Rios de paz de Coração a corações

Jubileu dos Consagrados

A que comparar o Jubileu dos Consagrados, Roma, 2025?
Desordem organizada, rios de gente e de paz; cidade em oração e sacrifícios de reparação nas pegadas de Cristo?
Corriam, corriam sempre, gentes afluentes, concorrentes por entre obstáculos, barreiras de povo, multidões a querer chegar e entrar.
Eram gente, corações, grupos apressados.
Um Coração de paz e amor as atraia, as conduzia, as impelia; amparava os fracos, idosos de bengala apoiados por Cireneus e jovens fortes.
Consagrados, consagradas, famílias de seus carismas. Uns vigorosos, outros cansados, corajosos ou sentados na base das colunas, marcos e dintéis de canteiros.
O tempo urgia, e logo retomavam a marcha em rebanhos com guias de bandeirinhas, fileiras, ora alinhadas ora confusas, em montões a avançar quais pelotões desarmados, corações em júbilo, cantando hinos orantes e a sofrer de pernas, sede e contrariedades oferecidas como penas reparadoras dos estragos de culpas já perdoadas.
Reinava a esperança de jovens e idosos. Teriam feito a promessa de aceitar as alegrias e hosanas de Ramos e as dores da via Sacra e da cruz, a própria e a dos irmãos. Tudo era oferecido para os rios de paz e paciência: barreiras a fechar saídas, a obrigar a mais cem ou duzentos metros de desvios, que esta mole de peregrinos cortasse o passo a outra massa de peregrinos em linha diagonal ou transversal.
Barreiras, a não acabar, de voluntários, polícia, exército e máquinas! Ninguém parecia zangar-se, alterar-se ou violentar. Apenas impaciências pacíficas e marchas lentas de grupos, aos duzentos caminhantes, atrás da sua cruz.
E lá iam percorrendo quinhentos metros a cantar e rezar até à porta santa de S. Pedro. Nas outras portas santas: S. Paulo, S. João de Latrão, Santa Maria Maior, outras enchentes de filas a passar os portais de Raios X e o controle das bolsas de mão.
A rezar e em silêncio, a deixar-se amar pelo outro Coração. Cuidado com os pacemakers e os carteiristas!
Os rios correm do passado para o presente, das fontes para o Amor do Futuro, a Eternidade.
No início percorreram-se os muitos passados pela cidade Museu do Vaticano. A que os comparar? À passagem do Mar Vermelho e do Deserto ou à travessia de Nínive por Jonas?
De todo o modo, passou-se pela História a correr, não deu para parar. Caudaloso rio de gente; entra, para, sobe escada, desce escada, aperta, alarga, olha à pressa, não há tempo para demorar e ver.
Volta à esquerda, à direita, esta sala, outra sala, dezenas de salas, e esse corredor imenso da Pinacoteca, tudo cheio de arte e histórias que nenhum tempo do mundo chega para cada par de olhos de milhares de pessoas a correr poderem ler. Tanta arte parada! Olha aqui, olha ali, desvia-te, pessoas, muitas, querem passar, deixa passar o da bengala e aqueles pais com o carrinho de bebé.
Desvia-te, corre se queres chegar ao Juízo Final da História na Capela Sistina. Sim, por que as penas ligadas às culpas pessoais podem-se reparar em Jubileu. Os caminhos da História são de redenção e de reparação.
E ninguém está dispensado da sua parte. O mundo chagado está a ser reparar no hospital de jubileu perpétuo na descoberta de que é amado pelo Coração que se queixa de o seu amor não ser aceite. O Museu é de balizas da História com esperança de eternidade no Amor.
O Jubileu faz parte do rio de paz e esperança, do perdão da culpa; e do perdão das penas temporais. As culpas, pelo perdão do Pai aos filhos arrependidos pela confissão sacramental ou desejo dela; as penas temporais, curadas pela penitência a reparar os estragos do pecado, são aceites pelos pecadores unidos a Cristo e à Igreja em Comunhão dos Santos (cf. Credo dos Apóstolos).
Graça sempre presente na Missa e confissão nesta ou naquela igreja ou recanto digno. O pedido suspeito ao padre sentado na base de uma coluna já de noite, seria? Jesus disse: “hoje estarás comigo no Paraíso”. O ladrão já arrependido, confessou. Perdoado da culpa, aceitou a pena de morrer na cruz para reparar o mal.
Pelos caminhos de Assis já se meditava no “Perdão de Assis” (Indulgência plenária) e pensava-se nas palavras: “Francisco, repara a minha Igreja”, e contemplavam-se as belezas dos verdes únicos por colinas e vales de Terni e Spoleto. E na pequenina “Porciúncula” santificada pela irmã morte de Francisco, pasmava-se como tal insignificância ficou sob o manto da esplendorosa Basílica a elevar o pensamento para o “Dilexi te” do cuidado dos pobres do Papa Leão.
Em Florença, surpreendeu a beleza do Batistério e da fachada da Catedral a convidar para passar mais uma porta santa. Em Assis, Caros Acutis, em fato de treino, na Igreja Matriz, a lembrar que a Eucaristia é o Coração de Cristo que alimenta a esperança de vida eterna. Jubileu, afinal, é ouvir: “que alegria quando me disseram, vamos para a Casa do Senhor!”