Sementes de guerra, União Europeia, Humanidade

 Sementes de guerra, União Europeia, Humanidade
Padre Aires Gameiro

Em conversas casuais perguntei a diversos conhecidos que fariam para acabar com a guerra Rússia-Ucrânia e o resultado não é brilhante. Todos, diziam, deveriam unir-se contra a Rússia para a derrotar; lançar bombas atómicas e arrasar aquele país. Os países da Europa e da América todos juntos devem lançar-se contra a Rússia que causou a guerra; timidamente, também alguém propôs que se devia rezar pela paz. Observei aos primeiros que assim continuava a guerra. Afinal, como inventar mudanças de paz em vez de usar modelos de conflito e luta? A situação de guerra impele a refletir. Será que as democracias funcionam para confronto divisivo e agressivo ou para a cooperação e coesão criativa do bem de todos? São menos agressivas que as ditaduras, mas não serão, por vezes, também escolas de lutas entre povos e em guerras?

 As lutas desgastam, guerreiam e destroem; não favorecem a paz. Só os modelos que empreendem alguma forma de acordo e cooperação. A vida é uma tele-finalidade de unir elementos dispersos para os coordenar e harmonizar. Até os astros e minerais se harmonizam. Nos vegetais e animais harmonia é vida. É união, não separação e destruição. A maior força destrutiva é a fissão ou cisão nuclear. Tudo fragmenta, divide, destrói e mata. Na guerra da Ucrânia, a ameaça com armas nucleares é dupla loucura diabólica, guerra a dobrar.

 Há uma pequena semelhança entre o nuclear e as lutas pelo poder para mudar e destruir. Quando se pensa nas democracias à base de partidos antagónicos que se guerreiam em lutas fraturantes, divisivas para interesses só de alguns, não são apenas sistema menos mau; são guerra contra alguém, não cooperação no bem comum dos cidadãos. Algumas tentativas e propostas de paz nesta guerra, contrariam as intenções por cavar fossos de mais divisão, ódio e guerra para muitos anos entre países e blocos.

 As guerras dos séculos XVII-XX sucederam-se em cadeias de novas guerras. Umas semearam as outras. As sementes venenosas de ódios de umas fabricaram as seguintes. A Revolução Francesa, o Terror, as guerras napoleónicas, semearam rancores para a guerra franco-prussiana; foram rastilho para a I Grande Guerra Mundial, para o nazismo de Weimar, revolução marxista (1917), estalinismo, II Grande Guerra Mundial. Entre umas e outras, houve mais rastilhos: manifesto comunista, guerra civil espanhola, inferno estalinista dos gulags, inferno de campos de morte nazis, genocídio ucraniano, hecatombes maoístas, polpotistas e dezenas de outras guerras ideológicas. E a NATO, não tem semeado outras sementes?  

Lutas e guerras, repete-se, são para enriquecer, roubar, ser os maiores, dominar e humilhar. Ora domina a direita liberal contra a esquerda revolucionária; e noutro turno domina a ditadura de esquerda; ora guerreia e mata uma, ora mata, a outra, a cada momento a parte mais forte contra a parte mais fraca. Chamar direita ou esquerda não muda muito: os extremos tocam-se. Um e outro tornam-se em mistos de oligarquias de poder, riqueza, domínio, força, injustiça e corrupção. Na gíria atual são os donos do mundo ou de parte dele, o problema. Uns e outros podem estar no turno dos ricos, poderosos, dominadores, exploradores e corruptos; mas teimam que não; uns e outros, contudo, podem clamar e fingir que os dominam, roubam, exploram e empobrecem. Uns e outros tentam organizar as suas guerras até destruir o inimigo ou falirem cheios de rancor e ódio em rastos de miséria. Logo preparam outra guerra. Uns e outros justificarão a sua luta para defender “os seus valores”, as suas crenças, motivações religiosas de crenças ou de não crenças no Deus único que diz: não matarás. Mas as guerras serão sempre guerras de morte e miséria. 

Exceções? A União Europeia, no início chamada “comunidade”, começou como “fusão de interesses” para melhorar o nível de vida numa Europa mais unida, a que todos (todos) poderiam aderir. Não consta que tenha sido como “uma união contra”, uma luta de uns contra outros. Uniu povos, houve paz. Quando se desunem países, virão guerras. A declaração de Robert Schuman, 1950, precisaria de nova edição de Schumans, Gandhis e Mandelas, de participantes de mentes e cérebros purificados, de irmãos. Ou a corrupção geral e individualista condiciona a favor de guerras semeadas? Precisa-se união no bem de todos.

A Ucrânia e suas cidades destruídas por milhares de bombas pode comparar-se a Hiroxima e a Nagasáqui destruídas pelas bombas atómicas em 1945. Para destruição é demais! Fazer a paz será lançar mais bombas sobre a Europa, sobre a Rússia ou qualquer outro povo? Seria o demónio a expulsar o demónio do seu reino e a deitá-lo por terra. Será este reino do diabo o que se deseja? Felizmente, há milhões (mil e trezentos mil milhões mais uns 700) a rezar diariamente que venha a nós outro Reino de fraternidade, justiça e de Paz. Se alguém quiser pode refrescar a memória em Mt. 6, 7-15. E Nossa Senhora pede oração e promete conversão e tempos de paz e triunfo do seu Imaculado Coração.

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