O sentido perdido do Natal

Novos Tempos

À medida que dezembro se aproxima e avança, as cidades iluminam-se, os centros comerciais enchem-se e as decorações multiplicam-se.
Contudo, por detrás de cada símbolo natalício — muitas vezes reduzido a um objeto decorativo — esconde-se uma história que nos convida a regressar ao essencial: a luz, a esperança e a proximidade que o Natal anuncia.
A árvore de Natal, por exemplo, não é apenas um ornamento festivo. Nasceu de antigas tradições do Norte da Europa, que celebravam a vida que resiste ao inverno.
O cristianismo reinterpretou-a como sinal de esperança: uma árvore viva no meio do frio lembra que a vida de Deus floresce nas noites mais longas da humanidade.
No topo, a estrela aponta a direção, como a Estrela de Belém que guiou os Magos — um convite atual a deixar-nos conduzir pela luz num tempo de tanta desorientação.
As luzes que decoram ruas e casas ganham outra profundidade quando lembramos que a liturgia do Advento anuncia Cristo como “luz que brilha nas trevas”.
O que poderia ser apenas brilho comercial transforma-se em apelo a acender luz interior, a cultivar gestos que iluminam quem vive na sombra.
O azevinho, com as suas folhas espinhosas e bagas vermelhas, recorda que a alegria do Natal não ignora a dor humana.
Simboliza simultaneamente a Paixão de Cristo e a vida eterna que vence o frio — lembrança discreta de que a esperança cristã não é ingenuidade, mas fidelidade à vida apesar das feridas.
A tradição da meia de Natal, nascida do gesto oculto de São Nicolau, devolve-nos ao valor da generosidade silenciosa, longe da lógica consumista.
E até a bengala doce, inicialmente um simples cajado para recordar os pastores, nos remete hoje para o Bom Pastor que acompanha cada pessoa e que ao contrário é a letra «J», de Jesus com riscas brancas e vermelhas recordando o Deus encarnado no filho de Maria.
Particular relevo merece a Coroa do Advento: quatro velas que se acendem devagar, contrariando a pressa da época.
É talvez o símbolo que mais claramente nos chama à interioridade: preparar o coração, fazer silêncio, criar espaço para que a luz cresça.
E, quase no final, os Reis Magos e os seus presentes — ouro, incenso e mirra — ensinam que o verdadeiro sentido do Natal é reconhecer quem é o Menino: Rei, Deus e Salvador.
A sua viagem lembra-nos que também nós somos peregrinos em busca de sentido.
Quando redescobrimos o simbolismo destes elementos, percebemos que eles nos oferecem uma oportunidade preciosa: recentrar o espírito do Natal.
Menos correria, mais encontro. Menos consumo, mais luz. Menos ruído, mais verdade.
No coração da festa permanece a mensagem simples e transformadora: Deus vem ao nosso encontro e reacende em nós a esperança.
