Meu Povo, que te fiz eu? Em que te contristei?

 Meu Povo, que te fiz eu? Em que te contristei?
verdades para o dia das mentiras
Dom Antonino Dias, bispo de Portalegre-Castelo Branco

Aproxima-se a celebração do momento central da plenitude dos tempos. É a ‘Hora’ para a qual vinha a convergir tudo quanto estava predito e dito e os próprios gestos salvíficos de Cristo preconizavam e até provocaram. É a hora da cruz, a hora do despojamento total do Filho muito amado do Pai, a hora da vitória da vida sobre a morte, a hora da ressurreição do Senhor. “Não está aqui, ressuscitou!” (Lc 24, 5-6). E Jesus faz-se encontrado, deixa-se ver e tocar pelos seus discípulos que o reconhecem e correm de alegria levando por toda a parte a notícia da maior história de amor que o mundo jamais conheceu. É o mistério da Páscoa, a fonte da vida, a Festa das festas, a Festa da Igreja no coração do mundo a renovar o coração dos homens. É o auge do projeto de Deus em favor da humanidade. A paixão e a ressurreição de Jesus manifestam a coerência da vida de Jesus com a sua mensagem, confirmam Jesus como Filho de Deus, são a expressão máxima do seu amor para com a humanidade, constituem o sacrifício único pelo qual todos os pecados são perdoados, encorajam a fé dos seus discípulos enviados a anunciar o que tinham tocado, visto e ouvido.

Tudo quanto ao longo da História da Salvação, na sua condescendência e pedagogia infinitas, Deus fez acontecer, tudo quanto prometeu que haveria de advir eram apenas sombra das surpresas com que Deus nos haveria, de facto, de presentear na plenitude dos tempos em seu Filho. Uma nova primavera de esperança desponta a fazer florir uma humanidade nova baseada na fraternidade universal, no amor e na paz. Infelizmente, por se querer ignorar esta história de amor incomparável, ainda há quem, dois mil anos depois!, pela dureza do seu coração soberbo e arrogante, teime em se endeusar e prefira viver num inverno existencial triste, tenebroso e destruidor, alimentando ódios impensáveis e interesses mesquinhos a destruir vidas, a promover o terror.

Se desde sempre o homem procurou e procura sentido para a vida e para as perguntas da vida, se nunca faltaram nem faltam na história humana heróis da justiça e do amor aos outros, há uma questão fundamental que sempre permanece e atormenta o homem. O homem não tem solução para a morte, quando muito tenta esquecê-la ou dizer que ela é o fim de tudo! No entanto, Deus fez-se homem, Deus entrou no seio da morte. Não porque fosse mortal, não porque tivesse caído nas ciladas do pecado. Entrou nela por amor, fez-se mortal por graça e por verdade. Bebeu o cálice da nossa morte e convidou-nos a tomar parte, desde já, na sua vida imortal, incorruptível. Se aceitarmos entrar na sua morte por amor, ela é a única que destrói a nossa morte. Jesus venceu a morte com a sua própria morte para nos dar a sua vida e vida em abundância (cf. Jean Corbon, a fonte da liturgia, cap. III). Pela sua cruz e ressurreição tornou-se o único acontecimento da história com repercussões salvadoras para toda humanidade, mesmo que a cruz continue a ser escândalo para uns e loucura para outros. Jesus, livre e soberanamente, entra na morte e enfrenta-a sozinho num combate invulgar em favor de todos. “Ninguém Me tira a vida, sou Eu que a dou espontaneamente” (Jo 10,18).

Vamos entrar num tempo sagrado para viver e celebrar estes mistérios da salvação, é a Semana Santa, a Semana Maior. Vai do Domingo de Ramos, dia da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, ao Domingo da Ressurreição do Senhor. Dentro da Semana Santa temos o Tríduo Pascal em que Cristo sofreu, descansou e ressuscitou segundo a palavra que Ele disse: destruí este templo e Eu em três dias o levantarei.

Começa na Quinta-Feira Santa, com a celebração da Ceia do Senhor, o dia da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. Jesus e os seus apóstolos celebraram a Páscoa judaica, na qual Jesus lavou os pés aos seus discípulos, um gesto simbólico que os seus discípulos deveriam traduzir em atitudes de vida quotidiana, amando como Ele amou. Naquela noite, Jesus saiu para o monte das oliveiras, é traído, entregue e preso para ser julgado, flagelado e morto.

É a Sexta-Feira da Paixão em que se recordam os momentos mais difíceis dos últimos dias de Cristo dos quais fazem parte o caminho para o Calvário, a Crucificação e Morte, o maior gesto do amor incondicional de Jesus por cada um de nós. É dia de oração, jejum e abstinência, de adoração da Santa Cruz. Desde o pôr-do-sol da sexta-feira ao pôr-do-sol do sábado, não há celebrações. O Sábado Santo é um dia dedicado ao silêncio, à oração e à reflexão, na esperança da Ressurreição do Senhor. É o Sábado de Aleluia, o dia em que Jesus Cristo permanece no túmulo.

A Vigília Pascal é a Vigília cristã por excelência. A bênção do lume novo, a procissão da luz, o Precónio Pascal, a Liturgia da Palavra, a celebração do Batismo e a Eucaristia Pascal preenchem o tempo da Vigília. Embora aconteça na noite de sábado, a Vigília pertence ao dia seguinte, é já uma celebração do Domingo de Páscoa, do Domingo da Ressurreição do Senhor, um dia inesquecível e de grande alegria para toda a humanidade. Foi no Domingo, o primeiro dia da semana, que Jesus ressuscitou, se fez encontrado por várias pessoas e grupos de pessoas.

A alegria da ressurreição de Cristo é de tal grandeza que tem um oitavário de celebração festiva como se de um só dia se tratasse. Segue-se depois o tempo pascal, um oitavário de Domingos, uma semana de semanas, cinquenta dias, um tempo para anunciar que Cristo ressuscitou e para vivermos como ressuscitados, agora e sempre, anunciando que Ele está vivo em nós, entre nós, caminha connosco.

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