O princípio da destruição – salpicos filosóficos

 O princípio da destruição – salpicos filosóficos

No século XIX, Karl Marx, natural da Renânia, província ao sul da Prússia, depois de concluir os seus estudos no Liceu foi estudar Direito na Universidade de Bonn, onde participou nas lutas políticas estudantis. Transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde se propagavam as ideias de Hegel, destacado filósofo e idealista alemão. Estudou Filosofia, fez parte dos “hegelianos de esquerda”, que procuravam analisar as questões sociais, fundamentadas na necessidade de transformações na burguesia da Alemanha.

Na Universidade de Jena, defendeu a sua tese com brilhantismo, mas Marx não foi nomeado para professor por motivos políticos, pois a Universidade não aceitava mestres que seguiam as ideias de Hegel.

Esta recusa levou-o a dedicar-se à Sociologia Política e à causa revolucionária, profetizando uma sociedade justa, sem classes, sem governo, o que só poderia aconteceria através duma revolução dos trabalhadores. Saiu da Alemanha foi para Paris de onde também foi convidado a partir.

No segundo congresso da Liga dos Justos, Marx e Engels foram convidados a redigir um manifesto. Baseado no trabalho “Os princípios do comunismo”, de Engels, Marx escreveu “O Manifesto Comunista”, no qual reuniu as suas principais ideias, fazendo duras críticas ao capitalismo, sintetizou a história do movimento operário e convocou trabalhadores do mundo a unirem-se. Em suma, o ideal de Marx era a implantação de um paraíso terrestre, de uma sociedade justa e perfeita.

Em 1864, Marx participou da criação da “Associação Internacional dos Trabalhadores”, que ficaria conhecida como Primeira Internacional Socialista. Com a colaboração de seu grande amigo, Engels, Marx publicou em 1867 o primeiro volume de “O Capital”, a sua principal obra. Os outros dois volumes de “O Capital” foram organizados e publicados por Engels após a morte do autor.

Marx também foi um crítico sagaz da religião: “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.” Porém não se dedicou ao estudo da actividade religiosa, limitando-se a seguir as opiniões de Ludwig Feuerbach, um ateu convicto, para quem a religião não expressa a vontade de nenhum Deus ou outro ser metafísico, mas foi criada pela fabulação dos homens. Marx, de certa forma, já tinha percebido que havia um factor cultural que alienava o povo.

A revolução russa de 1917 teve o seu caminho, com Lenine, Estaline e Trotsky. Mas a crise teórica do marxismo foi detectada logo a seguir à I Guerra Mundial com Gramsci, filósofo marxistajornalistacrítico literário, linguista, historiador e político italiano, membro-fundador e secretário-geral do Partido Comunista da Itália, deputado pelo distrito do Vêneto e preso pelo regime fascista de Benito Mussolini.

Gramsci esteve na URSS, durante a década de 20 e concluiu que era necessário destruir a cultura ocidental, sem armas mas minando e corroendo as mentes, lentamente, anonimamente, gradualmente, como um veneno que se ministra ao paciente como se fosse um remédio, como se fosse o medicamento de sua salvação. Em suma, em nome da dignidade e da liberdade do homem, criar-se uma ditadura.

Se Marx quis implantar uma sociedade nova aqui na terra, Gramsci mostrou que os meios para tal empreendimento são os culturais, já que os métodos armados não deram o resultado esperado. O que Gramsci propõe foi uma mudança do interior das pessoas, pois somente assim acontecerá verdadeiramente o início da nova sociedade. É necessário aculturar as pessoas, acabar com a cultura de cada uma delas.

Mas, o objetivo principal, na realidade, era a destruição da família, pois para o pensamento marxista a família é um valor burguês, uma desgraça que precisa de ser extinta, já que está baseada em elementos que impedem a revolução: a propriedade privada, a opressão patriarcal e a ética sexual.

Para Gramsci e para os marxistas culturais, o grande adversário a ser derrubado era a ética judaico-cristã, a filosofia grega, o direito romano, qual espécie de veneno que alienava as pessoas, impedindo os trabalhadores de lutarem de forma revolucionária.

Um exemplo é a defesa das relações homossexuais, onde se encontra uma clara afronta à moral sexual cristã e uma violação ao patriarcalismo ocidental, não dando origem a herdeiros. A propaganda é a defesa dos direitos dos homossexuais, mas o interesse verdadeiro é a destruição da família. “Como o povo está alienado, com um pensamento cristão muito arraigado, é necessário entrar na sua consciência e arrancar à força os seus valores”.

 “Após a queda da URSS, em 1989, muitos sectores do mundo livre descansaram com a sensação de que a utopia colectivista havia sido derrotada para sempre. Contudo, poucos anos depois, abraçando novas bandeiras e reinventando o seu discurso, ergueu-se uma espécie de neocomunismo que passou a dominar, em grande medida, o ambiente político e cultural do Ocidente.

Os velhos princípios socialistas da luta de classes, do materialismo dialético, das guerrilhas e da revolução proletária, foram substituídos por uma nova agenda progressista na qual se destacam a ecologia, a igualdade, a inclusão, a diversidade, os direitos das minorias, o feminismo radical e a ideologia de género.

A nova esquerda agora sequestra as mentalidades e o senso comum; não se esforça para tomar as fábricas, mas para ocupar os meios de comunicação e as universidades; e não tenta confiscar as propriedades, mas as almas, corações e mentes.

O Livro Negro da Nova Esquerda, best-seller em toda a América Latina, escrito pelos argentinos Nicolás Márquez e Agustín Laje, questiona de forma veemente os “dogmas” deste progressismo revolucionário que devasta a cultura, a civilização e as estruturas sociais vigentes.

“A cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma, do encontro entre a fé no Deus de Israel, a razão filosófica dos Gregos e o pensamento jurídico de Roma. Este tríplice encontro forma a identidade íntima da Europa. Na consciência da responsabilidade do homem diante de Deus e no reconhecimento da dignidade inviolável do homem, de cada homem, este encontro fixou critérios do direito, cuja defesa é nossa tarefa neste momento histórico”.

Bento XVI, nesta passagem clarifica a degradação lenta e gradativa da cultura ocidental, defendendo a fé cristã, o direito romano e a filosofia grega da intenção do movimento marxista cultural e revolucionário que procura derrubar as três colunas da civilização ocidental. O Papa apelou à necessidade imperiosa de ajudar a reerguê-las face ao perigo da “modificação do senso comum” a que estamos assistindo.

Continua actual este apelo, mais do que nunca uma nova ordem global pretende impor ao mundo um pensamento único, sem Deus, sem Família, sem Educação e sem rumo. Lentamente todos foram cedendo e assim a Europa e a América está mentalmente corroída.

Que o emergir de eventuais confrontos bélicos nos levem a pensar que o futuro não é para destruir ou desconstruir, como os partidos da nova esquerda tem ousado fazer.

*Agostinho dos Santos – Politólogo e Filósofo

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