O Zé do Telhado em Portugal e em Angola

O século XIX português ficou marcado por guerras civis que opuseram absolutistas e liberais.
No meio dessas convulsões destacou-se José Teixeira da Silva, natural de Penafiel, mais tarde conhecido como Zé do Telhado.
Combateu ao lado dos liberais contra os miguelistas, demonstrando coragem e disciplina.
Essa experiência de campanha deu-lhe estatuto de militar respeitado, chegando a sargento e adquirindo um conhecimento de armas e de táticas que ficaria gravado no seu percurso.
Terminada a guerra civil, a vida não lhe trouxe a estabilidade esperada.
Os anos seguintes conduziram-no à criminalidade, com assaltos que o transformaram em figura lendária no norte do país.
O contraste entre o antigo combatente liberal e o salteador famoso tornou-se parte essencial do seu mito.
A captura e a condenação levaram-no ao degredo em Angola.
A colónia funcionava como espaço de expiação, mas também como posto militar avançado do império português.
O homem que havia combatido nos campos de batalha da guerra civil foi integrado em destacamentos responsáveis pela defesa de Luanda e por trabalhos de fortificação.
Há registos de participação em guarnições que asseguravam a ordem em territórios ainda instáveis, onde Portugal procurava consolidar a presença europeia.
O Zé do Telhado em África deixou de ser o fora da lei para regressar à disciplina das armas.
O mesmo saber militar que utilizara nas campanhas liberais voltou a ser aproveitado, desta vez em serviço forçado da coroa.
A ironia não passa despercebida. O salteador que desafiara a ordem em Portugal contribuiu para reforçar a autoridade do Estado em Angola.
A sua vida ficou assim repartida entre dois destinos. O herói popular e temido salteador das serranias do Douro sobreviveu nas memórias e nos contos orais.
O militar liberal e o degredado de Angola permanecem como testemunho de como o império absorvia até os homens mais insubmissos, transformando rebeldes em soldados da colónia.
O Zé do Telhado simboliza essa ambiguidade, lembrando que a História de Portugal se escreve sempre entre fronteiras e que até as lendas tiveram capítulos africanos.
