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Entrevista: “A vitalidade de um clube passa pela formação”

 Entrevista: “A vitalidade de um clube passa pela formação”

Nuno Alves, atualmente vice-presidente da Associação de Futebol de Castelo Branco, passou grande parte da sua carreira de jogador com as cores da ADC Proença-a-Nova, tendo também contado com passagens por outros clubes do distrito, como o Vilarregense, Águias do Moradal ou Vitória de Sernache. Com uma vida ligada ao futebol distrital, assumiu já todos os cargos possíveis e fala agora com o Jornal de Proença, olhando para o passado, mas apontando para o futuro.

Jornal de Proença (JP): Nuno, enquanto jogador estiveste mais de 15 épocas em Proença, outras tantas noutros clubes do futebol de distrital? Olhas para trás e como vês essa experiência?

Nuno Alves (NA): Antes de mais, agradecer ao Jornal de Proença o convite. Enquanto jogador passei por tudo: clubes que queriam subir, outros que queriam ficar no meio da tabela e também quando andava no campeonato da 3ª divisão a tentar não descer. Tudo realidades bem distintas, mas que me deu uma grande experiência. No fim de contas, o que fica são as amizades que se vão criando e que ficam para a vida toda. Só tenho de agradecer essa oportunidade e essa experiência que influenciou o que sou hoje.

JP: Mais tarde foste também dirigente de clubes, principalmente em Proença onde ocupaste quase todos os cargos. Qual foi o legado que achas que deixaste?

NA: O que fica é a obra que está à vista. Comecei como dirigente aos 20 anos em Proença, sendo que assumi a presidência de um clube aos 30 anos (vê-se poucos com essa idade), o Vilarregense Futebol Clube e assumi o risco, e isso é necessário em tudo, ser ambicioso nos objectivos e assumir o risco, tal como quando a assumi a ADCPN com a minha direção.

Relembro que quando tomamos posse a ADCPN tinha dois escalões de formação e os seniores, e passou num ano para ter todos os escalões de formação, a pré competição e os veteranos. Em termos de Futebol passou de um universo de 50 atletas para mais de 200!

Depois virámos também o clube na altura para seniores de futsal cobrindo a lacuna de o núcleo só ter futsal feminino. Iniciou-se também as caminhadas, que deu lugar ao Atletismo, o fitness, o badminton e a patinagem. Com isto tudo chegou-se a ter 300 atletas nas várias modalidades.

Demos a oportunidade de muitos jovens participarem no melhor torneio de futebol formação do mundo, o Gothia Cup, em Gotemburgo. Fomos lá 3 anos, com excelentes resultados e com excelente staff. Investimos nos técnicos e chegámos a ter 4 técnicos a tempo inteiro.

Só apostando na profissionalização dos técnicos é que se podiam ter resultados e passados 10 anos fomos campeões em tudo: de Iniciados, ganhamos títulos nos juvenis e Infantis e os Seniores com 75% de jogadores da terra, com participações condignas.

Conseguiu-se que, fosse onde fosse, já olhavam a ADCPN de uma forma diferente e muito mais organizada. Depois e muito importante a requalificação do sintético, fundamental para o desenvolvimento. E garanto-vos que não foi fácil, sendo que a cereja no topo do bolo foi termos ganho a candidatura aos novos balneários que este ano foram inaugurados. Fizemos 3 anos seguidos esta candidatura e só ao 3º ano foi aceite. Soube da sua aprovação final na minha última semana de mandato ao serviço da ADCPN. Finalmente e após esta maldita pandemia, já é uma realidade e os jovens do concelho já podem usufruir deles. Basta terem assistido ao Proença-a-Nova Cup, que deu para ver a brilhante infraestrutura e o essencial, que foi no sucesso do evento. Será certamente essencial no trabalho diário que brilhantemente a ADCPN, seu Presidente, Carlos Proença, seus diretores, treinadores e restante Staff fazem todos os dias para o bem comum.

JP: Qual foi a versão que gostaste mais? Estar lá dentro ou agora ver cá de fora?

NA: Sinceramente gostei de todas, porque passei por elas no tempo certo. Agora nesta altura fascina-me a parte diretiva e lançamento de novos projetos e candidaturas.

Gostei muito de ser jogador e joguei até aos 40 anos de idade, fui treinador em todas as camadas jovens, coordenador técnico, acho que passei por todas as valências, talvez por isso em determinadas situações tinha outra sensibilidade. Às vezes quando vejo jogos, dá vontade de ir lá para dentro e pôr a bola na baliza, mas isso vai ser sempre assim enquanto andar por cá.

JP: Foi na tua direção que o clube começou a desenvolver escalões de formação: é por aí que o clube deve continuar?

NA: Sem dúvida, a vitalidade de um clube passa, na minha opinião, pela formação. É esse o caminho certamente, para poder dar a oportunidade a todos de praticarem a modalidade rainha. Podem não vir a ser jogadores, mas serão certamente melhores pessoas por tudo o que o futebol trás, as amizades, as regras, os objectivos, as dificuldades, por tudo.

JP: O que pensas que pode vir a ser feito para aumentar a participação jovem no clube?

NA: Não é fácil, porque os Censos demonstram que ano após ano a população diminui no interior do país, ainda assim há sempre margem para progressão, relembro que este ano a AFCB, o Município e a FPF assinaram um protocolo de cooperação para aulas no 1º ciclo, que poderá ser vantajoso para todos e a ADCPN e o Núcleo de Juventude “beberem” do mesmo.

Para nós, AFCB, é essencial ir à base da pirâmide e isso é possível através da escola. Acredito que a médio prazo todos poderão ganhar com isso.

JP: Como olha para o projeto Futsal e Futebol for Kids”?

