Todos se maravilhavam
Quantas vezes não ficamos boquiabertos, encantados, seduzidos pelas palavras proferidas por alguém?
E, quantas vezes, não ficamos também ofendidos por outras palavras ou pelos silêncios que tiram a vida?!
Bem gostaria de saber o que Jesus disse naquele sábado na Sinagoga para que as pessoas ficassem admiradas.
Além disso, o jovem Mestre, vindo de Nazaré, trazia apenas o titulo académico de carpinteiro.
Contudo, as suas palavras despertavam o coração e embelezavam a vida.
Surpreendidos ficamos quando, mesmo sem o saber e após lermos o Evangelho, compreendemos que eram aquelas palavras que procurávamos, palavras que saciam o coração.
Deus nunca fala para o vazio, mas quer fazer desabrochar a bela história que há em nós.
Como aquele homem na Sinagoga dizemos: “que tens a ver comigo, homem da Galileia?
Que tens a ver com a minha vida, com a minha família, com o meu trabalho, com os meus momentos de festa ou de dor”?
Como o endemoninhado de Cafarnaum, podemos ir ao templo, participar na oração, professar a “nossa” fé, mas por dentro das nossas escolhas vivemos as contradições do que acreditamos. Dentro das nossas comunidades habita, tantas vezes, a lógica tenebrosa da divisão.
Ainda hoje, é demoníaca uma fé que coloca Deus longe do quotidiano.
É demoníaca uma fé que vê em Deus um concorrente à felicidade, obrigando a mortificações. É demoníaca uma fé que se fica nas palavras vazias.
É demoníaca a fé aborrecida e de fachada, formalista e fechada, que não toca a vida nem o mundo.
Conhecer Deus de pouco nos serve se não se faz vida.
De nada serve ser cristão ao Domingo, durante uma hora, para se ser incrédulo o resto da semana.
E podemos até seguidamente gritar: “Vieste para nos perder?” Mas Deus não vem para tirar a vida, mas para a intensificar.
Mesmo se o Evangelho é excessivo e pede tudo, é para dilatar e multiplicar a existência.
Naquele dia, Jesus falara não apenas de Deus, mas ousara falar como Deus.
As suas palavras tornam-se visíveis nos seus gestos de salvação, de cura, de libertação, que tocam o cerne da vida.
Ele fala como Deus porque O vive, porque fala com o mesmo coração de Deus.
O nosso desafio, então, não é dizer o evangelho, mas tornar-se e fazer-se Evangelho, ser Evangelho Vivo.