Os jovens turcos e os seus crimes contra a humanidade

Soldados turcos posam depois do enforcamento de vários armênios em 1915 em Aleppo, na Síria. AFP

Os Jovens Turcos foi um movimento de diferentes grupos que tinham em comum o desejo de reformar o governo e a administração do Império Otomano.
Iniciado em 1870, entre estudantes militares, espalhou-se gradualmente a outros sectores da população que se opunham à monarquia do sultão Abdulamide II, e promoveram várias iniciativas no sentido de modernização do próprio regime.
Sucessores do movimento dos Jovens Otomanos, fundaram o Comitê para a União e o Progresso, em 1906, partido político que atraiu a maioria dos Jovens Turcos, cujo movimento conseguiu construir uma forte tradição de contestação, que marcou a vida artística, intelectual e política até ao final do período otomano.
Os Três Paxás, pertencentes aos Jovens Turcos, governaram o império desde o Golpe de 1913 até ao fim da Primeira Guerra Mundial. Foi neste período, que teve início o extermínio sistemático praticado pelo governo otomano contra os seus súditos arménios, no território que constitui a actual República da Turquia.
O genocídio foi realizado durante e após a Primeira Guerra Mundial e executado em duas fases: a matança da população masculina, através de massacres e recrutamento para exército e para trabalhos forçados, seguida pela deportação de mulheres, crianças, idosos e enfermos em longas marchas da morte. Impulsionada por escoltas militares, os deportados foram privados de comida e água e submetidos a roubos, estupros e massacres periódicos. O número total de pessoas mortas como resultado do genocídio é estimado entre 800 mil e 1,8 milhão.
Outros grupos étnicos nativos e cristãos, como assírios e gregos otomanos, foram igualmente, pelo governo sujeitos a semelhante perseguição, o que é considerado por muitos historiadores como fazendo parte da mesma política, uma limpeza étnica total. “Povoado após povoado, cidade após cidade, foram esvaziadas de sua população arménia”.
O genocídio arménio é reconhecido como tendo sido um dos primeiros genocídios modernos, os estudiosos destacam a forma organizada em que os assassinatos foram realizados a fim de eliminar o povo arménio, e é o segundo caso mais estudado de genocídio após o Holocausto, promovido pela Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial. Outros porém convém não esquecer, como o Holodomer, na Ucrânia, na China durante o regime de Mao e o genocídio do Camboja, com Pol Pot.
A Turquia, o Estado sucessor do Império Otomano, nega o termo “genocídio” como uma definição exata para os assassinatos em massa dos arménios, que começaram sob o domínio otomano em 1915 e só terminaram no fim da primeira guerra mundial.
Nos primeiros anos da Republica turca foram destruídos muitos documentos da época otomana o que dificultou a pesquisa, bem como encontrar a localização das valas comuns.
O historiador e sociólogo Taner Akçam, apresentou a sua dissertação sobre o Movimento Nacional Turco e o Genocídio Arménio Contra o Contexto dos tribunais Militares em Istambul entre 1919 e 1922. Esta tese aliada a muitos outros trabalhos credíveis de vários historiadores, não deixaram qualquer espaço de dúvidas sobre a violência desta “limpeza étnica”.
O genocidio arménio foi um dos vários que ao longo do século XX foram acontecendo, em todos os continentes. Foram muitos e todos terríficos…
Genocídio é o extermínio deliberado para aniquilar pessoas, motivado por diferenças étnicas, nacionais, raciais, religiosas ou sociopolíticas. É uma forma de eliminar todo o ser humano que se encontra nas condições consideradas necessárias e prementes para satisfazer interesses ou agendas ideológicas de uma determinada época.
Este facto histórico, concretizado pelos Jovens turcos, ansiosos por reformas, não olhando a meios para atingirem os objectivos que lhes apresentaram, com caracter de urgência e de forma bárbara, será uma realidade passada?
Ou, estaremos actualmente a constatar uma estratégia renovada e adaptada sem contornos éticos, em nome duma camuflada generosidade e avanço civilizacional, insistindo em não reconhecer o sentido e o valor da vida humana, o maior de todos os valores? Estaremos face a um novo estilo de genocídio?
