Em Ti Encontrei Outro Mar

 Em Ti Encontrei Outro Mar

Hoje senti uma vontade enorme de redigir umas palavras sobre S. João Paulo II por quem nutro uma admiração sem fim.

Tive oportunidade de me deslocar várias vezes a Roma e graças a Deus, consegui vê-lo em vida e também estive aquando do seu falecimento.

Tão grande era a minha admiração por S. João Paulo II que, quando soube da sua partida para a Casa do Pai, imediatamente viajei para Roma na companhia de um dos meus filhos afim de lhe render uma última homenagem.

Na verdade, viríamos a passar 14 horas no meio de uma multidão de pessoas que também o almejavam ver.

Chegámos à tarde pelas 16 horas vindos diretamente de Lisboa. Pouco depois da nossa entrada, fecharam o acesso ao recinto.

Ainda tenho presente o meu filho dizer que o melhor era almoçarmos primeiro. Graças a Deus não o fizemos, senão nunca teríamos conseguido entrar.

Um jornalista americano, que fazia a cobertura perto das grades que nos separavam, comentava: “Eles não sabem as horas que vão ter de aguardar!” Pensei que era exagero.

Na realidade, passámos mesmo a tarde, a noite e o amanhecer ao relento em pé, sem nos alimentarmos, no meio de muitas pessoas que rezavam e clamavam “Santo súbito”.

Olhei ao meu redor emocionada observando a multidão compacta. Todos ali professávamos a mesma fé. Alguns eram polacos que tinham vindo de camioneta.

Mais à frente, perto das grades, alguém da Cruz Vermelha, ofereceu-nos um copo com um pouco de chá açucarado no fundo. Bem-haja! Permitiu que continuássemos a nossa vigília.

Pelas 3 horas da manhã, já não conseguia estar de pé. Queria ir-me embora. Transmiti esse desejo ao meu filho que me respondeu: “Mãe, vieste para ver o Papa e não sais daqui sem o ver!

Abençoado filho que me amparou alguns momentos até ganhar forças. Uma senhora de alguma idade de lenço na cabeça olhou para nós com pena e referiu: “Coitados, não estão habituados!” Um rebuçado oferecido pela Cruz Vermelha foi uma grande ajuda.

E assim continuaríamos por várias horas. Quando pensava que estávamos quase a chegar, pela noite adentro, houve paragem de 1 hora para limpeza da Basílica. Depois, já mais perto, havia umas cercas que nos obrigavam a dar algumas voltas em ziguezague tardando a entrada.

Já passava das 7 horas da manhã, quando conseguimos entrar na Basílica de S. Pedro, integrados numa fila agora mais reduzida. Quando chegámos à frente do caixão de S. João Paulo II, com o corpo exposto, rodeado creio que de cardeais, bispos, e outras entidades que velavam o seu corpo.

A emoção era tanta que bloquei. As fotografias que tirei ficaram tremidas. Só me recordo de lhe pedir que protegesse a minha família, e de agradecer todo o seu trabalho em prol do Bem.

Os guardas suíços pediam-nos para avançar rapidamente. Senti uma grande comoção. Avançámos com alguma dificuldade em andar depois de tanto tempo parados em pé. Vimos um esmoleiro em madeira com dois bancos muito baixos, um de cada lado.

Sentámo-nos em silêncio durante algum tempo a meditar e a restabelecer as forças. Que grande graça e que grande bênção nos foi concedida. Foi um dos dias mais felizes da minha vida.

Pela minha mente soou uma música que João Paulo II cantou, e cujo vídeo me enviaram recentemente, denominada “A Barca”:

“Tu que nas margens do lago não buscaste nem sábios nem ricos, mas só quiseste que eu Te seguisse:

Senhor, Tu fixaste meus olhos, ternamente meu nome disseste. Nesse lago eu deixei minha barca, pois.

Tu sabes bem o que eu tenho em meu barco: nem ouro, nem armas, mas somente as redes e meu trabalho. Tu necessitas de mim; meu trabalho, que a outros descanse; do meu amor, sinal de esperança. Tu, pescador de outros lagos, ânsia eterna daqueles que esperam um bom amigo que assim nos chamas”.

Não vou acrescentar muito mais sobre este grande santo polaco. Creio que todos sabem a sua história e a sua vida que observámos de tão perto. Recordo apenas as palavras de S. João Paulo II ao iniciar o seu pontificado. “Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo”.

E termino transcrevendo parte de uma oração a ele dirigida pelo Cardeal Angelo Comastri:

“… Abençoa os jovens, que também foram a tua grande paixão. Ajuda-os a voltar a sonhar, voltar a dirigir o olhar ao alto para encontrar a luz que ilumina os caminhos da vida na terra.

Abençoa as famílias, abençoa cada família! Tu percebeste a ação de Satanás contra esta preciosa e indispensável faísca do céu que Deus acendeu sobre a terra. S. João Paulo, com a tua intercessão, protege as famílias e cada vida que nasce dentro da família.

Roga pelo mundo inteiro, ainda marcado por tensões, guerras e injustiças. Tu te opuseste à guerra, invocando o diálogo e semeando amor; roga por nós, para que sejamos incansáveis semeadores de paz…”.

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