“Ser artista não se decide, nasce-se artista!”

Quem é o João Robalo?

João Robalo, natural de Escalos de Cima freguesia de Castelo Branco. Nasci em 1965, sou casado com Salete Afonso e em conjunto temos o Ateliê das Artes João Robalo e Salete Afonso em Castelo Branco.
Certificado pelo Cearte nas modalidades da cerâmica figurativa, pintura cerâmica e arte do vitral; dou formação no Centro de Formação Profissional de Castelo Branco, na Universidade Sénior de Castelo Branco e também nos meus ateliês.
Artista residente na Fábrica da Criatividade em Castelo Branco, onde desenvolvo projetos enquanto ceramista, mas é sobretudo, nos meus ateliês que crio as minhas obras, restauro de antiguidades, e trabalho as encomendas para os meus clientes.
“Ser artista não se decide, nasce-se artista!”
A arte sempre fez parte da minha vida e toda a gente diz que tenho um dom, porque as minhas criações nascem do cérebro em catadupa. Tenho na cabeça projetos que se calhar nunca vou conseguir por de pé, porque necessitam de apoio e autorização de entidades que na maior parte das vezes não entendem a arte como enriquecimento cultural ou sustentável.
Foi na escola da minha aldeia que ganhei o meu 1º prémio num concurso, com um presépio em barro tinha eu 7 a 8 anos de idade. A minha mãe, mulher simples, mas com uma sensibilidade enorme sentiu que eu tinha o dom de criar coisas e transformou uma divisão da nossa casa, num ateliê para eu aí desenvolver os meus trabalhos.
Na Casa do Povo da minha aldeia, Escalos de Cima, havia um senhor (o Sr. Fazenda) que ensinava os meninos a fazer artesanato em cortiça e a minha mãe meteu-me lá a aprender. Ainda hoje tenho no meu portefólio as peças pequeninas que fazia em cortiça. Fiz a minha primeira exposição aos 11 anos organizada pelo Sr. Fazenda nos Escalos de Cima, juntamente com os meninos dos tempos livres e a partir daí seguiram-se muitas outras tanto a nível nacional como internacional.
Comprar material de arte naquela altura, era impossível pois ainda não havia em Castelo Branco lojas para isso. Então convencia a minha irmã a ir comigo a Lisboa e era de lá que trazia o material de pintura e de cerâmica. Vendia as peças e os quadros, em exposições e feiras de artesanato, e era assim que juntava dinheiro para comprar os materiais.
Em 2015 comemorei 40 anos de carreira, e organizei um desfile de máscaras de cerâmica, na Praça Manuel Cargaleiro, em Castelo Branco, em parceria com a minha mulher, Salete Afonso, aliando a cerâmica à moda, numa componente social onde criei uma escultura “Navegar para ser Feliz” cujo montante realizado em rifas, reverteu para a Associação de Apoio às vítimas de violência doméstica. No ano seguinte levámos o desfile à minha aldeia, também com a envolvente social da Inclusão dos Idosos na sua comunidade, onde um casal de idosos desfilou e muito bem na passarela.
Seguiram-se com esta coleção de máscaras de cerâmica, várias exposições itinerantes, no Museu Tavares Proença Júnior em Castelo Branco, no Núcleo Etnográfico da Lousa, na Sala da Nora e também no Museu das Rendas de Birlos em Peniche. Em Paris, participei numa exposição coletiva para comemorar a abertura às artes e aos terraços, nos Campos Elísios, após a pandemia Covid 19.
Neste momento vivo dos meus trabalhos e da formação, trabalhei durante 37 anos na empresa Dielmar em Alcains e ia fazendo os meus trabalhos no ateliê, mas quando a empresa entrou em insolvência decidi arriscar apenas nos meus trabalhos artísticos e confesso que não me arrependo desta decisão, pois tenho mais tempo para dedicar à minha arte e também posso aceitar mais encomendas.
Trabalhos realizados
Na Arte Mural, tenho várias obras particulares e públicas sendo que o mural “Árvore da Vida” em Escalos de Cima, dedicado ao Bordado de Castelo Branco e às Bordadeiras, ganhou o 1º lugar no Concurso “As 7 Maravilhas da Arte Contemporânea e Património Histórico Edificado” da CIMBB.

Na Póvoa Rio de Moinhos, pintei o Mural das Cegonhas. No Ladoeiro o Mural Regadio da Melancia e do Melão. Em Santo André das Tojeiras o Mural Resineiros. Ao fazer estas obras procuro sempre documentar-me com os usos e costumes locais, ou com o gosto dos clientes para depois desenvolver o trabalho. Foi também o que aconteceu com a minha obra mais recente, Cristo Resineiro, inaugurada no dia 19 de novembro deste ano, nas Corgas no Concelho de Proença-aNova, onde utilizei os púcaros da resina dispersos chão dos pinheirais. Com esta escultura mural quis relevar a importância dos elementos materiais e imateriais respeitando a defesa e segurança da aldeia e das pessoas, através das suas memórias e da sustentabilidade da floresta para uma maior gestão ambiental.

Quanto ao trabalho que mais prazer me deu a realizar, confesso que ao longo de mais de 40 anos enquanto ceramista, pintor ou restaurador, poderia enumerar vários, mas vou realçar o Mural “Árvore da Vida” dedicado a todas bordadeiras, porque foi um projeto que apresentei ao presidente da união da minha freguesia, para ser executado na parede da escola da minha infância, com a dimensão de 9X8 mts e ao mesmo tempo homenagear todas as mulheres que dedicaram a sua vida a bordar um dos maiores símbolos, que é o Bordado de Castelo Branco e que elevou Castelo Branco, a Cidade Criativa da UNESCO. O mais difícil ou antes o mais minucioso, são os restauros de Arte Sacra, de azulejos ou telas antigas porque precisam de ser o mais fiel possível ao seu original, e requer uma avaliação muito cuidadosa para não tirar valor à peça após o restauro.
Tanto faço obras por encomenda para entidades ou clientes, como tenho outras que são obras que exponho, como por exemplo, a coleção de mais de 400 máscaras de cerâmicas que têm sido objeto de exposições itinerantes.

Um projeto que gostaria de realizar na cidade de Castelo Branco, é um mural sobre o bordado de castelo branco tal como fiz em Escalos de Cima. Esse projeto já tinha sido discutido e apalavrado para um determinado local, mas devido a eleições e mudança de executivo, não chegou a concretizar-se.
A todos aqueles que querem fazer da arte, o seu modo de vida, as palavras que quero deixar é que não desistam perante as dificuldades de reconhecimento, trabalhem muito, visitem exposições, museus e viagem por outras culturas e aprendam a respeitar todas as tendências, mas não se deixem influenciar por quem não respeita o trabalho de outros artistas. Lembrem-se sempre que a Arte é muito subjetiva e o que para uns é uma obra de arte, para outros pode não ter qualquer valor.
