Quinze países em Queixoperra?!…

 Quinze países em Queixoperra?!…
Dom Antonino Dias

Queixoperra não se coloca em bicos de pés para ombrear com as grandes metrópoles ou as importantes terras que se espraiam em iniciativas culturais e títulos de jornais a fazer ecoar, ao perto e ao longe, os seus pergaminhos e penachos, os muitos acontecimentos e os sonantes discursos a fazerem crer que agora é que foi ou vai ser!

Queixoperra é Queixoperra, e pronto, ponto. Discreta mas eficaz, a sua gente tem os pés bem assentes no chão. Não dá passo maior que a perna, não vai em cantigas, é da fibra de antes quebrar que torcer!

Por acaso o leitor sabe onde fica Queixoperra?… Fica em Penhascoso. E sabe onde é Penhascoso?… Eu faço de GPS: indo na A23, Norte-Sul, na autoestrada da Beira Interior que a Wikipédia diz que também atravessa Portalegre (olaré!…), encoste-se ligeiramente à direita e pisgue-se pela saída 12. Vire novamente à direita para o acesso a Mação. Sem entrar em Rosmaninhal e no Casal da Barba Pouca, na próxima rotunda saia na segunda saída, enfie-se por essa estrada adentro e lá chegará. É uma terra do concelho de Mação que, por critérios de quem ajuíza e decide – aliás, nem sempre bem e muito menos a gosto dos residentes! -, é uma terra que perdeu a sua titularidade de freguesia e pertence agora à União de Freguesias de Mação, Penhascoso e Aboboreira: o plural de comboio é vagões, pois claro!

Pois foi aí que, numa cimeira ao mais alto nível do Movimento a que pertencem, se juntaram peritos na ciência e arte de bem agir em função das mui elevadas e nobres causas em prol daquela humanidade tão rica em conhecimento e travessuras quão pobre em sabedoria e valores. Em Queixoperra, gente de cá, e outra coligada desde alguns cantos do mundo, juntou-se à iniciativa para se dizer e explicar, e bem.

Proveniente das cristas quartzíticas de junto aos icnofósseis de Cruziana rugosa da bela terra de Penha Garcia, onde a natureza caprichou e eu me encontrava em pastoreio de outras ovelhinhas do mesmo rebanho, também desci, apressadamente, por ruas estreitas e curvas inclinadas a indicarem becos e escadinhas, para chegar a tempo a Queixoperra e nada perder de importante. Pelo que vi e ouvi, ninguém ali prometeu fosse o que fosse, a não ser continuar a dar as mãos para a concretização dos objetivos há muito delineados. Quem usou da tribuna apenas disse o que fazia com muita resiliência para melhor alavancar, em si e nos outros, o projeto que a todos honra e beneficia, mesmo sem majorações no pré, que, muitas vezes, por amor à causa e pela consciência de ser fermento, bem como pelo gosto que dá, o trabalho vai muito para além das horas extraordinárias. E neste cacarejar épico com que narro o facto, que bem me sabe usar os termos da altíssima ciência hodiernamente em voga: resiliência!… alavancar!… majoração!… descarbonização!… oh, que bem sabe, até dá estatuto!…

Dos presentes, porém, quem o quis fazer, não foram os únicos a usar da palavra. É verdade que não era a Conferência dos Oceanos em Lisboa, nem a Cimeira da NATO em Madrid, nem o Congresso do PSD em Barcelos, nem aquela magna reunião ministerial portuguesa a fazer lembrar a ida de Henrique IV a Canossa e a de Egas Moniz a Toledo, ambos mui contritos e suplicantes. Mas houve gente que enviou mensagens de aplauso, manifestando alegria e comunhão por tão solene e importante acontecimento em Queixoperra. Mensagens que vieram de Portugal, claro, mas também de Espanha, México, Itália, Colômbia, Brasil, Argentina, Costa Rica, Estados Unidos da América, Chile, Panamá, Venezuela, Perú, Nicarágua e Paraguai. Algumas foram lidas, todas foram arquivadas para memória futura e estímulo para quem as ouviu, leu ou lerá.

Sendo a grandeza a única medida das coisas grandes, assim decorreu a Ultreia Diocesana do Movimento dos Cursilhos de Cristandade, na Queixoperra, em dia do Encontro Mundial das Famílias, em Roma. Cinquenta e quatro dioceses de quinze países marcaram a sua presença, manifestando a comunhão e a catolicidade da Igreja, uma Igreja a caminho, peregrina. Ultreia é grito de coragem, de incentivo e motivação para se ir mais além, sem desânimo nem desistências, mas com ‘resiliência’, sem ‘majorações no pré’, ‘alavancando’ o essencial para descarbonizar corações, tão poluídos e endurecidos. Unidos e partilhando experiências, tudo ajuda a renovar e a procurar energias novas e alternativas, incita a oxigenar a mente e o cérebro, faz abolir as cortinas blecaute que escondem o radioso SOL que aquece o coração humano, ilumina os caminhos da vida, faz apreciar os valores da fraternidade universal e abjura o relativismo que mata, descarta e destrói sem dó nem piedade.

Sabemos que é importante apostar nos sistemas de ensino. No entanto, mesmo que se ensine muito e muito se saiba, quem tenta não falhar na missão de educar – que não é bem a mesma coisa! -, sente-se frágil, desautorizado, incapaz: pais queixam-se, professores queixam-se, quem tem responsabilidades queixa-se, quem não tem responsabilidades geme e pragueja baixinho perante o que não gosta de ver e sentir. Quando se facilita ou promove superficialidades educativas, esquecendo, por meros conceitos ideológicos e quejandos, a importância dos princípios morais e éticos que garantem a convivência pacífica, honesta e justa entre as pessoas, os noticiários enchem-se com casos que a todos envergonha, entristece e faz sofrer.

Sem esquecer essas preocupações, os participantes nesta importante cimeira estão convictos de que levar a todos o Evangelho e os seus valores, constitui “o serviço mais precioso que a Igreja pode render à humanidade e a cada pessoa que busca razões profundas para viver em plenitude“. Esta missão de Cristo confiada à Igreja “ainda está bem longe de ser cumprida”, está no princípio. E é uma tarefa que não pode deixar de considerar “os temas que envolvem a promoção humana, a justiça, a liberdade a cada forma de opressão”. Ignorar os problemas temporais da humanidade significaria esquecer a lição que vem do Evangelho sobre o amor ao próximo e não se estaria em sintonia com o comportamento de Jesus que “percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo o mal e toda a enfermidade” (cf. Bento XVI, dia das Missões, 2011).

Parabéns, Queixoperra, e todos os participantes!

Plus ultra!

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