NA: O Projeto “O ensino do futebol e futsal no 1.º ciclo – Futsal e Futebol for Kids”, é um projeto onde o Município de Proença-a-Nova foi pioneiro e desde o primeiro minuto quis aderir. Trata-se de aulas de Expressão Físico-motora, onde o contato com a bola é uma constante. Cada turma do 1 ciclo que tem AEC/Expressão físico motora têm duas aulas mensais de futebol/futsal com critérios bem definidos nas suas unidades didáticas, bem como objetivos a atingir. Permitirá assim irmos à base de recrutamento que é a escola e proporcionar a ambos os géneros a possibilidade do contato com o futebol e futsal e assim ganhar o gosto pela modalidade. Acho fundamental até para o Género Feminino, uma vez que no nosso distrito há muito poucas atletas que praticam futebol e futsal feminino. Todos podem ganhar com isso, mas acima de tudo são as crianças que vão ganhar, dado que vão ter essa oportunidade de pelo menos ter o contato com o futebol e futsal.

JP: Neste momento estás também como vice-presidente da AF Castelo Branco. Que diferenças sentes nos últimos 20 anos no futebol distrital, de quando eras um estreante e agora como veterano?

NA: Muitas diferenças.  A negativa é que agora há menos equipas seniores e jogadores face ao que disse anteriormente. Positiva, muito mais atletas e equipas de formação, melhores recintos desportivos e material desportivo, melhores condições para a prática.

Neste momento e graças à Certificação, os clubes são mais organizados e semiprofissionais. E sendo mais organizados, toda a estrutura ganha com isso.

JP: Agora que termina a época: qual o balanço que se pode fazer? Positivo?

NA: Penso que sim, muito positivo. Convém relembrar que ainda não terminou a pandemia e estes dois anos foram catastróficos para todos, principalmente, na minha opinião, para os atletas em particular para o futebol de formação. Jamais será como dantes e estes dois anos vão demorar a ser recuperados.

Felizmente conseguimos atingir o número de atletas pré pandemia, mas ao nível do desenvolvimento e do conhecimento do jogo, dois anos parados fizeram mossa… obrigou-nos a todos a reinventar e os clubes fizeram, cada um à sua maneira, tentaram minimizar esses estragos.

Temos um campeonato distrital muito competitivo, basta ver que as 6 equipas que estão na fase campeão podem ganhar a cada uma delas, uma 2º divisão muito mais equilibrada onde aqueles resultados de 10-0 deixaram de existir como aconteceu na 1º fase em muito mais jogos. Não me lembro do último campeonato distrital com tantos jogos.

Ao nível da formação também muito boas equipas e com muita competitividade, mas penso que aí estes últimos dois anos vão demorar a recuperar, dado que o processo da sua formação como jogadores parou e não é num ano que conseguem recuperar o que se perdeu nos últimos dois. Mas Roma e Pavia não se fizeram num dia e há que acreditar que a partir de agora vai correr tudo bem.

JP: Consideras que os clubes seguem na direção certa neste momento para aumentar a qualidade ou há reparos que na tua ótica devam ser feitos?

NA: De uma maneira geral sim. Neste momento muitos deles são quase profissionais na maneira de trabalhar e não é fácil, porque já não há muitos dirigentes com disponibilidade para tal. Muita ‘malta nova’ que poderia ajudar e ser dirigente não quer ter esse trabalho e essa disponibilidade. Agora há sempre margem para poderem melhorar, mal de algum clube que pensa que faz tudo certo, até porque a perfeição não existe, mas o caminho é ir em busca dela.

JP: É possível verem-se mais equipas a entrar na distrital num futuro próximo?

NA: Penso que sim, sendo que não é fácil. Nós na AFCB temos essa missão enquanto dirigentes, ter mais clubes, mais atletas…  É a nossa obrigação, pelo menos, tentar.

JP: Neste momento já se deve estar a preparar a próxima época. Quais são as perspetivas? Manter este modelo das duas divisões ou alterar?

NA: Sim já estamos a preparar a próxima época e já foi enviado aos clubes documentação, com vista a que também pudessem sugerir melhorias. Em breve vamos reunir com os clubes para debater esse e outros assuntos, sempre com vista ao melhoramento do nosso Futebol.

JP: Vimos alguma revolta neste final de temporada. Como lidou a AFCB com este assunto?

NA: As regras sempre foram definidas desde o início e os clubes sabiam e deveriam saber disso.

A FPF estabeleceu regras e nós temos batalhado e o nosso Presidente, Manuel Candeias, tem sido um defensor acérrimo dos nossos clubes, porque os nossos clubes geograficamente e demograficamente não tem a mesma oportunidade que clubes do litoral, em que freguesias têm mais atletas que certos concelhos nossos. As regras são o que são, mas posso garantir que a AFCB e as outras Associações Distritais têm-se debatido fortemente na procura que essas discrepâncias possam ser amenizadas, principalmente no processo de certificação que a FPF obriga para poderem competir nos campeonatos profissionais.

Os clubes sabem que sempre podem contar connosco e sabem como o devem fazer. Nunca rejeitámos e sempre estivemos disponíveis para os receber, seja a direção ou o gabinete técnico ou os nossos funcionários.

JP: Que outros projetos podemos ver no futuro?

NA: Temos mais projetos em mente que iremos discutir no programa crescer 2022-2024 tal como o Futebol de Rua, Liga de Veteranos, Liga Empresas, Liga de futebol praia que queremos já este ano desenvolver no fantástico e recente Campo de Areia de Aldeia Ruiva – Proença-a-Nova, bem como outros que estão a ser pensados.

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1 Comentário

  • Entrevista muito bem conseguida e conduzida. Parabéns pela enorme qualidade do conteúdo!

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