Sorrir é Acariciar Com o Coração

 Sorrir é Acariciar Com o Coração

imagem retirada de https://www.1zoom.me/pt

Maria Helena Paes
Maria Helena Paes

Hoje fui fazer a minha caminhada nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian na sequência de um convite para um café de uma irmã e uma amiga. Estava-se tão bem na esplanada no meio da natureza envolvente. Era sempre um gosto enorme passear nos jardins desta Fundação que foi palco de tantos acontecimentos felizes na minha vida. Tantos sonhos aqui concretizados. A certa altura, durante o passeio, deparei-me com uma frase gravada em metal de C.S. Gulbenkian, que parecia ir de encontro ao meu pensamento, e que referia: “Ser um homem de ciência e um sonhador num jardim à minha maneira, foram grandes objetivos de vida que não consegui alcançar”. Continuei a caminhada recordando alguns momentos marcantes vivenciados em diferentes épocas da minha vida. Vi com clareza umas férias passadas numa praia quando era criança. Eu e dois dos meus irmãos saltávamos pela janela do quarto, ainda de madrugada, para irmos ajudar os pescadores a puxar as redes. Era lindo! Os peixes a saltar ainda vivos. Havia bolas de vidro muito bonitas nas redes. Infelizmente durou pouco tempo. Os pais tiveram conhecimento desta aventura, ficámos de castigo e proibidos de voltar a sair pela janela e de ajudar os pescadores. Sentimo-nos muito tristes, mas não ousámos sequer pensar desobedecer aos pais. Mais à frente recordo uma procissão a que assisti em Espanha durante a Páscoa na cidade de Huelva. Fiquei maravilhada com a sua beleza e imponência. O que mais me marcou foi quando a procissão parou junto a uma varanda cujas janelas se abriram e uma jovem veio cantar maravilhosamente a Nossa Senhora. Era de cortar a respiração, de fazer jorrar as lágrimas, algo sublime, mesmo transcendente que viria a ficar gravado na memória até aos dias de hoje. Julgo que seria o andor da Nossa Senhora das Dores, e a Verónica a cantar.

Continuo a caminhada… Há dias assim. Revivia um momento em que me sentia particularmente feliz. Passeava só na Praça de Espanha em Roma. Participava então num congresso sobre a Família. Vinha de uma audiência concedida pelo Papa São João Paulo II aos participantes, na Sala Minerva. Estava tão sensibilizado o Santo Padre com a realização deste evento e dos seus resultados futuros. Recordo o seu ar tão doce que nos transmitiu uma enorme sensação de paz, de serenidade como só um santo o pode fazer. Fui muito feliz nesses dias na cidade de Roma.

Era hora de regressar a casa. Abro o telemóvel para ver se há alguma mensagem. Infelizmente havia e não era boa. Um poeta amigo, José Manuel M. Pedro, tinha acabado de partir vítima da doença Covid-19. Meu Deus! Membro fundador do EPLP-Encontro de Poetas da Língua Portuguesa (Países CPLP). Com vários livros e antologias publicadas. Sempre disponível, atencioso e colaborante. Mais uma grande perda. Creio que a última vez que estivemos juntos foi numa tertúlia na casa da Amália Rodrigues. Cito parte de um poema seu. “… e na Maria da Mouraria uma guitarra faz silêncio ao canto, lugar cheio de magia e nostalgia, ouve-se uma voz mágica que nos envolve da Diva Amália, cantando o fado da Severa… Enquanto nos envolver a magia da sua voz e em todo o tempo acontecer, Amália ficará para sempre entre nós”. Também tu, José Pedro, poeta amigo, ficarás para sempre entre nós através do teu legado. Mal posso acreditar que a pandemia continua a causar tanta tristeza! Recordo uma frase de um familiar relativamente ao estado de saúde da sua mulher, que tinha sofrido um AVC, há já algum tempo, sem apresentar os progressos na recuperação que almejavam: “A saudade é a única dor que me faz esquecer todas as outras dores”.

Senti que tinha de seguir em frente apesar de todos os constrangimentos vivenciados ao meu redor, que me ultrapassavam, mas que causavam um enorme sofrimento e profunda tristeza. Só podia mesmo ajudar com a oração, deixando tudo nas mãos de Deus. Senhor, faça-se, cumpra-se a Tua amabilíssima e justíssima vontade!” Interiormente pareceu-me ouvir a canção ”Smile” (Sorria) cantada por Nat King Cole que referia: “Sorria apesar das nuvens no céu, sorria e talvez amanhã veja o sol a brilhar para si. Esconda cada traço de tristeza… vai descobrir que a vida vale a pena ser vivida se sorrir”. Concluo este artigo denominado “Sorrir é acariciar com o coração”. Inspirei-me numa frase do Papa Francisco que acrescentou ainda: “O sorriso como expressão de amor e de carinho é tipicamente humano”.

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