Pedir perdão?!


Num mundo ideal não haveria necessidade de ninguém se desculpar por nada. Acontece que o mundo está longe do ideal, e por isso não há como viver sem o processo do perdão.
Uma das conclusões mais claras dos antropólogos é que todas as pessoas possuem um senso de moralidade: algumas coisas são certas; outras, erradas. As pessoas são, sem sombra de dúvida, morais. Na Psicologia, isso costuma ser chamado de “consciência”. Na Teologia, pode ser uma referência ao “senso de dever moral” ou à marca divina impressa em todos os seres humanos.
É certo que os padrões que norteiam a consciência na hora de condenar ou afirmar alguma coisa são influenciados pela cultura. Embora o padrão do que seja lícito compreenda algumas diferenças entre uma cultura e outra (ou, em alguns casos, dentro da mesma cultura), toda a gente possui esse senso do certo e do errado. Quando uma pessoa acha que outra ultrapassou esse limite, fica com raiva, zanga-se, sentindo-se ofendida, ressentida e magoada com quem traiu a sua confiança. A atitude que gerou o conflito torna-se uma barreira entre as duas pessoas, e o relacionamento sofre uma rutura. Mesmo que se esforcem para agir como se nada errado tivesse acontecido, elas ficam impedidas de conviver bem. Algo no interior da pessoa ofendida exige justiça. Essa realidade da natureza humana é a base de todos os sistemas judiciais.
Embora a justiça possa proporcionar alguma satisfação à parte ofendida, não tem a capacidade de restabelecer relacionamentos. A humanidade tem uma capacidade impressionante de perdoar. Algo em nós faz um apelo à reconciliação quando um erro compromete o relacionamento. O desejo de se reconciliar é geralmente mais poderoso que o anseio por justiça. Quanto mais íntimo for o relacionamento, mais profundo será o desejo de reconciliação. Quando o marido trata a esposa de maneira injusta, o coração dessa mulher, mesmo magoado e ofendido, divide-se entre a aspiração por justiça e o desejo de perdoar. Ela quer que ele pague pelo erro que cometeu, mas também anseia pela reconciliação. Só um pedido de perdão sincero da parte do marido pode tornar a verdadeira reconciliação possível. Se ele não toma a iniciativa, o senso de moralidade da mulher leva-a a exigir justiça. E vice-versa.
Assim, um pedido de perdão autentico abre a porta à possibilidade do perdão e da reconciliação, permitindo continuar a construir a vida relacional.