O último Livro que li

 O último Livro que li
Maria Susana Mexia, Professora de Filosofia e Antropologia Filosófica

Cretino é uma palavra muito desconfortável, forte e incomodativa.

Consultando o seu significado no dicionário remeteu-me para um indivíduo dotado de debilidade mental, idiota, imbecil, pessoa que revela falta de inteligência, de delicadeza ou de escrúpulos.

Esclarecida de que os “nativos digitais” não existem, são apenas uma lenda criada para seduzir ainda mais, é o maior disparate que se disse e redisse, porque contribui para as políticas publicas, especialmente na área da educação.

Este mito não é inócuo, levando os pais a crer que os seus filhos são uns verdadeiros génios digitais, a indústria da tecnologia floresce enquanto a inteligência dos jovens é empobrecida, coartada ou mesmo atrofiada.

Não poderia ficar tranquila se não partilhasse com outros pais, avós e todos os leitores o perigo que os ecrãs representam para as crianças e jovens.

«Estamos a viver uma situação muitíssimo preocupante. O autor deste livro afirmou, numa entrevista à BBC que se tornou viral, que os nativos digitais são os primeiros filhos a terem um QI inferior ao dos pais.

Após milhares de anos de evolução, o ser humano está agora a regredir em termos cognitivos e de capacidades intelectuais — por culpa da exposição excessiva a ecrãs.

O tempo que as novas gerações passam a interagir com smartphones, tablets, computadores e televisão é elevadíssimo.

  • Aos 2 anos, as crianças dos países ocidentais consagram todos os dias quase três horas a ecrãs.
  • Entre os 8 e os 12 anos, esse tempo aumenta para cerca de quatro horas e quarenta e cinco minutos.
  • Entre os 13 e os 18, a exposição é em média de seis horas e quarenta e cinco minutos diários.
  • Em termos anuais, são cerca de mil horas para um aluno do 1.º ciclo do ensino básico (quase o mesmo número de horas de um ano escolar) e 1700 para um do 2.º ciclo.
  • Já para um aluno do 3.º ciclo e do ensino secundário, falamos de 2400 horas anuais, o equivalente a um ano e meio de trabalho a tempo inteiro.

Ao contrário do que se pensava, a profusão de ecrãs a que os nossos filhos estão expostos está longe de lhes melhorar as aptidões.

Na verdade, verifica-se precisamente o oposto:

  • acarreta consequências pesadas ao nível da saúde (obesidade, desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diminuição da esperança de vida),
  • em termos de comportamento (agressividade, depressão, ansiedade) e no campo das capacidades intelectuais (linguagem, concentração e memorização).

Tudo isto afecta gravemente o rendimento escolar dos jovens e o seu desenvolvimento.»

A Fábrica de Cretinos Digitais é um trabalho do neurocientista francês, Michel Desmurget, no qual apresenta o resultado de muitos e longos estudos científicos sobre este tema-problema.

Um livro pertinente e inquietante que transmite um cenário doloroso sobre os efeitos que o consumo das tecnologias digitais em excesso está a ter nos cérebros dos nossos filhos. Este trabalho mereceu o prémio do melhor ensaio em França.

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