Bacalhau cozido sem bacalhau

 Bacalhau cozido sem bacalhau

Inicio este pequeno comentário por informar o leitor que pertenço à função pública e, como tal, usufruo da ADSE, tendo, portanto, acesso facilitado ao Sistema de Saúde Privado.

Estes últimos meses tenho observado com alguma perplexidade a luta laboral dos trabalhadores na área da saúde.

Por um lado, vejo a classe médica apenas preocupada com o seu bem-estar, alegando trabalhar um elevadíssimo  número de horas semanais levando-os à exaustão.

O que não entendo é, estando os médicos tão exausto como conseguem eles trabalhar cumulativamente no sistema privado!

Quem está cansado vai descansar para casa.  Conheço médicos que acumulam para duas entidades de saúde privadas.  

Na realidade como docente nunca entendi esta dualidade de critérios que existe há muitos anos os funcionários que trabalham para o Estado ligados à saúde são dos poucos que podem acumular o número de horas que bem entenderem ao contrário, por exemplo, dos docentes do ensino básico e secundário que só podem trabalhar um número de horas reduzidíssimo.

Por isso, um médico ou um enfermeiro que faça greve pode ir trabalhar para o setor privado para recuperar o valor perdido com a paralisação. 

Assim, os médicos e enfermeiros deveriam ter um número de horas máximo para acumular.

Outro aspecto que merece ser realçado é a total ausência de preocupação com os seus pacientes nas suas reivindicações

Os médicos alegam que a sua carreira já não é atrativa.  A ser verdade , como explicam eles que a média de acesso ao curso de medicina continua a ser escandalosamente elevada?

Contudo, os políticos em geral, não estão a desempenhar um papel que lhes corresponde. Se é verdade que o atual ministro da saúde deixou claro ser possível aumentar o salário exigido pelos médicos e muito bem.

Por outro lado, não toma medidas mais  eficazes tais como: Abrir novos cursos de medicina e, aqui também temos de analisar se  não há conflito de interesses pelo facto de ser a Ordem dos Médicos  quem avalia se uma instituição apresenta condições para abertura de um curso de medicina.

De facto, quanto menos cursos, menos médios, menos oferta mais caro se torna o serviço. Ninguém na classe política alerta para este facto. 

Além disso, fala-se muito nos lucros extraordinários da banca  e na área da distribuição com o aumento de juros bem como das entidades energéticas, mas nunca vi nenhum estudo sobre os lucros dos hospitais privados e das seguradoras que são os grandes beneficiários de um mau funcionamento  do SNS.

Penso que enquanto o ministro da saúde for um médico nunca vamos ter este problema minimamente resolvido pois ele enquanto médico não deixa de o ser pelo facto de ter a pasta de Ministro da Saúde por isso, penso que se pode falar em conflito de interesses. Isto ocorre em todos os governos, mesmo naqueles que não são socialistas.

Se a classe política não lutar contra este lobby existente quer na classe médica quer na classe de enfermagem, pode parecer que até têm interesse no SNS.  

Por um lado, quanto mais se recorrer ao privado menos despesa pública há, por outro manifesta um desinteresse pelos idosos pobres que já nada produzem, reflexo da cultura de descarte como muitas vezes descreve o Papa Francisco ao analisar a sociedade atual.

Sugiro que se faça parcerias com entidades privadas enquanto não forem formados médicos em número suficiente.  

Diria que esta discussão onde o doente é ignorado mais parece um prato de bacalhau cozido onde o bacalhau foi esquecido!

Maria Guimarães

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