Não quero ser uma estrela
“Quantas pessoas vieram à conferência? 40? Uau!”
É natural querer ter o sucesso como se mede no mundo (poder, prestígio, visibilidade) no apostolado e na espiritualidade. No entanto, temos que nos lembrar muitas vezes, e muitas vezes mesmo, que o sucesso espiritual não se mede assim. Só Deus é que o mede. Como diz São Paulo em 1 Cor 3,7: “Assim, nem o que planta nem o que rega é alguma coisa, mas só Deus, que faz crescer.”
Eu confesso que estou sempre à procura de quantos vieram à “minha” conferência, quantos comentaram no meu post, quantos ouviram o meu podcast. Mas como disse uma amiga em relação à pergunta de quantos vieram à conferência… não interessa o número, pois interessa como tocou o coração de cada um. Talvez se tivesse vindo só um e tivesse tocado o coração daquele com mais profundidade valeu mais a pena do que 40 que não ficou nada gravado no coração.
Eu sou luso-americana e tenho a tendência de ver os projetos americanos de apostolado como muito melhores do que os portugueses. Nos Estados Unidos, há imensos oradores católicos que são pagos sempre que falam em qualquer sítio e só vão se houver um mínimo de 100 ou de 500. Há projetos nas redes sociais muito bem financiados mas também muito bem-feitos.
No outro dia passei por um templo da religião “Os Santos dos Últimos Dias” no Parque das Nações e fiquei perturbada com o tamanho do templo e do projeto deles em Portugal. Como isto é possível? Pensei para mim. Em terra de Fátima, onde está o Catolicismo a evangelizar?
“Brilhar como uma estrela?…Ânsia de altura e de ser luz acesa no Céu? Melhor: queimar como uma tocha, escondido, pegando o teu fogo a tudo aquilo em que tocas. – Este é o teu apostolado; para isso estás na terra.” (Caminho, n 835)
Não se mede por números nem por metros quadrados dos edifícios. Nós nem medimos, é Deus que mede e é o único que vê corações. Nós lançamos sementes. Agora onde caem, em que tipo de terreno, que tipo de jardim Deus faz crescer no coração do outro, está vedado do nosso entendimento. Deus chama-nos a ser fiéis, a seguir a Sua palavra, os seus ensinamentos, começar e recomeçar todos os dias, a trabalhar sem ver o fruto. A maior parte das vezes as nossas ações parecem-nos insuficiêntes, que não fazemos nada de “bem”. Na verdade, não enchemos estádios como os americanos para ouvir a nossa evangelização.
Não sabemos o bem que fazemos. E se fizermos algum bem, é Deus a usar-nos como instrumento. Pelo contrário, sabemos o mal que fazemos. E é bom fazer exame de consciência todos os dias e ir à confissão frequente para ir tendo mais e mais consciência disso. Como dizem os grandes santos, Deus podia ter escolhido outro instrumento para além de mim para fazer o Seu trabalho, pois eu só atrapalho.
Se queremos os “likes” e os números em nosso favor, provavelmente também queremos atribuir a glória do bem que fazemos a nós. O caminho do cristão não é esse. É sempre o pequeno: o sal ou o fermento no pão. Uma luzinha no monte. Os primeiros cristãos eram pouquíssimos e as primeiras comunidades a quem São Paulo escrevia também. O caminho do cristão é o desprezível: os analfabetos, os pescadores, os pobres, os pastorinhos.
Também quando penso nas pessoas na minha vida que mais me ajudaram nos tempos difíceis e mais me inspiraram nas grandes decisões, não foram as que brilharam numa conferência. São aquelas que fazem /fizeram o bem, duma maneira muito rotineira e escondida, dia após dia sem quase ninguém reparar.
E assim também tento seguir eu, mudando fraldas, fazendo refeições, arrumando a casa que nunca estará arrumada. Lendo livros e tentando passar tempo com os meus filhos pequenos, mesmo sem ver frutos diretos de tais ações. A maior parte das noites, deito-me e penso, o que aconteceu ao meu dia hoje? Não fiz nada! Não quero ser uma estrela que brilha, mas uma tocha escondida no meu lar, dando fogo vital ao meu marido e filhos.