Entrevista/Proença-a-Nova: Diogo Martins comanda navio da Marinha
Voz na noite que nos desperta e abraça

«O Reino do Céu será semelhante a dez virgens que, tomando as suas candeias, saíram ao encontro do noivo. Ora, cinco delas eram insensatas e cinco prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas candeias, não levaram azeite consigo; enquanto as prudentes, com as suas candeias, levaram azeite nas almotolias. Como o noivo demorava, começaram a dormitar e adormeceram. A meio da noite, ouviu-se um brado: “Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!”»
De Mateus 25, 1-13, Evangelho do 32.º Domingo do Tempo Comum.
Nenhum dos protagonistas da párabola é exemplar: não o é o esposo que exagera na demora, não é quem fecha a porta, nem as cinco jovens sábias mas duras.
Todavia é muito bela a imagem inicial: dez pequenas luzes na noite, ar de festa, gente que se põe a caminho, sai na escuridão e vai ao encontro.
O Reino de Deus é semelhante a um encontro, é como esperar um pouco de amor da vida, um pouco de beleza e um abraço na profundidade da noite.
Sugestão de uma cena noturna: dez lâmpadas acesas, uma constelação a caminho, uma fresta de Céu derramada na Terra.
Dez corações «como pirilampos na alta escuridade» (Turoldo), que desafiam a noite, desafiam o sonho que se demora, armadas somente com uma pequena luz.
E adormeceram… Mas de repente o inesperado da narrativa: uma voz à meia-noite, capaz de despertar para a vida: eis o esposo! O conforto de saber que em cada noite, em cada abandono e exaustão, uma voz virá despertar-nos da vida sonolenta.
Todos já o sentimos: foi um amigo, podia dizer-vos o seu nome; ou um livro, posso dar-vos o título; talvez um Salmo pleno de sofrimento, de estrelas, de grito; um “bem-aventurados vós”, de pé, a caminho, vós os mansos, puros, límpidos, pobres, bons, reacendei o coração. Talvez uma carícia, mas verdadeira…
O que te espera é grande: muita vida, muita gente, muita beleza e criatividade, olhos como estrelas, dar uma mão a Deus que continua a criar. Não deixar apagar a chama das coisas
Segundo golpe de teatro: a cinco jovens acabou-se-lhes o azeite. O que seja este azeite misterioso, o Evangelho não o explica. A poesia pode ajudar-nos: «A fé é aquilo que arde» (Christian Bobin), «a vida inflama-se» (Biagio Marin).
As jovens tinham azeite em casa, mas não o levaram consigo: um talento desperdiçado, energia inutilizada… Assim acontece quando não oferecemos altas energias à nossa vida: somos feitos para o encontro, para uma festa, um esposo, um amor, uma plenitude, uma beleza.
Por isso vai ao fundo dos teus talentos, enche com eles as tuas pequenas ou grandes almotolias…
Aos jovens, às virgens da vida, a todos, a parábola sugere: prepara-te bem, prepara-te para coisas grandes: para te tornares pai, mãe, amigo, esposo, luz para os passos de alguém, pequeno bom samaritano.
Preenche com inteligência as pequenas almotolias da tua existência, vive com atenção o teu capital de relações, para que saibas ver e abraçar o belo quando ele chegar.
O que te espera é grande: muita vida, muita gente, muita beleza e criatividade, olhos como estrelas, dar uma mão a Deus que continua a criar. Não deixar apagar a chama das coisas.
Aquele que tarda virá, voz que desperta, porta que se abre, almotolia cheia até à borda, o esplendor de um abraço no fundo da noite…
E tu não temas, no fim será Ele, o Esposo, a atravessar a noite.
Ermes Ronchi, In Avvenire, Trad.: Rui Jorge Martins, Imagem, Publicado em 11.11.2023