Pós Páscoa: Semana Santa em Proença.

Com quinze anos de pároco in solidum na Paróquia de Proença-a-Nova, este ano foi a primeira vez que vivi Semana Santa nesta paróquia. Foram dias intensos, espiritualmente falando.
Devido às atividades juvenis dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, passava as páscoas noutras paróquias da Congregação em consecutivos encontros juvenis. Este ano foi diferente. Gostei.
Na paróquia de Proença, a celebração do Passos da vida de Jesus ao longo do dia de Sexta-feira Santa ofusca o momento principal da celebração da morte de Jesus que consiste na escuta da Palavra de Deus, na Adoração da Cruz e na Comunhão Eucarística.
Cada aldeia, com a sua cruz, na manhã de Sexta-feira Santa, faz a via-sacra até a Igreja da Misericórdia em Proença. Depois segue-se a procissão do pretório. Somos convidados a meditar nas causas da condenação à morte de Jesus. À tarde, a procissão do encontro: Jesus a caminho do calvário encontra sua mãe e o discípulo amado, João. À noite, celebramos o enterro de Jesus.
Nestes três momentos, encontramos pessoas com diferentes motivações: faz sentido viver este dia de forma intensa acompanhando de forma próxima Jesus; pela tradição; porque é bonito e me emociono… De facto, as razões para nos aproximarmos do sagrado são muitas e distintas, assim como os caminhos que Deus tem para cada um.
Como estou habituado a viver o essencial da Sexta-feira Santa, senti falta das pessoas que não entraram na Igreja Matriz para celebrar a morte do Senhor, o principal do dia, e que só vieram para a tradição. Se as encenações da paixão de Jesus nos sensibilizam para a crueldade do acontecimento, para o espírito de entrega de Jesus, para a manifestação do amor de Deus, para a injustiça e o pecado do ser humano… A celebração da palavra, adoração da cruz e a comunhão são o que nos levam ao cerne, à intimidade e sentido mais profundo da morte de Jesus na Cruz.
Mas os tempos estão mudados. Se no passado o Tríduo Pascal dinamizava de forma plena a vida dos proencenses, hoje não acontece assim. Quinta, sexta e sábado houve atividades desportivas em Proença-a-Nova. Às 18h00 de Sexta-feira Santa jogou o Benfica – Porto na televisão. O fenómeno a fé já não é tão totalizante como foi no passado. Se por um lado revela um sociedade mais plural e a diferentes ritmos e sensibilidades, por outro, para os cristãos acabam por se dispersar do essencial. O Tríduo Pascal é um tempo forte de oração, de silêncio, de meditação e acabamos por nos sentir dispersos por tantas solicitações.

Todavia, na quinta e sábado santos, vi em Proença-a-Nova o núcleo da comunidade cristã: sentados à mesa para a Eucaristia e para receber a missão do serviço; a partir do lume no e da água batismal celebrar a Ressurreição do Senhor. O desafio continua a ser o da integração das aldeias nestas celebrações. A máxima do reverendo Monsenhor Alfredo Dias de que estas celebrações são só para os da “Vila” continua no seu esplendor.
Neste Pós Páscoa, releio a Semana Santa de Proença com diferentes matizes: bem organizada pela Paróquia, pela Irmandade da Misericórdia e pelas autoridades civis; com forte apelo à dispersão; participação de muitos e vivencia transformadora na fé de poucos.
Deixemo-nos transformar pelo amor de Deus revelado na Cruz de Jesus.
Santa Páscoa.