Opinião: E tudo o fogo levou


Presidente da Distrital
do PSD Castelo Branco
luis.santos@psdcastelobranco
Nos últimos dias, o terrível monstro chamado fogo, voltou a invadir as fronteiras do concelho de Proença-a-Nova. Fazendo um caminho que nunca tinha feito, destruiu o trabalho de muitos proencenses, tirou-lhes a riqueza florestal que tinham criado ao longo da sua vida. Apanhou-nos desprevenidos como raramente o tinha feito. A segurança da abordagem de um território que nunca tinha ardido, desapareceu. Se entrou por ali, pode entrar mesmo em todo o lado. O pulmão da Beira Baixa desapareceu em três dias de terror, tal a voracidade com que vinha.
Não escrevo estas palavras com o fato de Presidente da Distrital do PSD Castelo Branco vestido, mas sim, com a pele de cidadão com a sua morada no Concelho de Proença-a-Nova, na localidade das Moitas, freguesia de Proença-a-Nova e Peral. Cidadão que viu com os seus olhos e sentiu o dia-a-dia dos valentes proencenses, lutadores na defesa do seu território, marcados com as cicatrizes de tantos e tantos combates no inferno dos fogos florestais.
Fala alguém que não tem formação na área de combate a fogos florestais, mas está habituado a liderar equipas de homens e mulheres. Com experiência em perceber a fita do tempo, não do combate, mas do pós-incêndio vivido. Que sabe o que aí vem, o chorrilho de promessas governamentais sem efeito prático. Na necessidade de existência de uma voz para relembrar aquilo que não foi visto por Portugal, mais concentrado em estar na frente do televisor a assistir ao maior evento realizado no Portugal Democrático, a Jornada Mundial da Juventude.
Não condeno essa visão, mas o terror vivido no último fim-de-semana merece ser recordado para não voltar a acontecer. A forma como fomos surpreendidos pelo irromper das chamas merece respostas que ainda não apareceram. O assobiar para o lado não se pode sobrepor à necessidade da existência de explicações claras e concretas. Não pode acontecer em Proença-a-Nova, o que aconteceu na Serra da Estrela. O silêncio cúmplice não pode imperar.
Sobretudo, num concelho orgulhoso de ter um Secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas e de ter um Presidente da Câmara, Presidente da Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa a residir nas suas fronteiras.
É incompreensível, a forma como o fogo evoluiu, com as populações completamente apanhadas de surpresa, perante o rápido avançar das chamas. O monstro subiu do Espinho Pequeno, entrando no Espinho Grande e nas Moitas silencioso, mas célere, sem ninguém avisar a população do perigo. Bateu à porta dos mais incautos com uma fome de engolir as habitações e pavilhões agrícolas que ia encontrando no caminho, sem aviso. Foi a população a transmitir a mensagem de aldeia em aldeia, informando que a besta ia a caminho. A chegada dos Bombeiros foi tardia, não por incúria dos comandos e operacionais locais, mas por indecisão de quem comanda do centro de comando de Lisboa. De que adianta ter 1300 operacionais no local, quando eles estão perdidos e posicionados a tentar perceber pelos tablets onde estão? Passaram à minha frente em direção a ruas sem saída e a perguntar os caminhos para iniciar o combate efetivo. O fogo não aguarda as instruções da estrutura de comando burocratizada implementada por este Governo. Como é possível, na única localidade do Pinhal com aeródromo, que os meios aéreos só tenham entrado em ação, a partir das 11 horas da manhã de sábado? Como é possível, conforme se pode ver nas imagens televisivas, o fogo invadir o perímetro urbano das localidades em volta da Serra das Talhadas e não existirem colunas de bombeiros posicionadas para o respetivo combate? Como é possível, grande parte dos reacendimentos terem sido apagados pelos valentes locais com os seus depósitos, sem apoio dos 1300 bombeiros destacados? Onde estavam os elementos das entidades que deveriam informar as populações, no momento, sobre o desenrolar dos acontecimentos, impedindo o pânico a que assisti? Se tem dúvidas, acerca do que se passou, acompanhem o relato televisivo, as fotografias ou os vídeos informais das redes sociais publicados por quem viveu de perto, a catástrofe.
Politicamente, não pretendo encontrar culpados. Neste momento, isso não interessa absolutamente nada. Não irá trazer os 7 milhões de euros perdidos pelo Concelho neste incêndio, não irá apagar as memórias do terror vividas durantes estes três dias, não eliminará o cheiro a queimado entranhado no ar, nem trará de volta as casas queimadas. O que interessa é prevenir o futuro. E esse não pode acontecer num clima de suspeita permanente, de burocracia na tomada de decisão, de empurrar responsabilidades.
E de promessas vãs e nunca cumpridas. Os apoios terão de vir depressa e bem. Direcionados para quem mais precisa, com a transparência necessária e o escrutínio devido. Sem hesitações, nem meias palavras. A reflexão terá de ser feita, no planeamento rural e urbano, na forma de combater os chamados “incêndios de sexta geração”, na rede de comunicação entre localidades, em melhorar o plano municipal de proteção civil. Rapidamente, teremos de abordar um plano de reflorestamento intensivo com parceiros e associações florestais. Trazer especialistas, ouvi-los e operacionalizar as melhores soluções.
Aproveitar o capital de influência político existente no Concelho de Proença-a-Nova.
Nada poderá ficar como dantes, sob pena de jamais ficar igual ao que estava.
O tempo das promessas terminou. Este é o tempo da ação, da união. O PSD está, como sempre esteve, disponível para construir.