SABEDORIA


Gosto de um diálogo imaginário, entre um mestre e seu discípulo, que volta e meia reaparece na rede mundial:
– Mestre, qual o segredo da sabedoria?
– Não discutir com idiotas.
– Não concordo …
– Você tem razão!
Sabedoria! Quão raras vezes a temos. Quão admiráveis são as pessoas que se regem por ela, por mais incultas que sejam. Quão lastimáveis os empolados, os boquirrotos e cultos que não a possuem.
Em seu discurso no parlamento alemão, em 2011, Bento XVI recorreu ao Primeiro Livro dos Reis para lembrar à platéia que Deus concedeu a Salomão o direito de fazer um pedido no momento de sua entronização. Salomão não pediu sucesso, riqueza ou vida longa. Sabemos que estas palavras são correntes nos dias que vivemos, que figuram entre os votos mais utilizados entre amigos, o que de pronto sugere a pobreza em que navegamos.
Salomão, hoje, surpreenderia. Talvez, mesmo, passasse por maluco: “Concede ao teu servo um coração dócil, para saber administrar a justiça ao teu povo e discernir o bem do mal” (1 Re 3,9). Pelo que se conhece de seu reinado, de suas decisões diante de dilemas complexos – como aquele de descobrir quem era a mãe verdadeira dentre as duas mulheres que reivindicavam uma criança,- Deus o atendeu.
No Reichstag, símbolo de Berlim, reconstruído das ruínas, Bento XVI exortou os europeus a se valerem de seu patrimônio cultural, a retomar seu tripé civilizacional: a revelação de Jerusalém, a filosofia de Atenas e o direito de Roma. No final, foi aplaudido de pé, por mais de um minuto. Alguns deputados de esquerda boicotaram o evento. Um deles justificou o gesto: “Em nossa Constituição está escrito que todas as religiões devem ser tratadas igualmente. Para mim, este convite não respeita esta disposição”. O que diria o mestre a um tal discípulo? Você tem razão!
Enquanto isto, milhares de pessoas se reuniram numa das praças mais conhecidas da cidade para protestar contra a visita. Entre os cartazes mais amenos, agitados por ativistas que se consideram “progressistas”, um deles estampava “Papa go home”. Nenhuma surpresa num país que, a par de ser berço de renomados filósofos, produziu um dos maiores desastres na história da humanidade. Açoitada pelo passado, uma Alemanha cada vez mais agnóstica – que a bem da verdade não a diferencia de boa parte dos demais países da Europa,- mergulhou no relativismo e seus valores vêm sendo corroídos em meio aos notáveis progresso econômico e bem estar social.
Ao mencionar que também existe uma ecologia do homem, Bento XVI afirmou que “Também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece. O homem não é apenas uma liberdade que se cria por si própria. O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza, e a sua vontade é justa quando respeita a natureza e a escuta e quando se aceita a si mesmo por aquilo que é e que não se criou por si mesmo. Assim mesmo, e só assim, é que se realiza a verdadeira liberdade humana”.
Suas palavras não foram ouvidas pelos tantos a que também se destinavam e que no entanto gritavam palavras de ordem nas ruas daquela capital. Bento XVI, sábio, lançou mão de seus reconhecidos recursos filosóficos para derribar os que desfraldam bandeiras que defendem a natureza das matas, dos rios, dos céus e dos mares, mas não as empunham em prol de outras realidades naturais do homem, de sua concepção, de sua natureza. De volta à Roma, Bento disse que os momentos na Alemanha “foram um precioso presente que nos fizeram perceber novamente como é Deus quem dá à nossa vida o sentido mais profundo, a verdadeira plenitude”.