As flores que importam

 As flores que importam

Se há legado que a revolução de Abril nos deixou, foi a liberdade de escolher as flores que gostamos. E isso é por si só, motivo para termos todos os dias a gratidão devida para com aqueles que de forma abnegada lutaram pela verdadeira liberdade. Infelizmente, são poucos, muito poucos, a maioria, rapidamente se revelou impostor da sua, e apenas sua, liberdade.

E se a saúde da democracia sofre hoje das mesmas maleitas do serviço nacional de saúde, as soluções para a salvar parecem aguardar numa infindável lista de espera. A corrupção, o compadrio, o “alzaimer” colectivo de corruptores e corrompidos, a inercia da justiça, ou o transformar dos ministérios governativos numa espécie de cortes monárquicas reservada ás elites e suas famílias, deixa a verdadeira liberdade em lista de espera cada vez mais distante.         

Mas que esperar de uma democracia que escolheu os cravos como símbolo? Os cravos, tal como as rosas, são flores muito agradáveis à vista, mas a sua utilidade finda-se nisso mesmo. Talvez porque os cravos comprados por um restaurante em 1974 não tivessem qualquer outra utilidade, acabaram na rua, distribuídos pelos soldados. Talvez porque o Partido Socialista é quem mais tem contribuído para o degradar da democracia, escolheu as rosas para seu referencial.

Já o rosmaninho “lavandula stoechas”, tanta vez desconhecido, esquecido e desprezado, é uma das mais importantes flores do panorama nacional. Útil e resiliente, como a maioria dos portugueses, segue o seu caminho e faz a sua função em prefeito silencio e completo alheamento ás futilidades de cravos e de rosas. Centenas de apicultores por este país fora esperam pela época em que este floresce na esperança de um ano próspero, numa actividade, como tantas outras do mundo rural, que fazem da resiliência à sua essência.

Amanhã, os cravos serão estatística, estatística do lixo que cada português produz. O Rosmaninho, esse será alimento, longe dos holofotes é certo, mas vivemos numa sociedade em que os holofotes cada vez mais dão destaque a quem de flores só conhece o fruto das papoilas fumadas na 24 de Julho.

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