Entrevista: “Temos que desmistificar essa questão do interior”

Dando seguimento à iniciativa que teve início na última edição, o Jornal de Proença continua a conhecer melhor as 5 empresas do concelho de Proença-a-Nova que recentemente foram distinguidas com o prémio PME Excelência. Nesta edição Américo Martins Rolo, da empresa Américo R. Rolo – Construções, depois de uma visita às principais obras da região esteve à conversa com o Jornal de Proença.
A Américo R. Rolo – Construções, como já todos sabemos, é uma empresa familiar. Mas como é que tudo isto começou?
Tudo isto começou com o meu pai, há quatro décadas, numa primeira fase com o aluguer de máquinas e prestação de serviços de terraplanagens, mas rapidamente as áreas de negócio se expandiram para a construção civil e obras públicas. Após o falecimento do meu pai, em 2020, a empresa é atualmente assegurada pelos seus descendentes, tendo eu assumido a gerência e sendo neste momento o rosto mais visível da mesma.
Isto é uma empresa de construção, mas não se limita só à tradicional construção de casas?
É verdade! Neste momento as principais áreas de atuação da empresa são a construção civil e obras públicas, áreas em que tem conseguindo garantir uma carteira de clientes e volume de trabalho amplamente suficientes para manter a atividade de forma bastante vigorosa. Ainda que com menor expressão relativamente às anteriores, o aluguer de máquinas ainda continua também a fazer parte do leque de atividades que a empresa disponibiliza aos seus clientes.
Ao longo destes anos quais é que tem sido as principais dificuldades?
Nós já passámos por diversas crises. Antes nas crises havia mão-de-obra, mas não havia trabalho nem dinheiro. Hoje há mais dinheiro, há mais trabalho mais não há mão-de-obra.
Essa é uma questão que se fala muito no interior, da falta de mão-de-obra qualificada. Vocês sendo assim também o sentem?
Claro que Sim. A faixa etária dos meus trabalhadores é tudo dos 55 anos para cima. Por tanto a empresa tem trabalhadores para mais 7/10 anos.
Quantos trabalhadores tem atualmente?
Temos 30.
E se pudesse, seria um número para aumentar?
Sim. Com a falta de mão-de-obra que há e com o trabalho que há, facilmente hoje aumentaríamos esse número, não digo para o dobro, mas mais 7,8, 10 trabalhadores facilmente conseguíamos encaixar nos trabalhos que temos.
E como é que se pode resolver essa questão para o futuro?
Não se vai resolver! Isto é um problema que vai haver em todos os setores e só tende a piorar. Não há ninguém de 20/23 anos que queira vir trabalhar para as obras ou para aprender a trabalhar com uma máquina.
Há muitas empresas de construção que daqui a 10 anos não vão ter um único trabalhador.
E acha que esse é o único problema de estar sediado no interior ou há mais alguma coisa?
Não. Nós temos que desmistificar essa questão do interior. Nós em apenas uma/duas horas estamos em qualquer lado. Eu trabalho para um carpinteiro espanhol, que é de Badajoz, e ele perguntou-me de onde era. Eu disse que era de Proença-a-Nova, Castelo Branco, e disse logo que 200/300 km é perto.
Nós aqui em Portugal é que pensamos que 50km é longe. As pessoas têm é que se habituar a deslocar. Nós não podemos crescer numa vila pequena, nós temos que sair para fora.
É tudo então uma questão de mentalidades?
Sim!
Qual é a área de ação da empresa?
Trabalhamos num raio até 100kms. Já fizemos bastantes trabalhos em Coimbra, no Alentejo, em Castelo Branco, em Idanha. Num raio de 100kms nós deslocamo-nos. Temos custos, é claro, mas se queremos crescer temos que sair para fora. Custa no início, mas depois habituamo-nos.
O facto de serem uma empresa familiar tem sido uma vantagem?
A vantagem que há é termos orgulho no que vem de trás e quer manter as mesmas ideologias e a mesma maneira de ser, Esse é o grande orgulho. Seguir e honrar o trabalho do meu pai.
Já são vários anos de trabalho. Recentemente foram distinguidos com o prémio PME Excelência. Que importância tem esta distinção? Aumenta a vossa responsabilidade?
É de uma extrema importância para a empresa, uma vez que representa o reconhecimento do trabalho desenvolvido e a superação constante dos objetivos a que a empresa se propõe. Conseguir na conjuntura actual, após a crise pandémica que afetou o mundo, com todas as pesadas consequências que acarretou consigo, e num contexto de situação económica nacional particularmente difícil, em que o crescimento a curto prazo se prevê bastante comprometido, é com orgulho que atingimos esta distinção, mantendo contudo a humildade que nos caracteriza sempre, bem como a confiança na relação que temos vindo a construir com os nossos clientes, fornecedores e colaboradores.
Tem sido esse o segredo que distingui o vosso trabalho?
A maior diferença é que nós exigimos de nós próprios cumprir o que contratamos com o cliente. Ou seja sermos o mais sério possível. Assumir os erros que cometemos e aprender com eles. Temos também ferramentas para todo o tipo de trabalhos e quando não temos vamos a procura.
Tem sido então um balanço positivo?
Sim! Não queremos ser melhor ou pior que ninguém, temos a nossa maneira de ser, de trabalhar. Temos clientes de 30 anos e só isso diz muita coisa. Para o futuro pretendemos continuar o trabalho desenvolvido até aqui, mantendo sempre os valores implementados pelo meu pau. Valores que se têm relevado fundamentais para o processo de crescimento.