Opinião: Talita Kum

Padre Luís Manuel Bairrada
Hoje quero colocar nas tuas mãos, caro leitor, duas histórias trágicas, nas quais Jesus entra, não para explicar a dor e a morte, mas para mostrar o coração de Deus, amante e senhor da vida.
Na primeira história, Jairo, importante chefe de sinagoga, num gesto de desespero e humildade, atira-se aos pés do Mestre e, com insistência, pede-lhe que lhe cure a filha que está a morrer. Acto de fé ou de aflição? Não sei, mas são felizes todos os Jairos desta terra que intercedem e perturbam continuamente o Senhor por tua causa ou pela minha. Todos aqueles que incomodam o Criador até que Ele entre na nossa casa, na nossa vida, mudando-lhe o rumo.
Cada um de nós é aquela jovem, na casa das lágrimas, que Jesus pega pela mão, dizendo: Talita Kum!
Levanta-te! Atreve-te a acreditar e a esperar! Acorda a vida adormecida que há em ti! Retoma a descoberta do amor e a alegria de viver! Cada dia é dia de Páscoa, de ressurreição!
A outra história trágica apresenta-nos uma mulher, sem nome nem títulos, aproximando-se no meio da multidão de Jesus apenas para “roubar” o milagre, esperando que ninguém a veja a tocar as vestes da graça.
Há 12 anos que esta mulher se esvaía em sangue e em solidão. Na verdade, tantos se aproximam de Jesus, mas só ela lhe toca o coração. Maravilhoso ver que aquela que sofria da hemorragia social e sentimental, despida de caricias humanas, é curada por um toque!
É no calor de um gesto que Jesus “rouba” o estéril anonimato à mulher e a enche de esperança. Agora é filha, pessoa amada e tocada, moldada novamente do barro frágil e ressuscitada para uma vida nova. Duas pessoas, duas condições e dois modos diferentes de se aproximar de Jesus: uma proclama abertamente a sua fé; a outra manifesta uma fé silenciosa.
No fundo ambas estão unidas pela confiança de colocar a vida nas mãos de Jesus. E isso para Deus basta. Bastam os nossos fragmentos frágeis de fé para que o seu coração vibre. E quando pensarmos que tudo acabou, Ele nos sussurrará: o teu coração não morreu, apenas dorme! Porque a vida não morre, apenas adormece.
O encanto não morre, apenas entorpece. Para Deus a morte é uma ilusão, nunca a realidade! Muito em nós dorme, se esvai em anonimato e desfalece a vida.
Mas porque o amor não conhece limites, Deus é capaz de atravessar o limiar do sono e da morte para, com seu instinto de vida, nos repetir: Filho meu, levanta-te! Levanta-te, amigo leitor, porque o amor não foi criado para morrer, mas para viver! Descobre formas de tocar o coração de Jesus e o dos irmãos para que a corrente de amor não se parta.