O último apaga a luz

Duas semanas depois da inédita falha de energia eléctrica que deixou a Península Ibérica paralisada, não sabemos ainda a causa, e poderemos até nunca a vir a saber.
Em primeiro porque a falha pode ser fruto de uma série de factores que coloca aos investigadores um sério dilema muito similar ao velho desafio de quem nasceu primeiro, se o ovo, se a galinha.
Em segundo, porque um assunto tão sensível, e embora não haja até ao momento qualquer indício conhecido de intervenção intencional, a divulgação de eventuais pontos críticos da rede eléctrica pode configurar um risco acrescido para a segurança e soberania dos países afectados.
Parece, no entanto, ser já seguro afirmar que o “apagão” teve origem num excesso de confiança nas energias, ditas renováveis, em especial da produção fotovoltaica. Produção que teve por base, excesso de decisões políticas e défice de acompanhamento técnico devidamente experiente.
Passámos de uma produção assente nas centrais térmicas a carvão, devidamente auxiliadas pelas centrais hídricas, para uma produção essencialmente fotovoltaica e eólica, que sendo estas bastante voláteis, obriga a um excessivo recorrer ás nossas albufeiras, tendo levado ao seu esvaziamento acelerado, colocando um sério desafio à gestão da água, especialmente no cenário de ciclos de seca prolongados.
Em resumo, colocámos a nossa produção de energia dependente do Sol risonho, do vento de bom humor e de um São Pedro generoso.
Já sobre as consequências, há dois pontos importantes a analisar com a frieza, mas também com a firmeza, que o assunto merece.
O comportamento do cidadão comum. Considerando a dimensão Ibérica do problema, é de realçar o civismo com que a maioria da população encarou a situação. Não podemos, no entanto, deixar de olhar com preocupação para aqueles que numa elevada dose de histerismo correram para hipermercados e bombas de combustível.
Num mundo que todos queremos acreditar estar cada vez mais moderno e civilizado, não devíamos permitir que o instinto de sobrevivência animalesco, entre em fermentação acelerada ao mínimo sinal de alerta.
Importa, portanto, refletir sobre que medidas a sociedade no seu todo deve tomar, incluindo coercivas, se situações como estas voltarem a acontecer.
Sobre o poder político.
Podemos sempre começar por questionar o governo em exercício, sobre as medidas tomadas. Certamente que nem todas foram as mais corretas, mas é bom lembrar que forma medidas tomadas sobre uma situação inédita, instantânea, e praticamente sem aviso. Este foi um problema que não teve tempo de “incubação” prévio como foi por exemplo os incêndios de 2017 ou o Covid19.
Já sobre o principal partido da oposição, não deixa de ser lamentável que tenha havido uma amnesia generalizada sobre a forma como conduziu os problemas quando foi governo, e que se tenha especialmente esquecido da sua parte de responsabilidade no percurso que a gestão de energia sofreu durante os últimos anos, tendo sido o grande responsável pelas politicas implementadas para agradar aos seus parceiros de geringonça, sem estarem devidamente garantidas soluções técnicas para suporte das alterações.
Sobre a restante oposição, o habitual canibalismo próprio de abutres sempre a devorar qualquer animal moribundo, sem responsabilidades e sem soluções.

