Quem te disse que estavas nu?

O livro do Génesis apresenta relato mitológico da origem do mal, do pecado na Gn 2,25-3,24.
Neste relato, Adão e Eva, estando no Paraíso, não sentiam qualquer vergonha. Porém, a serpente incentivou Eva a comer da árvore e, consecutivamente, Eva a Adão. Depois de comerem sentiram vergonha e cobriram-se com folhas de figueira. Sentiram-se nus e esconderam-se de Deus. Deus procurou-os e perguntou-lhes: «quem te disse que estavas nu?»
Este relato é paradigma do ser humano que, quando faz asneira, sente dificuldade de assumir as suas responsabilidades e esconde-se na tentativa de encobrir as asneiras.
O caso mais flagrante é o que estamos a viver a nível político. O povo pergunta ao PS de Santos: «porquê eleições?» Ao que responde: «foi o Montenegro que recebia avenças de uma empresa particular enquanto era primeiro-ministro e agora não quero dizer a verdade!» Montenegro responde: «é o Santos e o seu partido que não querem dar-me um voto de confiança; só querem chafurdar no lamaçal! E não querem eleições porque as sondagens o colocam atrás de mim!» E todas as outras entidades parlamentares vão atirando as culpas às serpentes desta vida para justificar as suas posições.
Será que os que constituem o Parlamento também sentem que estão nus? Não será que estes grandes defensores da democracia, que tapam a sua nudez com folhas de figueira, não sentem que com a sua falta de ética estão a matar aquela (democracia e liberdade…) a quem dizem defender!? Será que a casa da Democracia é o açougue onde Ela, Democracia, vai ser decapitada pelo extremismos emergentes e pelos políticos sem ética?
Se em democracia, o povo pudesse ser comparado a Deus do relato do Génesis, por que não expulsar desse Paraíso (Parlamento) aqueles que nos envergonham com táticas políticas, corrupção, injustiças, falta de ética, carreirismo, desrespeito…
Acredito que a política é uma arte nobre de governar para o bem comum, para a justiça, para redistribuir bens, para a verdade, num clima de subsidiariedade e de solidariedade, que tem a pessoa humana no centro da sua atividade.
Hoje, ser político também é um desafio enorme devido ao descrédito que os atuais políticos nacionais e mundiais têm apresentado com as suas presenças. É preocupante porque são estes homens e mulheres que promovem a paz e o bem-estar nos povos e entre os povos. Nós não temos paz nem os meios suficientes para termos uma vida digna do século XXI. Onde estão os homens e mulheres de VALORES humanistas, cristãos, capazes de construir futuro?
Nos últimos tempos, temos rezado pelas melhoras do Papa Francisco, mas também deveríamos rezar para que Deus nos conceda bons políticos ao nosso país e ao mundo. E como nós somos também um pouco políticos nos nossos trabalhos e nas nossas vidas particulares, cuidemos para não cairmos em tentação e nos mesmos erros!