Dedicatória

 Dedicatória
Rita Gonçalves
Rita Gonçalves, Gestora do lar e Mãe em full-time

Nem sempre aprendemos as melhores coisas onde esperamos. Eu e o meu filho mais novo costumamos ir fazer umas compras diárias a um supermercado da nossa praça. Como ele é um sorridente e gosta de comer o rabo do pão que compramos, as senhoras da caixa costumam sempre meter-se com ele. Um destes dias, uma dessas senhoras perguntava-lhe se ele queria ficar a ajudá-la, ele riu-se, ao que a senhora lhe disse:

– Não. Estuda, para seres melhor.

Recordo que fiquei tão impressionada com aquilo que procurei, por instantes, algo reconfortante para lhe dizer e não encontrei. Queria ter-lhe dito que a sua função era muito importante, pois, com o seu sorriso e a sua delicadeza, podia ajudar muitas pessoas que passavam por ela todos os dias. Que impacto pode ter na nossa vida um sorriso generoso, sobretudo quando vem de alguém que não precisava de ser generoso, que aparentemente não ganha nada em ser generoso e que está numa posição em que nem sequer se espera grande generosidade?

Na base da palavra generosidade está o termo indo-europeu gens que significa gerar ou fazer nascer e, de alguma forma, esta ideia está presente no conceito que temos hoje,  pois é generoso aquele que faz nascer alegria e generosidade no outro com quem se cruza.

Se nem sempre aprendemos as melhores coisas onde esperamos, vezes há em que colhemos flores no jardim que sempre nos dá boas colheitas. Um destes dias, tive a oportunidade de assistir a uma mini aula sobre Responsabilidade e Compromisso, dada por uma amiga muito querida e com quem tenho aprendido muito. Esta é uma amiga muito sábia e, se é verdade que muita sabedoria não está nos livros, também é verdade que quanto mais lemos, mais sabemos que estamos muito aquém do que devíamos e do que podíamos.

Esta minha amiga é assim. Sábia e simples, no que de melhor estas duas qualidades têm. E, por isso, é tão fácil para mim pedir-lhe ajuda, seja para uma boleia, seja para uma dúvida na educação dos filhos ou uma outra questão mais complexa ainda. A generosidade é também a capacidade de fazer nascer no outro a entrega das suas dúvidas e necessidades, sem medo de julgamentos.

Nesta aula de que vos falava, aprendi que não sou responsável quando domino tudo e todos, planeio tudo, mas quando sou capaz de responder a um compromisso assumido. Ora, isso é algo que é muito diferente do que vejo nos outros e em mim própria. Quantas vezes já disse que não assumia um determinado compromisso porque tinha medo de falhar? Isso é ser responsável? Não assumo compromissos porque sou responsável? Então como posso pôr em prática a minha responsabilidade se não assumo compromissos? Como posso cuidar da rosa que cativo se não cativo rosa nenhuma ou se só cativo as mais bonitas, deixando para trás, quiçá, as que realmente precisam?

De facto, como perguntava Caim – “Sou eu guardador do meu irmão?”, também nós nos perguntamos tantas e tantas vezes porque tenho de ser eu a fazer? Porque tenho de ser eu a assumir o compromisso? Porque tenho de ser eu o responsável?

Naquela caixa de supermercado, aquela senhora cativou o meu filho e assumiu a responsabilidade de lhe dar o melhor conselho que tinha para lhe dar, aquele que ela provavelmente também gostaria que lhe tivesse sido dado ou que gostaria de ter seguido. Foi generosa, fez nascer no meu filho a vontade de também ele ser generoso, devolvendo-lhe mais sorrisos e mais alegria, apesar não ter idade para compreender nada do conselho dado.

Naquela sala, a minha amiga cativou cada um dos ouvintes e ofereceu-nos as respostas que lhe pareceram mais enriquecedoras e também mais desafiantes. Foi generosa e foi responsável porque aceitou o compromisso de nos ensinar algo, mesmo sabendo que poderia não ter tempo para preparar tudo como queria, poderia não encontrar os melhores exemplos, poderia surgir uma circunstância familiar ou profissional que a impedisse de estar.

O quanto se aprende quando alguém supera a sua função e dá mais e dá o melhor?

À medida que o tempo passa, torna-se inevitável perceber a real importância da generosidade, pois, em retrospetiva, surgem tantos e tantos exemplos de coisas boas que me aconteceram, a mim e aos meus, porque alguém excedeu a sua responsabilidade, cativou-nos no seu coração e assumiu o compromisso de nos fazer felizes e melhores.

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