Colinas emblemáticas do Báltico

 Colinas emblemáticas do Báltico

Padre Doutor Aires Gameiro: 95 anos

Ao visitar um país as expetativas dão em surpresas.

Na visita aos três países do Báltico em agosto de 2025, assim aconteceu: são mais desenvolvidos que o esperado salário mínimo de 1300 € (Estónia); já constroem a linha do TGV (Riga); as planícies e florestas são imensas e pouco povoadas, cerca de 8 milhões para o dobro de território de Portugal; nas poucas autoestradas a velocidade é 110 km; do âmbar de resina de árvores fazem joias.

Visitam-se palácios, igrejas, parques naturais e castelos que falam de Cruzados e Ordens (religiosas) de Cavaleiros, de conquistas, construções e defesas de cidades-estados da Liga Hanseática.

No século XVI a Estónia e Letónia foram ocupadas pelos suecos e o Sul pela Polónia; e, mais tarde, os três foram ocupados pelos russos até 1918, e depois, independentes até à anexação alemã em 1941-1945, e à ocupação ilegal pela União Soviética até 1991, ingressando na União Europeia em 2004.

Confinam com países eslavos, mas falam línguas próprias. Além de muitos lagos e ilhas, os parques visitáveis são de grande atração turística.

O grupo visitou de barco a ilha, e o palácio de Trakai ao lado de Vilnius e, passada a fronteira para a Letónia, o palácio barroco e jardim de Rundale do Duque de Curlândia, pessoa com ego excessivo, que foi cansativa pelas muitas historiazinhas de amores infiéis com a Czarina, desfiadas de sala em sala pelo à volta das obras de arte. Agora, três notas sobre parques-colinas.

Na cidade de Vilnius, em Antakalnis Kapines, surpreendeu o parque-cemitério.

As aventuras conquistadoras de Napoleão e as de terra queimada de Moscovo apanharam de surpresa o “Grande Exército” de meio milhão de soldados de vinte países.

Na ida, Napoleão ocupou a Lituânia e fê-la principado vassalo.

No regresso, por 1812, perdeu quase todo o seu exército. O povo de Moscovo retirou-se e ficou sem gente e sem víveres, com neve e temperaturas geladas.

Os soldados morreram aos milhares, de frio, fome e doenças em batalhas e caminhos de fuga, e terão sido sepultados em valas comuns e pela neve.

Em anos recentes na colina referida, agora arborizada, terão sido descobertos os ossos de dois mil soldados em 2003 e mais 18 em 2010, reconhecidos pelos botões do uniforme e pelo ADN.

Faziam parte de unidades da guarda de Napoleão na sua retirada. Ver e ouvir o guia por caminhos ladeados de belas campas funerárias e de vastos relvados cobertos de centenas de simples cruzes deu para refletir no sentido de vida.

Como tantas outras, as guerras napoleónicas da “vã cobiça” do poder e da riqueza das conquistas guerreiras levaram a becos sem esperança, experiências de limite e sofrimentos inauditos.

De quem poderia vir, então, o alívio, a paz e a esperança? Não seria apenas de Quem criou e ama cada pessoa? Para não cair na total desesperança, aquelas cruzes sinalizavam o Salvador.

Nem de propósito, a peregrinação à Colina das Cruzes, a uns 50 km de Sialiaia e 250 de Vilnius (Lituânia), em que foram erguidas até hoje mais de 100 mil cruzes de todos os tamanhos a partir de 1831 pelos mortos de revolta popular, e de outra em 1863, e em maior número desde 1950 até hoje.

Os Soviéticos anti-cristãos tentaram retirar as cruzes como sucata, queimar as de madeira, partir as de pedra e lançá-las ao rio, e arrasar a colina. Nem fechando as estradas e clamando que havia surto de peste. Nada resultou. O Homem não dispensa a esperança. A leitura da colina só se pode fazer em sentido de fé e esperança no Crucificado.

Estamos no Jubileu de 2025. Com a visita de João Paulo II, em 1993, e implantada a maior cruz, oferecida por ele, aumentaram as cruzes dos devotos, turistas e peregrinos. Percorrem a colina, param, rezam, e há quem deixe ali o seu terço com a cruz e o troque por outro de âmbar na loja à entrada. E qual é o terceiro parque-colina visitado?

 O parque da Turaida em Sigulda (Letónia), à beira do rio Gauja, que oferece um passeio repousante, a iniciar-se na capela de madeira onde se expõe um exemplar da Bíblia traduzida em alemão por Lutero e a presença de uma senhora de serviço.

Na colina de relvado das “canções folclóricas”, um conjunto de 26 esculturas de granito de Ojars Indulis Ranka que o guia tentou apresentar como expressões da cultura soviética realística de que não é preciso falar.

A primeira tem mordaça. Contudo, os blocos dizem do lado de trás o contrário do que dizem pela frente. Ou como diz o livro guia “Os estados bálticos” (p.87): elas representam os valores culturais, da “tradição e da sabedoria do povo”.

Mas a Turaida não é só isso: inclui a lenda amorosa do túmulo da Maya (Rosa), o Castelo de Sigulda da Ordem Livónia, o Castelo de Turaida em tijolo.

E, ainda, a Gruta Gutmanis com muitas inscrições e uma nascente com lenda sobre o poder curativo da água, associada à lenda de amores de Maya (Rosa) referida antes.

Parece que lendo bem os sinais, o Amor cura sempre.

Pe. Aires Gameiro 

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