A Vida tem destes acontecimentos

 A Vida tem destes acontecimentos

imagem retirada de https://www.wdl.org/

Maria Helena Paes
Maria Helena Paes

Acordei feliz com a presença da minha neta que ia recomeçar a frequência das atividades dos escuteiros na paróquia. Ao fardar-se, chamou-me a atenção para as sapatilhas que já ficavam apertadas, bem como os calções. Enfim, o normal na fase de crescimento de uma criança. Sentia-se extremamente importante. Ia deixar o grupo dos “lobitos” e, a até agora denominada koala, passava a utilizar o seu nome próprio e a pertencer ao grupo dos “exploradores”. Um acontecimento a valorizar: já era crescida, como ela explicava. Deixei-a com o pai e parti na companhia de uma irmã, para proceder à visita de outra nossa irmã, que se encontrava doente. A seguir, iriámos visitar a Capela da Senhora do Monte com o seu Miradouro, que a minha irmã já conhecia e que muito gostaria de rever.

Quantas vezes, não teremos percecionado diferentes situações no nosso coração independentemente daquilo que nos querem transmitir. Falo por mim! Quando fui visitar a minha irmã doente, reparei que no seu olhar parecia existir a esperança de uma rápida recuperação. Mas, no fundo do meu coração, quando nos afastámos um pouco, tive a sensação de que me queria transmitir algo, ou seja, que sabia que eu tinha conhecimento de que não seria assim. O meu coração assim o percecionou. Saí de coração partido sem nada esclarecer. Pela minha mente surgiram as palavras do Papa Francisco encorajando os médicos a: “colocar a pessoa doente à frente da doença”, algo “fundamental para um tratamento que seja verdadeiramente humano. O amor pelo homem, especialmente na sua condição de fragilidade, na qual brilha a imagem de Jesus Crucificado, é específico de uma realidade cristã e nunca deve ser perdido. “Estamos a viver uma cultura de descarte, é isso que se respira e devemos reagir contra essa cultura”. Segundo o Papa Francisco: “toda a estrutura hospitalar…deve ser um local onde se pratica a cura da pessoa e onde se pode dizer: Aqui não se veem apenas médicos e pacientes, mas pessoas que se ajudam mutuamente: aqui encontra-se a terapia da dignidade humana: E com esta não se negoceia, defende-se sempre”. “A assistência médica tem e precisará cada vez mais de estar em rede…A caridade requer um dom: o conhecimento deve ser partilhado, a competência deve ser participada, a ciência deve ser em comum”.

Fiquei a pensar nas palavras do Papa. Oxalá se torne uma realidade que os diferentes serviços de saúde públicos e privados se unam em prol da promoção da saúde e do bem-estar do doente e das suas famílias que tantas vezes carecem de um apoio digno. Por uns momentos veio-me ao pensamento a cidade de Roma, mais precisamente o Vaticano e a felicidade de ter participado na cerimónia em que D. Álvaro del Portillo se tornou bispo na cerimónia celebrada pelo Papa S. João Paulo II, cuja memória se celebrou no passado 22 de outubro. Um grande Papa e um grande Santo! Tive também o privilégio que nunca esquecerei de assistir ao seu funeral. Ainda hoje ecoam nos meus ouvidos e na memória as orações dos fiéis enquanto aguardavam a entrada no Vaticano para a última despedida e que referiam a frase: “Santo subito” (“Santo imediatamente”). Hoje recordo um excerto da oração que S. João Paulo II rezava diariamente: “Vinde Espírito Criador…e enchei os corações com os vossos dons celestiais…, a nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, a nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetora, o nosso inimigo repeli e concedei-nos a vossa paz”.

Conforme combinado, segui com a minha irmã rumo à ermida de Nossa Senhora do Monte. Depois de uma subida íngreme, deparámo-nos com uma panorâmica de cortar a respiração pela sua beleza ímpar, ou seja, o Miradouro da Senhora do Monte situado na Graça, na Colina de Sto. André, igualmente conhecida pelo nome Monte de São Gens, situado no local onde o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, há nove séculos atrás, instalou o seu acampamento para a conquista da cidade de Lisboa tendo sido construída em 1147 a Ermida de Nossa Senhora do Monte que foi dedicada a São Gens, antigo bispo da cidade, martirizado nesse local. Os frades agostinhos colocaram no seu interior a cadeira de pedra que pertencera ao santo, tendo surgido a tradição que as senhoras grávidas que lá se sentassem, teriam partos sem complicações. Refere-se ainda que a própria mulher de D. João V, a rainha D. Maria Ana da Áustria, se foi lá sentar quando se encontrava grávida do herdeiro ao trono. Infelizmente durante o terramoto de 1755 a ermida viria a ficar praticamente destruída. A capela de Nossa Senhora do Monte seria construída um pouco mais acima do que a original no ano de 1796. No seu interior foi colocada a Cadeira de São Gens. Os frades agostinhos, iriam no ano 1291 para o Convento de Nossa Senhora da Graça. Ficámos felizes por ter ido ao local. Contudo a Capela encontrava-se fechada durante a manhã. Teremos de regressar numa próxima oportunidade para a visitar na parte da tarde. Ainda assim, a beleza do local trouxe-nos uma profunda paz aos nossos corações. Termino este artigo denominado A Vida tem Destes Acontecimentos, citando o exemplo de vida de Bento XVI que se encontra “cheio de entusiamo pela vida”. A arte de morrer bem, faz parte da vida. O Papa emérito mantém-se estável no meio das suas fraquezas físicas, muito lúcido mentalmente e muito abençoado pelo seu humor bávaro.

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