Cristãos em zigue-zague na busca do essencial


Em período breve de contactos familiares, celebrações em grupos, comunidades e paróquias, e no encontro de vida consagrada (Fátima) e outros informais com amigos e religiosos, multiplicaram-se as conversas e reflexões sobre abordagens pastorais de paróquias a inserir-se em unidades de 4 e 5, fusões de casas e províncias religiosas com candidatos de países distantes a inculturar-se em centros de formação de vida consagrada em culturas diversas.
O pano de fundo do que se vai ensaiando e apregoando é, ora a sinodalidade ora o tema de peregrinos da Esperança do Jubileu 2025.
Um dos modos dominantes de experimentação em curso reflete processos de procura por caminhos em zigue-zague e até mesmo de buscas árduas e tentativas frustrantes, pouco facilitadas, de fragmentos dispostos em labirintos casuais e focos de confusão.
Em tempos de mudanças aceleradas paralelas da ciência, os caminhos eclesiais de vida cristã e consagrada avançam a velocidades e ritmos inesperados do magistério do Papa Francisco, em correria mais rápida de propostas do que os estilos doutros papas do pós-concílio Vaticano II, alguns dos quais apesar de terem sido acelerados não fariam esperar as surpresas atuais.
Tempo de saídas e de corridas às periferias situadas fora da Igreja visível e aos que parecem estar fora das suas fronteiras.
Não raro, os candidatos à vida consagrada que entram em formação mal acabam de chegar das periferias e alguns de fora delas, e quase não têm tempo para tomar consciência das mudanças que os rodeiam e logo são enviados para aqui, para ali, para acolá.
Não surpreende que experimentem incertezas sobre que tipo de ritmos de Igreja e de seguimento de Cristo em que se enxertam, tantos são os modelos presentes nos institutos religiosos que os acolhem e nas culturas ambientes em que se movem.
Alguns passarão por períodos de grande perplexidade, neste e naquele instituto, à procura de acertar no modo de configuração com algum carisma de vida cristã consagrada sintonizada com o Evangelho.
Os processos em zigue-zagues e os labirintos casuais a que me refiro, não são tanto por falta de indicações e sinais a balizar os caminhos, como se refletiu no 40º encontro de vida consagrada em Fátima (700 participantes).
As indicações e sinais propostos até serão abundantes e contrastados por contrassinais. Uns sinais de caminhada vêm do pós-Vaticano II, outros da doutrina do Papa Francisco, estes da geração ascendente, aqueles de adultos superativos, se não agitados, nas obras apostólicas dos seus institutos, as quais, em vez de apoios de comunidades robustas, oferecem frutos maduros de esperança de vida eterna de idosos da quarta e quinta geração.
Os ambientes secularistas e os de apostasias diversas não parecem facilitar a procura do essencial da fé cristã.
As controvérsias frequentes trazem as marcas dos pais e filhos das linhas da frente do “25 Abril” e dos seus esquerdismos de mordente anticristão. Dos que passaram e se mantiveram em posições de rejeição e indiferença de valores essenciais cristãos dos últimos 50 anos: alguns pais ainda levam os filhos à catequese, mas não à missa dominical a que alguns desses pais também não vão a não ser excecionalmente.
Ouvem-se muitas outras variantes nos caminhos da Igreja e das culturas. A ida às periferias faz supor que há um centro da comunidade eclesial visível, tanto do Corpo de Cristo como do edifício das celebrações da sua memória, de onde, precisamente, se é enviado às periferias.
É bom que haja tantos no centro que alguns possam ir às periferias sem deixar as igrejas vazias e expostas aos ladrões traficantes de arte sacra, e levem vidas configuradas com a centralidade de Cristo.
Não será que se corre o risco de alguns andarem continuamente a correr entre o centro e as periferias, e já cansados de correr em zigue-zague, sigam mais os sinais que o Sinalizado, o Cristo vivo? E se esqueçam, como Jonas em Nínive, que os filhos de Deus das periferias são dotados de liberdade e se podem arrepender e ser salvos?
E Cristo segredará: falta-te uma coisa, segue-Me. E essa “coisa” só pode ser o Essencial: o próprio Cristo que perdoa aos arrependidos e dá pão aos pobres e pequenos, suas imagens vivas.
Ao enfrentar muitos sinais e contrassinais, os de dentro (e centro) da Igreja ainda têm que defender-se das insídias das tecnologias e agora da IA, que lhes armam assédios do tipo das tentações do deserto, para não ficarem sem tempo para o essencial.
Muitos dos contrassinais tentam tapar e apagar a luz do essencial e ir mantendo as desinformações das mentiras do diabo que quer substituir Deus porque “Deus morreu”.
E infiltram-se as tentações de O substituir com coisas boas: a criatividade, imaginação, as artes, silenciando as palavras e exigências do Evangelho.
Em tempo quaresmal a tentação é apetecível: se Deus está morto e não resolve tantos problemas terrenos, vamos substituí-l’O.
O essencial da oração, Eucaristia, perdão sacramental, vontade do Pai e entrega do consagrado na cruz, tornam-se coisas secundárias.
A Igreja militante, Esposa de Cristo, em vez de seguir Jesus na entrega ao Pai na última Ceia e na Cruz é tentada a tomar ares empresariais.
E o essencial dos milhares de mártires de hoje e de todo o arco da História fica entre parêntese, apesar de se celebrar o ano do Jubileu da Esperança na vida eterna.