O mau, o muito mau e o inútil

Quando há um ano atras escrevi aqui que a frágil vitória da Aliança Democrática, tinha, apesar de tudo, condição para concluir a totalidade da legislatura, estava longe de imaginar que neste momento ela estava por um fio.
No entanto, e não sendo ainda certo ao dia de hoje (10 de Março) se haverá novas eleições, ou se um conclave final promovido pelo Presidente da República trará a estabilidade que todos desejamos, realço que a haver novo escrutínio popular, o mesmo decorre da responsabilidade exclusiva de Luís Montenegro e não do governo, ou sua politica, no global.
Assim sendo, e se por um lado fui director adjunto de campanha da AD para o distrito de Castelo Branco, nomeado pelo CDS-PP, por outro, e porque entendo que a política não deve ser vivida de forma cega, como se de um clube desportivo se tratasse, não posso deixar de manifestar a minha profunda indignação e tristeza pelo momento que estamos a viver, tendo sempre presente que a minha consciência pessoal está, e estará sempre acima de qualquer interesse político-partidário.
Nunca deixei de transmitir nos locais próprios da vida interna do partido a que pertenço, a minha humilde opinião sobre os assuntos que por algum motivo me mereceram crítica, e o momento vivido actualmente não é excepção.
Mas, sejamos sinceros. A Luís Montenegro, o país pediu duas missões que raras vezes foram pedidas a um chefe de governo.
1ª – Uma rápida viragem do rumo que o país levava em matérias económicas e sociais, e nesse capítulo, temos já indicadores seguros de que Portugal inverteu a trajectória de empobrecimento, encontrando-se actualmente em convergência de desenvolvimento económico-social com os países referência da Europa. É certo que há um longo caminho a percorrer, mas há resultados que distam muita distância de “sementeira”. E oito anos de empobrecimento derivadas de políticas socialistas não se recuperam em oito meses de governação efectiva.
2ª – Depois de dois primeiros ministros socialistas (Sócrates/Costa) que atiraram o cargo que exerceram para um profundo charco de lama, pelos motivos que amplamente todos conhecemos, Luís Montenegro teve a responsabilidade de devolver à função que exerce, uma credibilidade que provavelmente nenhum titular do cargo, até ao momento cultivou. Sendo certo que por culpa própria, culpa de assessoria, ou pura ingenuidade, não cumpriu aquilo que o país extraordinariamente lhe exigiu.
Falhou acima de tudo o dever de um rápido e cabal esclarecimento da actividade decorrente da sua vida pessoal, encontrando mecanismos para salvaguardar o superior interesse do país, cortando pela raiz a novela em que o caso se tornou. Infelizmente optou pela triste via da vitimização, prestando um péssimo serviço a si próprio, à sua família, e principalmente a Portugal.
Não compreendeu Luís Montenegro que a sociedade mudou radicalmente e que não tolera hoje o tempo em que Mário Soares enquanto primeiro ministro negociava medidas que em maior ou menor escala interferiam com o seu Colégio Moderno.
E que alternativa temos?
Um PS herdeiro das mais profundas práticas de promiscuidade entre políticos, políticas, empresas e famílias ministeriais inteiras? Será que o país já esqueceu as dificuldades em obter esclarecimentos sobre o assalto aos paióis de Tancos ou os meandros do acidente que envolveu Eduardo Cabrita? Será que já esquecemos os tempos em que freguesias socialistas serviam de sede a empresas de exploração de lítio ou passavam atestados de residência sem qualquer controlo ou critério? Já esquecemos as empresas dos amigos de Sócrates e a enciclopédia judicial que gravita à sua volta? Já esquecemos as empresas criadas por padeiros para produzir golas inflamáveis para o MAI ou o dinheiro escondido em livros?
E que dizer de um CHEGA que ainda antes de ter tido qualquer responsabilidade governativa, e portanto, supostamente despojado de vícios, já tem as suas fileiras cheias de alegados criminosos com carta para todos os gostos? Será que não apresentou o CHEGA uma moção de censura apenas por calculismo político para desviar as atenções sobre os seus problemas internos? Que esperar de um partido que tendo a responsabilidade dentro da Assembleia da República pela comissão de inquérito sobre o caso das “Gémeas”, se tem revelado completamente incompetente para cumprir prazos e métodos de conclusão da mesma?
Se houver eleições, estará André Ventura em campanha para a sua eleição para deputado e em pré-campanha para as presidenciais de 2026? Se houver eleições estarão os seus deputados todos em campanha para as legislativas e em pré-campanha para as autárquicas como o seu líder pediu? Como nem tudo é negativo, com um bocadinho de sorte concilia as três campanhas, e como já provou que segue muita da filosofia comunista, aproveita os seus outdoors para os três actos eleitorais.
Num momento de incerteza mundial como a que vivemos, aos políticos, sejam governo ou oposição, exige-se sentido de estado, colocando todo o seu saber ao serviço de Portugal, e com absoluta transparência, considerando sempre que “à mulher de Cesar não basta ser séria…”.
A Luís Montenegro resta uma saída digna do cargo que ocupa, salvaguardando o actual quadro parlamentar, sob pena de pior que hipotecar irremediavelmente o seu futuro político, hipotecar a democracia e liberdade de gerações futuras.