Opinião: Dignitas Infinita

Imagem central do retábulo da Capela do Espírito Santo em Lamego
Saídos de duas semanas de revigoramento espiritual, a Semana Santa e Semana da Páscoa, confronto-me com esta questão da Dignidade Humana.
No dia 7 de abril, foi notícia que a associação suiça “Dignitas” já ajudou 11 portugueses a cometer suicídio assistido e que dos 13775 sócios, potenciais candidatos a este procedimento, 39 são portugueses.
No dia 25 de março, o Dicatério para a Doutrina da Fé (Vaticano), publicou um documento “Dignitas Infinita” reafirmando o sentido antropológico cristãos da dignidade humana em todos os momentos da vida humana: desde a conceção até ressurreição.
No dia 12 de março, a Procuradora de Justiça juntava, aos pedidos dos partidos ditos “à direita”, um pedido de inconstitucionalidade da lei da morte medicamente assistida no Tribunal Constitucional.
De facto, quantas leituras diferentes se fazem da pessoa humana!!!?
Encontrei, durante a quaresma, no retábulo da Capela do Espírito Santo em Lamego, a imagem antropomórfica do Pai Eterno ou da Santíssima Trindade: Deus Pai está sentado e têm no seu colo Jesus morto; o Espírito Santo está representado na pomba; o Pai de braços abertos exprime a dor e o desconcerto pelo que tinha feito a Jesus. Ao contemplar este quadro, procurei entender que face ao sofrimento, à dor e à morte, só o AMOR pode curar e fazer viver.
Esta é a verdadeira dignidade: AMOR. A dignidade que Deus nos confere é restaurativa dos efeitos do mal que há em nós e praticado por nós. Jesus morto ressuscita no AMOR de Deus.
Esta é a verdadeira dignidade humana para nós: amar e ser amado. O amor cuida e não abandona. O amor deixa-se cuidar e é agradecido pelo dom da vida recebido e aos cuidadores. Ela é um dos elos do ADN que nos faz ser pessoas.
Na minha linha cronológica pessoal, na qual posso contar largos dias de acamado no hospital, a questão do sem-sentido da vida, da eutanásia, também se me colocou em várias manhãs nubladas pelo sentimento de ser um inútil, pelas tardes sem esperança e pelas noites brancas das dores… Porém, foi nos que me cuidaram com amor (in)finito que reconfigurei o sentido da vida, encontrei esperança, utilidade e AMOR.
Encontrei, dentro e fora do aclamado SNS, pessoas boas que me resgataram, caso contrário, seriam mais um no colo do Pai Eterno para receber o resgate final.
A Páscoa de Jesus é uma inspiração para vivermos com dignidade muito além das antropologias, das politiquices, e dos SNS’s que, como as pessoas, constantemente precisa de ser salvo. Contudo, reconheço que a técnica, o conhecimento e, acima de tudo, as pessoas que trabalham nele (SNS) são causa para que outros vivam com dignidade até ao desaparecimento biológico deste mundo.
A dignidade é a imagem e semelhança de Deus que cada pessoa carrega alicerçada no amor criacional, presencial e que um dia nos ressuscitará.