JMJ numa pequena pátria de um grande povo
Há 13 anos, em 11 de maio de 2010, Lisboa entregava as chaves da cidade ao sucessor de São Pedro, a Bento XVI, o Vigário de Cristo.
O Papa agradeceu tal simbolismo e indicou como gostaria de usar essas chaves em prol de Lisboa e de Portugal, dizendo: “Lisboa amiga, porto e abrigo de tantas esperanças que te confiava quem partia e pretendia quem te visitava, gostava hoje de usar as chaves que me entregas para alicerçar as tuas esperanças humanas nas esperanças divinas”.
A esta distância do tempo e do espaço, os grandes do entendimento e da gestão da causa pública não mudaram a fechadura das portas, e bem.
Todos podem ‘usar’ as tais chaves para escancarar as portas à feliz esperança que nos anima e faz mexer. E se gente possa haver que não acerta bem no buraco da fechadura, desejamos que não seja pela falta de luz nas escadas do coração ou nos corredores da razão que lhe dão acesso, que não seja pelo receio de que a porta realmente se abra e os faça desinstalar do sofá…
O desafio mantém-se, todos precisamos de alicerçar as esperanças humanas nas esperanças divinas.
E ‘há pressa no ar’, Cristo vive e quer-nos vivos, confiou em todos nós, enviou-nos em seu nome, somos missão, com Ele, n’Ele e ao jeito d’Ele!
O iniciador das Jornadas Mundiais da Juventude – São João Paulo II -, esteve em Portugal em 1982, 1991 e 2000. A sua intenção foi sempre anunciar Cristo e a sua mensagem, “apregoar a dimensão humana do mistério da redenção, em que o homem pode encontrar a grandeza, a dignidade e o valor da sua humanidade”.
Em 1982, referiu-se a Portugal como “uma pequena pátria de um grande Povo”, de “gente honrada, generosa, paciente, laboriosa”, “terra de Mártires, santos e heroicos servidores do Evangelho de Cristo”. Gente que “se ufana de empresas históricas arrojadas, com ressaibos de aventura”, o que permitiu aos “filhos desta Nação dilatarem a Fé, recebida desde o berço, numa gesta de evangelização que o mundo católico, e não só, reconhece, admira e agradece: das florestas da Amazónia até às frias plagas japonesas, passando pela África e pelas Índias, o nome de Cristo foi anunciado por generosos missionários portugueses”.
Para que, de facto, não esquecêssemos essa nossa dimensão, em 1991, São João Paulo II voltou a recordar-nos que “Portugal nasceu cristão!”, que as sucessivas gerações dos nossos maiores “buscaram no Evangelho a inspiração para as suas vidas”, que eles nos legaram “esta cultura constantemente enriquecida pelo cruzamento da fé cristã com as várias populações que fizeram a história da Europa e do Mundo”.
Sem grandes delongas, logo insistiu que “um dia Portugal foi púlpito da Boa Nova de Jesus Cristo para o mundo, levada para longe em frágeis caravelas por arautos impelidos pelo sopro do Espírito”. Aproveitando a ocasião para dizer que vinha aqui, a Portugal, “para, da mesma tribuna, convocar todo o Povo de Deus à evangelização do mundo”, o seu apelo mais forte, porém, ainda ecoa no coração dos portugueses de boa vontade, foi uma espécie de apelo confiante de quem tem pressa em levar a Boa Nova ao mundo. Por isso, como que gritou com todo o seu entusiasmo: “Portugal, convoco-te para a missão”.
Em Cristo e por Cristo, entre nós e dentro de nós, o Reino de Deus está próximo “sendo difícil imaginar uma aproximação maior e mais íntima”. Isto, porém, implica uma missão. Jesus enviou os setenta e dois discípulos à sua frente, a todas as cidades e lugares onde Ele havia de ir.
A messe é grande e os trabalhadores são poucos, embora todos e cada um se deva sentir um trabalhador da messe, um protagonista da sua própria salvação e da dos outros.
Dirigindo-se mais diretamente aos jovens, recordou-lhes que a Evangelização “não se faz sem entusiasmo juvenil, sem juventude no coração, sem um conjunto de qualidades em que a juventude é pródiga: alegria, esperança, transparência, audácia, criatividade, idealismo…
Sim, a vossa sensibilidade e a vossa generosidade espontânea, a tendência para tudo o que é belo, tornam cada um de vós um “aliado natural” de Cristo. Para mais, só em Cristo encontrareis resposta aos próprios problemas e inquietações.
E vós sabeis porquê: Ele foi o homem que mais amou; e deixou-nos um “código” do amor, o seu Evangelho que, lido pelo Concílio (GS41), ‘proclama a liberdade dos filhos de Deus; rejeita toda a escravidão, derivada, em última análise, do pecado; respeita integralmente a dignidade da consciência e a sua livre decisão; sem cessar, recorda que todos os talentos humanos devem redundar em serviço de Deus e dos homens; e, finalmente, a todos recomenda a caridade’ (…)
Caros jovens, não basta rezar para que o Senhor desperte vocações. É preciso estar pessoalmente atento ao apelo que Ele quiser dirigir-vos; é preciso que não falte a coragem para responder generosamente a esse chamamento”.
E acrescentou:
“Falar da evangelização, recordar a tarefa missionária aqui, em Portugal, é evocar um dos aspetos mais positivos da história do vosso país.
Daqui saíram tantos missionários, vossos antepassados, que foram levar a Boa Nova da salvação o outros homens.
Do Oriente ao Ocidente (Japão, Índia, África, Brasil…); e ainda hoje são visíveis os frutos dessa missionação.
E muitos destes missionários eram jovens como vós (…).
Rapazes e raparigas de Portugal: levantai os olhos e vede a seara loirejante para a ceifa, à espera de braços para o trabalho (…)
Jovens, rapazes e raparigas, filhos de Portugal dos nossos dias: olhai para tantos que vos precederam no passado, também eles filhos desta Pátria.
Filhos da sua cultura e da sua língua. Das suas provações e da suas vitórias”.
Em 2000, ao vir como peregrino a Fátima e se associar à alegria de Portugal em celebrar a beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, a todos os portugueses desejou “um futuro de paz, bem-estar e prosperidade, prosseguindo na senda das suas tradições e valores pátrios mais genuínos que assentam no cristianismo. Que Deus vele sobre todos os filhos e filhas desta Terra de Santa Maria. Deus abençoe Portugal!”