A ética está devoluta

 A ética está devoluta

Treze meses passados das eleições legislativas, em que o PS obteve uma irrefutável maioria parlamentar.

A única certeza que temos é que se mostra um governo incapaz de acrescentar qualquer valor ao país. E se, no anterior ciclo político, podíamos considerar que qualquer sonho de convergência com os países mais desenvolvidos estava condicionado pelas amarras da estrema esquerda, na actual legislatura, temos assistido a um governo que não se consegue livrar das amarras que o prendem ao seu próprio peso. Mais do que um governo, temos um punhado de governantes, quais náufragos completamente emaranhados nas redes do despudor, da corrupção e da imoral.

Os agricultores manifestam-se todos os dias contra uma ministra completamente desorientada;, os hospitais estão em situação de colapso; faltam meios de toda a ordem para que os profissionais desempenhem as suas funções com qualidade; os transportes públicos estão em rotura completa; os professores saíram à rua como nunca se tinha visto, para reclamar, mais que dinheiro, dignidade; e a inflação sobe a ritmo galopante, atirando cada vez mais população para o triste patamar da pobreza e dependência de apoio social.

Face a tudo isto, somos confrontados com um controverso plano de habitação que nos faz recordar os tristes tempos do PREC em que até as enxadas dos agricultores se previa nacionalizar. Estas medidas são tão mais graves se tivermos em conta que foi o ciclo político da chamada “geringonça” um dos principais, se não o principal, obreiro do degradar acelerado do património habitacional. Mas o pior da apresentação destas medidas, é que uma vez mais, é a reação a uma catástrofe ocorrida num sobrelotado apartamento em Lisboa e não o resultado de um rumo devidamente ponderado. Tal como as medidas apresentadas na sequência dos trágicos incêndios de 2017, o mais provável é ficar tudo na mesma. Outro dado muito pertinente é que todas as medidas apresentadas são sempre às custas de outros.

Sobre a recuperação das centenas de imoveis propriedade do estado central e das autarquias, que se encontram ao abandono, nem uma palavra. A intenção fica sempre retida da gaveta da burocracia e da falta de financiamento porque o pouco dinheiro existente é para gastar em ajustes directos a promover as ruínas que temos em banais novelas, difundidas em horário que ninguém vê.

Escolas primárias, postos do guarda fiscal, casas dos guardas florestais, casas dos antigos cantoneiros, instalações militares, entre tantos outros, continuarão abandonados a servir de triste cenário aos turistas que nos visitam, pois os que cá residem há muito que se resignaram.

Dizia Adriano Moreira, um dos últimos nossos grandes estadistas, que “Os valores são o eixo da roda. A roda anda, passa por mudanças, e o eixo acompanha a roda, mas não anda”.

Ora, é certo que o país enfrentou uma pandemia, tal como o mundo inteiro, e enfrenta uma guerra na Europa, tal como o mundo inteiro, mas a verdade é que, a cada dia que passa, vamos verificando que este governo não tem qualquer firmeza ou estratégia no papel que lhe compete de eixo orientador e promotor do desenvolvimento sustentável. As “rodas” que movimentam a nossa vida colectiva parecem cada vez mais próximas da desintegração total.

As demissões de ministros e secretários de estado envoltos em processos de corrupção, legal ou moral, seguem a um ritmo tão alucinante quanto os critérios alucinados de nomear governantes sem um mínimo de rigor ou decência. Para desviar as atenções do lamaçal que a carroça governativa percorre, e sem perspetiva que venha a trilhar um caminho seguro, há então que criar ruido, muito ruido. Desta vez foi a habitação.

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