Portugal paga a Traidores
48 anos depois da madrugada de Abril que fez dos cravos o rei das flores, são 3 os temas da actualidade que se cruzam com a revolução e importa olhar de frente.
Uma boa parte do país ainda está em choque com a posição do PCP sobre a guerra da Ucrânia. Ora, que se saiba, este é o mesmo PCP de sempre. É o mesmo PCP que nunca duvidou da exemplar democracia de Cuba, Venezuela ou Coreia do Norte. É o mesmo PCP que se curva perante Pol Pot, Stalin ou Karl Marx. É o PCP que se pudesse, tinha tirado Portugal da NATO, da EU e nos tinha integrado no Pacto de Varsovia sob a “protecção” da “pacifica” URSS.
Bem podemos agora espumar de raiva pela posição assumida, ou dizer que 21 de Abril foi o primeiro dia sem comunistas na Assembleia da Republica. Mas somos o mesmo povo que se esqueceu que António Costa, derrotado em 2015, se joelhou aos seus pés para chegar ao governo. Somos o mesmo povo que deu uma maioria absoluta a um governo que tem como ministro das finanças quem deu a Putin o nome dos seus opositores cá do Burgo. Se as lágrimas de crocodilo fossem energia, a nossa independência energética estava assegurada.
Na Guiné Bissau, nasceu por estes dias um novo partido político que tem como objectivo principal iniciar negociações com o governo português para que aquele território reverta a independência e passe a região autónoma portuguesa. Dizem os seus fundadores que nenhum dos objectivos propostos pelos homens que lutaram pela liberdade foram alcançados e que a independência conduziu a um maior subdesenvolvimento económico e social do território. Este tipo de discução ocorreu também noutros antigos territórios administrados por Portugal, ainda que de forma menos oficializada, pelo que, talvez seja tempo de Portugal olhar para o seu passado sem estigmas ou receios. Talvez seja tempo de Portugal assumir o seu papel único na história contemporânea e servir de motor no desenvolvimento da lusofonia enquanto elo de ligação e força geopolítica num mundo em mudança.
Num debate sobre o actual estado de degradação que se verifica na educação, a ex-ministra Maria de Lourdes Rodrigues respondeu com um “não sei como chegámos aqui, e nem quero saber…”. Se é mau um cidadão comum estar alheado da realidade daquele que será sempre um dos principais, se não o principal pilar de desenvolvimento de uma sociedade, o alheamento de um alto responsável do sector é repugnante e intolerável. Acresce que para alem de ex-ministra, é esta a mesma pessoa que enquanto reitora do ISCTE está envolvida na polémica do financiamento estatal pelo ex ministro das finanças que transita para vice-reitor da mesma universidade. Sim, dizem-nos que o financiamento é legal esquecendo que nem tudo o que é legal, é moral.
48 anos depois da madrugada de Abril que fez dos cravos o rei das flores, a pergunta que importa fazer é: Como é que chegámos aqui? Se não exigirmos mais do que um “não sei como chegámos aqui, e nem quero saber…” talvez estejamos a trilhar um caminho que nos leve a ter que chorar muito mais do que lágrimas de crocodilo.