O sentido, valor e utilidade da vida

 O sentido, valor e utilidade da vida

A palavra doente invoca em mim muitas experiências. Quando chegamos a 11 de Fevereiro, celebro o dia mundial do doente como o meu dia também. Além das experiências de dor e sofrimento físico que me têm acompanhado ao longo da vida, há um sofrimento espiritual que só Deus cura que é importante celebrar.

Lembro-me que foi a doença que permitiu 11 meses de internamento e que me fez pensar, na altura, sobre o sentido, o valor e a utilidade da minha vida. Houve momentos de aparente silêncio, mas extrema revolta, acima de tudo com Deus que permitiu estar ali. E o estar ali tanto tempo, permitiu que me reconciliasse com Ele e busquei caminhos de futuro. Hoje não me preocupa ter deficiência física. Porém, há um receio latente quanto a saber viver o sofrimento e dar-lhe sentido.

Em relação aos sofrimentos do tempo presente, o professor Covid veio lembrar-me algo muito antigo, que a humanidade tende a não aprender e que Jesus disse em frases como «Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (Mt 23, 8), chamando-nos a viver uma fraternidade universal. De facto, ele infecta o que está mais a jeito: técnicos de saúde, doentes, ricos, pobres, doutores, iletrados, inteligentes…. Está claro que somos iguais, somos da mesma massa e da mesma dignidade. O Covid não distingue as categorias sociais estabelecidas pelos humanos. É a primeira lição.

A segunda lição do Prof. Covid é, face à compreensão do que somos, agir como verdadeira fraternidade universal. Esta fraternidade não só seria facilitadora para vencer crises como esta como também outros flagelos sociais. Ele fez aparecer muitas iniciativas pontuais fraternas.

A terceira lição: podemos não considerar a dependência de Deus que nos ama e salva a partir da história da humanidade para a eternidade, mas estamos dependentes do Covid para viver, mais ou menos, esta vida terrena. Rejeitamos a dependência do Amor para vivermos na dependência do medo.

Quarta: a evidente vulnerabilidade do doente tipo internado a precisar de cuidados confronta-se com a vulnerabilidade do cuidador, técnico de saúde, exausto, que tem as suas feridas existenciais, familiares e sociais e põe a nu as fragilidades dos nossos sistemas de saúde. E isto não acontece só em tempo de pandemia.

Há bondade no ser humano, quinta lição. Muitos são os samaritanos que se aproximam para cuidar, lutar, não esquecer o frágil. Ainda que alguns deputados apontem caminhos de morte, muitos cidadãos lutam para terem vida digna até ao fim, para si e para o seus semelhantes.

Sexta lição: a história continua a ser feita de nomes, rostos, histórias de vida e morte que se cruzam entre doentes e técnicos. Neste encontro de pessoas nasce, entre a debilidade e o saber técnico, uma relação de confiança que pode permitir o milagre: a cura ou o fim digno do doente e a realização pessoal e profissional do técnico. O viver e o morrer ainda que sejam momentos pessoais têm repercussões familiares e sociais significativas.

Por último, sétima, nascer para morrer por causa de “Covides” não faz sentido. Morrer não faz sentido quando eu só quero viver. Porém, é inevitável. O Covid, o sofrimento, a doença, a morte são realidades que nos desafiam à meditação, à reflexão sobre o sentido da vida e, aí, encontrar, na humanidade sofredora e frágil a eternidade, o Deus de Jesus Cristo.

Padre Virgílio

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