Ainda em Novembro…
Ao longo do mês de Novembro e por circunstâncias várias senti necessidade de reflectir sobre o porquê de alguns festejos e celebrações que se realizaram por todo o Ocidente, Europa e EUA.
Como nada acontece por acaso, procurei saber quais as origens dos costumes e das tradições culturais ou religiosas que lhes estão subjacentes. Foi assim que me lancei em busca duma justificação para um contraste tão grande entre a prática sentida e intimamente vivida nos dias 1 e 2 deste mês e a hilariante e divertida festa recentemente celebrada na noite que a antecede, 31 de Outubro, a qual é alvo de muitas campanhas publicitárias, mediáticas e conta cada vez com mais adeptos não só entre os jovens, mas também já arrastando consigo outras gerações.
As festas de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos são milenares na Igreja Católica, o Halloween é uma tradição pagã multissecular com significado diferente pelo que não devem ser confundidas.
Com a Festa de 1 de Novembro a Igreja quer honrar os santos anónimos não canonizados, que viveram discretamente ao serviço de Deus e dos seus contemporâneos. Neste sentido é a festa de todos os baptizados, pois cada um está chamado por Deus à santidade e constitui um convite a experimentar a alegria daqueles que puseram Cristo no centro de suas vidas.
A 2 de Novembro é-nos proposta uma prática que se iniciou também com os primeiros cristãos. A ideia de convocar uma jornada especial de oração pelos falecidos, continuação de Todos os Santos, surgiu no século X, tendo a data sido fixada pelos monges de Cluny, em França. Reza-se para ajudar as almas no purgatório a obter a bem-aventurança celestial. Deste modo, a Igreja quer dar a entender que a morte é uma realidade que se pode e se deve assumir, pois constitui o passo no seguimento de Cristo ressuscitado. Isto explica as flores com que nestes dias se adornam as campas nos cemitérios e as velas que se acendem, sinal de vida e de esperança.
A tradição do Halloween remonta há mais de 2 000 anos, vem dos antigos povos bárbaros Celtas que habitavam na Grã-Bretanha e era celebrado no dia 31 de Outubro, data do Samhain, considerado o último dia de Verão e o início do Ano Novo Céltico.
Os Celtas realizavam a colheita nessa época do ano e, segundo um antigo ritual, os espíritos dos mortos voltavam à terra durante a noite, para se alimentar e assustar as pessoas. Então colocavam nas casas objetos assustadores como caveiras, ossos decorados, abóboras enfeitadas e costumavam vestir-se com máscaras horrendas para os afastar.
Com o passar do tempo, os cristãos chegaram à Grã-Bretanha, converteram os Celtas e os outros povos da Ilha e este ritual pagão transformou-se numa festa religiosa. Porém a tradição entre eles continuou, e além de celebrarem o “Dia de Todos os Santos”, os não convertidos ao Cristianismo celebravam também a noite da véspera do Dia de Todos os Santos com as suas máscaras e tradições, era chamada a noite de “All Hallows Evening” que abreviado deu o Halloween.
A meados do século XIX este ritual chegou aos Estados Unidos levado pelos emigrantes irlandeses, foi largamente difundida e popularizado, sendo também chamado o“Dia das Bruxas”. Apropriando-se de uma tradição originalmente britânica e irlandesa, os norte-americanos começaram a mascarar-se e a pedir dinheiro ou comida de porta em porta, uma prática que acabou por se tornar no actual “trick or treat” (“doce ou travessura”).
Os vínculos com a cultura celta, mesmo com a religiosidade incutida pela Igreja, foram-se perdendo com o passar dos anos. Actualmente, o Halloween é mais uma festa de cunho comercial, a segunda depois do Natal e de pretexto para a diversão.
Deste modo coexistiam as duas tradições: a pagã a celebrar os mortos, os espíritos, as bruxas e outras entidades representativas do mal e a cristã a celebrar os santos, os que vivem em Deus e a santidade a que todos somos chamados.