deu para fazerem o seu trabalho. Ora. Deus deu aos sacerdotes leigos também um presente, que foi a liturgia da igreja doméstica, que é a forma de consagrarmos tudo o que fazemos nosso dia a dia a Cristo, para que as pequenas coisas do dia a dia possam contribuir para as coisas santas.
LP
Como o padre nos dá a Eucaristia através de simples pão e vinho, consagrando-os, muda tudo e traz Cristo presente até nós. Nós podemos consagrar a vida da nossa família através dos pequenos gestos de amor e serviço e diversão que fazemos, que fazem Cristo estar presentes na nossa igreja doméstica, e na nossa vida familiar de todos os dias. Isto mostra a cada membro da família como Deus os ama
Há necessidade de os pais aprenderem melhor a explicar esses conceitos aos filhos, para que não olhem para isto como uma coisa beata, devocional, sem real aplicação para eles?
GP
Sim, existe. Não temos de ter formação em Teologia para criarmos esta nossa Igreja doméstica. De facto, as três partes da liturgia da Igreja doméstica são apenas Amor, Ligação e Serviço. Amamos como Cristo nos amou, ligamo-nos ao aprender como colocar Deus nossa vidas no rezar, no brincar e no trabalhar em conjunto, e cuidamos uns dos outros e do mundo tão intencionalmente e generosamente como conseguirmos. Se conseguirmos fazer isso todos os dias, estamos a viver essa liturgia da Igreja doméstica e o nosso sacerdócio ao consagrarmos tudo o que fazemos – mudar as fraldas, as pinturas, a disciplina, tudo isso – a Cristo, e como conseguimos ficar mais perto de Deus e uns dos outros através destas coisas.
LP
E explicar isto aos nossos filhos não é difícil. Devemos dizer “eu amo-te tanto, mas posso amar-te ainda mais se trouxermos Deus para a nossa casa e para as nossas relações, escolhendo tempos para conversar, brincar e trabalhar em conjunto, para que possamos lembrarmo-nos quanto é que Deus nos ama e quanto é que nos amamos uns aos outros.