Entrevista: “Vamos continuar a procurar projetos difíceis”

 Entrevista: “Vamos continuar a procurar projetos difíceis”

Recentemente foram conhecidas as 5 empresas PME Excelência 2021 do concelho de Proença-a-Nova. O Jornal de Proença quis conhecer melhor essas empresas. Nesta edição, na Grande Entrevista, damos a conhecer a Ambienti D’Interni. Depois de uma visita às instalações, Carlos Silva esteve à conversa com o nosso Jornal.

Começando pelo início… como é que nasceu a Ambienti D’Interni? Como é que começou toda esta viagem?

A Ambienti D’Interni nasceu entre mim e o meu sócio, António, através de um entrosamento de ideias. Ambos, partilhávamos a ambição de inovar no âmbito da carpintaria e do designer.
Em 2011/2012, ano em que a empresa já estava em pleno funcionamento, após uma crise, vimo-nos obrigados a modernizar nesta área.
Posto isto, direcionámo-nos mais para as áreas da sinalética, para os Museus, os front- offices Segurança Social, Finanças, departamentos do Governo. Num cômputo geral produtos que o Estado adquire.
A Ambienti D’Interni desenrola-se dentro desta área. Entretanto, como temos de lidar diariamente com arquitetos, designers dos nossos clientes, também eles acabam por entrar dentro da empresa e começarem aqui a desenvolver produtos. A empresa tem sido uma constante desenrolar de novas ideias, novas soluções, novas utilidades aos materiais, algumas bifurcações nas suas utilizações. Temos empresas que fazem coisas muito parecidas, mas temos ouvido entre Lisboa e Porto que há poucas empresas que têm uma versatilidade tão grande como a nossa em termos de pessoas, equipamentos e ideias.

Posso chegar então à conclusão que inovação tem sido a palavra chave ao longo destes anos?

Inovação é a nossa palavra de ordem. Não só a nível de materiais, na técnica, como também na abordagem que é feita com os Clientes.
Nós temos muitas situações em que investimos, ou seja, fazemos muitas vezes produtos ao cliente numa ótica de dizer «nós estamos conscientes, queremos fazer o projeto, vamos fazer um protótipo num tom de investimento para aprender». Quando são situações que são inovadoras nós próprios abraçamos a coisa de outra forma. Não estamos à espera que o cliente adjudique para fazermos o protótipo. Nós tomamos essa dianteira. Nós fazemos o protótipo e mesmo que o projeto não seja adjudicado, o protótipo é nosso, mas o cliente vê a realidade a acontecer muitas vezes a custo zero.

Trabalham para os quatros cantos do país e do mundo, certo?

Sim do país, fazemos trabalhos para Espanha, para o Brasil, para França. Temos aqui uma situação em que estamos a trabalhar para uma criptomoeda, para desmistificar a questão da demasiada tecnologia que está implícito na recolha de informação da criptomoeda.

Ou seja, estar no Interior, ter a empresa localizada em Proença-a-Nova, não tem sido uma desvantagem?

Acaba por ser uma vantagem, o nosso meio, a nossa paisagem, a nossa interioridade gera impacto positivo nas pessoas, por exemplo, o Designer que está envolvido no projeto da criptomoeda esteve envolvido no desenvolvimento do primeiro iMac, esteve a primeira vez em Portugal e curiosamente em Proença a Nova, uma pessoa da Califórnia que obviamente achou incrível o nosso meio, a nossa gente e a nossa comida.

Acha que a maioria das pessoas têm a noção da importância que a empresa tem para o concelho e para a região?

Felizmente, para nós não têm. Infelizmente para a sociedade e para o Interior deveriam considerar o percurso que a empresa fez, como fez, porque poderia ser para outras empresas uma maneira de olharem para a forma como estão no mercado e valorizarem-se um pouco mais, estruturarem-se e conseguirem ter mais rentabilidade do seu trabalho.

Esta questão da interioridade, que tanto se fala, não se coloca em cima da mesa na vossa empresa?

Nós temos a mesma capacidade de Internet que temos em Lisboa, temos as mesmas vias, a comunicação chega a todos da mesma forma. Antigamente, a comunicação era feita de uma forma diferente e quem estava nas cidades tinha uma informação mais rápida, neste momento não. Somos nós próprios que estabelecemos a nossa limitação.

Quais são as principais dificuldades então detectadas ao longo dos anos?

As únicas dificuldades que nós sentimos é a atração de pessoas. Ao contrário do que muitas vezes se diz no interior não há desemprego, no interior há falta de pessoas. E neste momento sente-se que faltam pessoas com capacidade crítica. Não só para trabalhar, mas para pensar, para resolver problemas. Para trabalhar, hoje em dia, as máquinas fazem. E essa é de fato a maior dificuldade.

Falta então trabalho qualificado?

Não diria só trabalho qualificado, mas pessoas que tenham um entendimento diferente, com o que realmente é o trabalho, hoje em dia.

Que importância tem para vocês esta questão de ao longo dos últimos anos serem distinguidos como PME Líder e Excelência? Traz uma responsabilidade maior?

Sim é importante! Sentimos que estamos a fazer as coisas minimamente bem em termos financeiros. Já somos PME líder desde 2011 ou 2012, se não estou em erro, alguns anos PME Excelência, nos anos em que não fizemos investimentos, quando fazemos investimentos não somos excelência, os rácios todos caem. Mas sim é importante. É um reconhecimento das pessoas da sociedade. E acredite que deixe quem cá trabalha mais tranquilo.

Dos trabalhos que fazem, acredito que todos sejam especiais, mas há algum que gostasse de destacar?

Sim! Um deles, em que toda a sua envolvência foi muito difícil, foi os estojos (local para guardar as medalhas) para os jogos olímpicos e paralímpicos do Rio de Janeiro em 2016. O museu do Banco de Portugal que foi um projeto com alguma dimensão e com muita complexidade. Só quem visita o museu do dinheiro consegue perceber a complexidade daquelas vitrines. E agora à pouco tempo terminámos o Museu do Tesouro Real, que é o Museu de maior importância no nosso país e ser a Ambienti D’Interni a produzir todos os suportes que tocam nas peças para nós, é uma alegria. 

Quantos funcionários tem atualmente? Há perspectivas para aumentar?

Temos 38. Não é aumentar muito mais. A ideia é qualificar os que temos, ver novas abordagens que podemos fazer em termos de parcerias. Porque não é uma questão de aumentar. Essa dificuldade, e eu creio que todos os nossos colegas do interior estão a sentir não é a questão de aumentar, é uma questão que não existe pessoas disponíveis no mercado para trabalhar. E é um problema que vai aumentar. Atualmente, temos de abordar o trabalho de uma forma mais amiga. Não podemos olhar o trabalho só como algo que seja braçal, que seja cansativo. Temos que olhar de forma a ter rendimento e sucesso, mas que as pessoas criem técnicas e processos que lhes permitam levar a coisa um pouco mais tranquila e que não precisem tanto de mão de obra.

Perspectivas para o futuro?

A Ambienti D’Interni vai continuar a procurar projetos difíceis, projetos onde ninguém quer estar, é esse o nosso trabalho. Daí eu dizer que a nossa sociedade disputa muitas vezes um trabalho que é demasiado fácil e todos disputam aquele trabalho. O difícil ninguém o quer e nós disputamos o trabalho difícil porque aí é que está o dinheiro, a rentabilidade. E é aí que conseguimos, muitas vezes, criar aqui alguma valorização positiva financeiramente para os nossos colaboradores.

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