E o diabo levou Putim…


No primeiro domingo da quaresma, a Igreja meditou o texto das Tentações de Jesus. Se colocarmos a figura de Putim ou dos vários “Putins” mundiais no lugar de Jesus, neste texto do Evangelho, podemos concluir que o diabo anda por aí e que, desta vez, visitou a Rússia.
“levando-o a um lugar alto, o diabo mostrou-lhes, num instante, todos os reinos do universo e disse-lhe: «dar-te-ei todo este poderio e a sua glória, porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. Se te prostrares diante de mim, tudo será teu.»”.
(Lc 4,1-12)
E o Sr. Putim prostrou-se, caiu na tentação, começou a tomar conta do que o diabo lhe prometera e invadiu a Ucrânia.
Devemos ter claro, em primeiro lugar, o que significa a palavra diabo. A palavra tem origem no grego antigo (διά+βολος). Diá significa “passar através de” e Bolos, “recusar”, “argumentar” no sentido de negador, caluniador, opositor, acusador. O diabo diz respeito, no acto de tomar uma decisão, à alternativa que se apresenta quase sempre como boa, mas que, na verdade, se revela como má. Por exemplo, parece um bem o desarmamento dos grupos radicais neonazis que matam pessoas, mas a invasão trouxe ainda mais morte de pessoas, destruição de habitações e infra-estruturas essenciais ao normal funcionamento de um país (hospitais, escolas…), criou uma avalanche de desalojadas e refugiados. O diabo significa, no acto de decidir, a possibilidade de tomar o caminho mais destrutivo e desumanizante. De facto, ele anda aí!
Anda aí, quando cedemos na questão das riquezas. Em países como a China, o trabalho é desumano segundo os paradigmas europeus, mas o mundo, na sua globalidade, rende-se, compra, desloca para lá empresas … verga-se, de mãos atadas, face à sua estratégia de dominar o mundo por via económica. Também por cá, há situações de exploração laboral com imigrantes e fuga aos impostos por parte de uns e má gestão da coisa pública por parte das instituições do estado. Uns pagam para outros roubarem e enriquecerem.
Anda aí, quando educamos somente para o estrelato, para o êxito… ter muitos seguidores nas redes digitais, ser “influencer” … como algo fácil para ter muito dinheiro e visibilidade social. Deveríamos aprender a lição de Mário Cortella sobre “a vaca não dá leite”. A vaca não dá leite porque é preciso que o agricultor, como o esforço diário, a ordenhe. É preciso tirá-lo. “Só no dicionário é que a palavra êxito vem antes da palavra trabalho.”
Jesus ensina-nos a colocar a pessoa humana no centro da nossa decisão. Numa sociedade moderna, culta e global, ceder a interesses pessoais ou de grupo que não busquem a promoção da dignidade da pessoa humana e o bem comum da comunidade, é “alinhar com o diabo”. Cuidar da pessoa humana é amar a Deus que nela se faz presente.
Todavia, há no mundo quem lute contra este “diabo”. Basta ver o sentido de ajuda com os refugiados ucranianos, as manifestações pela paz, a busca de comunhão pela negociação…. Estamos em guerra contra o mal porque já descobrimos que só o bem, o amor e a paz nos realizam como pessoas e são sinal da Ressurreição.